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quinta-feira, 29 de março de 2012

“Deus é amor”

Um insuperável clímax de plenitude de amor atinge o Sagrado Coração de Jesus naquelas últimas horas de convívio com os Seus. Transcorrem ali, naquele histórico recinto, os momentos finais de Sua vida terrena. São os derradeiros episódios que constituem o grande pórtico dos sagrados mistérios da Redenção prestes a realizarem-se. Os inimigos se agitam e se entre-estimulam a perpetrar o mais grave homicídio de todos os tempos. Encontram-se eles na dependência de um guia possuído por Satanás, aguardando o momento propício para agarrar o Messias e conduzi-Lo aos tormentos da Cruz. Não há minuto a perder, é indispensável o Salvador externar ao Pai e aos discípulos o transbordante amor a borbulhar no interior de Seu Sagrado Peito.

As primeiras manifestações desse amor já haviam se dado na própria obra da Criação. Desfrutando de perfeita felicidade em Si mesmo, desde toda a eternidade, não necessitava Deus de nenhum ser que O completasse. Entretanto, por amor, quis Ele comunicar Suas infinitas perfeições às criaturas, de maneira que estas Lhe rendessem a glória extrínseca. Com especial benevolência, concebeu os Anjos e os homens à Sua imagem, destinando-os a participar da vida e da natureza divinas, pela Graça. E eles, seres racionais, encontram sua felicidade em glorificar seu Criador, pois “o mundo foi criado para a Glória de Deus”.

A Criação foi, portanto, o início ad extra da demonstração de Seu amor divino. “Se Deus produziu as criaturas — afirma São Tomás — não é porque delas necessite, nem por nenhuma outra causa exterior, mas por amor de sua bondade”. E Royo Marín, citando Chaine, acrescenta: “O amor é o atributo que melhor nos dá a conhecer a natureza de Deus [...]. É de tal maneira representativo, que São João não o considera como atributo, mas como a expressão da própria natureza de Deus”.

Deus caritas est (I Jo 4, 16), e “na história de amor que a Bíblia nos narra — ensina Bento XVI na encíclica assim intitulada — Ele vem ao nosso encontro, procura atrair-nos, chegando até a Última Ceia, até o Coração trespassado na Cruz, até as aparições do Ressuscitado e as grandes obras pelas quais Ele, através da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente”.

Eis algumas considerações que nos levam a ver no Cenáculo, um símbolo e lição da perfeita Caridade. Na Antiga Lei, o amor não era universal. Limitava-se ao benfeitor, ao amigo, ao conacional. Ademais, a medida do amor era, então, o empregado a nós mesmos. A partir de Cristo, trata-se de um mandamento novo, tal qual encontramos na aclamação do Evangelho de hoje: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos tenho amado” (Jo 15, 12).


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