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segunda-feira, 5 de março de 2012

AMOR A TODA PROVA


O encontro com uma pobre mulher da Samaria prefigura o amor de Jesus por todos nós. Fatigado pelo calor do caminho, o Redentor necessita de água. Mas sua sede de converter aquela alma é incomparavelmente maior.

Os judeus doutos e os discípulos de São João

Logo após o Batismo de Jesus, surgem os primeiros discípulos. Formados na escola do Precursor, estavam à espera do Messias e por isso seguem-nO de imediato. Fica bem descrito no começo do Evangelho de São João o convívio de Jesus com a comunidade eleita pelo Batista, orientada na fé, esperança e amor. A narração dos atos iniciais da primeira fase da vida pública do Salvador culmina com o episódio das Bodas de Caná e o da expulsão dos vendilhões do Templo.

Depois de falar dos discípulos, o Evangelista focaliza outra categoria de pessoas pertencentes à comunidade judaica: certos anciãos, os quais, apesar de crerem em Nosso Senhor, não ousavam declará-lo publicamente, por extremo respeito humano. Nicodemos, que os representava, ao se aproximar de Jesus, afirma: “Sabemos que foste enviado por Deus como Mestre” (Jo 3, 2). Ele diz: “sabemos”, e não confessa crer na divindade de Jesus. Vê-se que, aplicando a inteligência e apoiando-se em dados culturais, chegara à sua conclusão por puro raciocínio desprovido de fé. É um típico representante da corrente dos homens doutos instruídos na ciência farisaica.

O contraste entre o filão dos discípulos do Batista e o dos anciãos auxilia a melhor compreender — pela semelhança com um e a diferença com o outro — a figura da samaritana, contemplada na Liturgia de hoje.

Samaria, um país paganizado

Essa região da Palestina central tem ao sul a Judéia e ao norte a Galiléia.

A Escritura nos relata como se deu a separação entre samaritanos e judeus. No ano 721 a.C., o rei assírio conquistou a Samaria, deportou seus habitantes e mandou vir gente de Babilônia e outras cidades para ocupá-la. Mas como os novos ocupantes não prestavam culto ao Senhor, quando começaram a habitar ali, Deus mandou contra eles leões que os devoravam. Ordenou então o soberano assírio: “Mandai para lá um dos sacerdotes que deportastes, a fim de que ele ensine (ao povo) a maneira de servir o deus da região” (II Reg 17, 27)

Foi, pois, instalar-se lá um dos sacerdotes israelitas deportados, e ensinava àqueles pagãos como deviam adorar o Senhor. Apesar disso, “cada nação conservou o seu próprio deus, que colocou nos santuários dos lugares altos estabelecidos pelos samaritanos; cada povo colocou os seus deuses no lugar em que habitava” (idem, v. 29).

Ao retornarem os israelitas à Samaria, após o cativeiro, deixaram-se corromper pela idolatria daqueles povos. Romperam dessa forma o pacto da Aliança que obrigava a exclusão de todo e qualquer culto idolátrico. Entretanto, mantiveram-se monoteístas, gloriavam-se de serem filhos de Abraão e, quanto às Escrituras, admitiam somente o Pentateuco.

Por esses motivos, a Samaria era tratada pelos israelitas como um país pagão. O ódio mútuo chegou a tal grau que constituía grande risco para um judeu (ou um galileu) atravessar aquele território. Preferiam passar ao largo, dando volta pela Peréia, como o fez o Divino Mestre em sua última viagem a Jerusalém, ao ter-Lhe sido negada hospedagem (1).

Qualquer judeu que se visse na contingência de entrar em contato com um samaritano era considerado legalmente impuro. Não lhe era permitido sequer servir-se de pão ou de vinho desse povo sem manchar-se, segundo as prescrições da Lei. Por sua vez, os samaritanos tinham os israelitas por rivais e inimigos.

O amor de Jesus pelas almas humildes

Antes de entrarmos a considerar o Evangelho de hoje, façamos uma comparação entre o procedimento de Jesus com Nicodemos e com a samaritana.

Devido ao respeito humano, Nicodemos escolhe as sombras camuflantes da noite para visitar o Mestre. A iniciativa da procura é dele.

Bem ao inverso, no caso da samaritana, apesar do cansaço produzido pela longa caminhada por acidentado terreno — uns trinta quilômetros de distância — Jesus vai em busca da ovelha desgarrada, em pleno meio-dia e sob forte calor. Ademais, dispõe as circunstâncias para poder permanecer a sós, a fim de, ao aproximar-se dela, ter oportunidade de desenvolver seu apostolado. Transparece claramente nos detalhes desse acontecimento o delicado carinho que Jesus tem pelas almas humildes e despretensiosas.

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