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terça-feira, 6 de março de 2012

A samaritana - Evangelho Jo 4, 6-15


Estava lá o poço de Jacob.

O Livro do Gênesis nos relata alguns poços mandados escavar por Jacob (Gen, 26, 18-32). Acostumados nós, hoje, com a água encanada, não fazemos ideia da fundamental importância de uma fonte, ou de um poço, no Oriente daqueles tempos. Este em concreto, havia sido escavado certamente com o fim de evitar a contaminação com as águas dos vizinhos cananeus, pois nas cercanias havia algumas generosas fontes.

Fatigado da viagem, Jesus sentou-se à borda do poço.

Naquelas terras é causticante o calor do verão. Procurava-se caminhar fora dos horários ensolarados a fim de evitar a exaustão. Nesta passagem do Evangelho, vemos Jesus se comportar, em sua humanidade, como qualquer pessoa que sente as agruras do mormaço dessa estação do ano.

Isto nos leva a uma interessante consideração sobre o paradoxo da união de duas naturezas na Pessoa de Jesus: uma criada e outra divina. Em particular, a propósito desse episódio com a samaritana, os autores clássicos se comprazem Viva é a água que jorra da fonte, sempre em tecer os mais variados comais apreciada do que a retirada do poço mentários. São João, que escreveu seu Evangelho para ressaltar a substância divina do Salvador, neste trecho demonstra empenho em relatar o lado humano d’Ele. Um dos Padres da Igreja que, com vôo de águia, tratou belamente do assunto foi Santo Agostinho:

“Não é em vão que se fatiga a Virtude de Deus. Não é em vão que se fatiga Aquele por quem os fatigados retomam as forças. Não é em vão que se fatiga Aquele cuja ausência nos causa fadiga, e cuja presença nos conforta. (...)

“Jesus é forte e é fraco. Forte porque ‘no princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus; este no princípio estava em Deus’ (Jo 1, 1) “Quereis ver quão forte era o Filho de Deus? ‘Todas as coisas foram feitas por ele, e nada do que foi feito, foi feito sem ele’ (Jo 1, 3).

E tudo foi feito sem trabalho. Que haverá de mais forte do que Aquele pelo qual todas as coisas foram feitas sem trabalho algum?

“Quereis ver Jesus reduzido à fraqueza? ‘O Verbo fez-se carne e habitou entre nós’ (Jo 1, 14).

“A força de Cristo deu-nos a vida, e a fraqueza de Cristo deu-nos uma nova vida. A força de Cristo fez existir o que não existia; a fraqueza de Cristo fez que não perecesse o que existia. Criou-nos pela sua força e salvou-nos pela sua fraqueza” (2).




2)2O Verbo de Deus, Gráfica de Coimbra, 1954, pp. 388-389.

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