-->

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Incredulidade dos nazarenos Lc 4, 23,24

23 Então disse-lhes: “Sem dúvida que vós Me aplicareis este provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. Todas aquelas grandes coisas que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, fá-las também aqui na tua terra”.
Jesus resume os sentimentos dos judeus presentes na sinagoga num provérbio muito comum daqueles tempos, até mesmo entre gregos e romanos. Era aplicado a todos quantos se empenhavam em dar aos outros os remédios de que eles mesmos necessitavam. Essa impostação de espírito, como comenta Maldonado, tinha suas raízes na falta de fé e na ambição. Não acreditavam no poder de Jesus quanto aos milagres e, ao mesmo tempo, desejavam que sua cidade tivesse mais glória que as outras. Ora, sabemos pelos Evangelhos a fundamental importância da virtude da Fé para a realização de milagres, como explica-nos São Mateus: “E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles” (13, 58). Daí o fato de o Divino Mestre ter interpretado o fundo do pensamento deles através desse provérbio popular, como se dissessem: “Ouvimos dizer que, em Cafarnaum, curaste muitos; cura-Te também a Ti mesmo, quer dizer, faz isto igualmente em tua cidade, onde foste concebido e criado” (10).
A esse dito satírico, Jesus lhes responde com outro:
24 Depois acrescentou: “Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua terra”.
Diz-se em latim: assueta vilescunt. E, de fato, onde não impera o amor a Deus, a familiaridade redunda, quase sempre, em desprezo. “Por isso, quem viveu na intimidade de outro, embora seja este um grande profeta, é em geral menos idôneo e está menos disposto a reconhecer suas qualidades. Jeremias o experimentou à sua custa (cf. Jr 11, 21; 12, 6)” (11).
“Se não tiver caridade…”
Magistralmente aqui se insere o mais célebre dos hinos sobre a caridade, recortado pela Liturgia de hoje, à guisa de segunda leitura (1 Cor 13, 1-13): “Se eu não tivesse a caridade”, repete São Paulo três vezes nesse texto, proclamando que, sem ela, de nada lhe serviriam todas as ciências e virtudes. O verdadeiro amor “não busca os seus próprios interesses (...) tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
O fundo da ambição dos nazarenos estava enraizado num amor profundamente egoísta, muito bem explicado pelo famoso Pe. Badet:
“Não há caridade perfeita sem abnegação perfeita. Não há puro amor sem a completa ausência de todo pensamento pessoal. Quem se procura a si mesmo, peca contra o amor. Todo voltar-se sobre si mesmo é um ato egoísta e, em consequência, contrário à essência desse sentimento, que é o de se esquecer, de sumir, de desaparecer a seus próprios olhos, enquanto o objeto de seu amor torna-se tudo. Quem ama perfeitamente não faz exigências, não formula desejos, não coloca condição alguma, não pede nenhum favor. Se alguma vontade resta na alma que se desapropriou de si mesma, é a de se conformar em tudo à vontade do Bem-Amado. Ela O faz mestre de tudo, e seu abandono é absoluto, alegre. Eis sua recompensa: a alma que ama a Deus com essa pureza, ocupa o primeiro lugar em seu reino, porque ela é a última para si mesma. (...) Quanto mais ela se faz pequena, mais Deus a faz grande; quanto menos ela pensa em seus próprios interesses, mais Deus a provê magnificamente. Se ela se esquecer de si no amor, o Bem-Amado não a esquecerá!” (12).

Nenhum comentário: