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sexta-feira, 9 de março de 2012

Jesus e a samaritana Jo 4, 13-15

13Jesus respondeu: “Todo aquele que bebe desta água tornará a ter sede, 14 mas aquele que beber da água que Eu lhe der, jamais terá sede; a água que Eu lhe der virá a ser nele uma fonte de vida eterna.”

Deus criou o homem com sede de infinito. Nossa alma só repousa em Deus, pois Ele é nosso fim último, e nada fora d’Ele nos satisfaz plenamente.

A Sagrada Escritura nos diz: “A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir” (Ecl 1, 8). É esse um fato realíssimo a se repetir em nós, e em torno de nós, a todo momento: nenhuma criatura nos fornece a ilimitada felicidade que buscamos. E ali, no próprio poço de Jacob, estava o símbolo das paixões humanas, segundo comenta Santo Agostinho. Um prazer que não seja de Deus, por mais que produza gozo, terminará por apenas causar tédio e decepção. Mas a alma, tornando-se escrava dele, o procurará outras vezes, nas suas mais variadas formas. A água do poço é simbólica de nossas inclinações, sempre nos atrairão a retornar a elas.

Sem desprezar em nada a memória de Jacob — até, pelo contrário, respeitando-a muito — Jesus oferece à samaritana uma água extraordinariamente superior àquela do Patriarca. Mais ainda, Ele promete “uma fonte de vida eterna”.

15A mulher disse-Lhe: “Senhor, dá-me dessa água, para eu não ter mais sede, nem ter de vir aqui tirá-la.”

Com a fé mais robustecida, ela crê no poder de Deus em criar uma água capaz de eliminar definitivamente a sede e, em consequência, de dispensá-la do trabalho de retirar daquele poço a água de todos os dias. De si, já seria uma maravilha criar essa água, mas Jesus lhe fala de um prodígio incomparavelmente maior: o das águas da graça.

“O bem da graça de um só indivíduo supera e está por cima do bem natural de todo o universo”, afirma São Tomás de Aquino (4).

Santo Agostinho glosa este versículo 15, mostrando que há somente uma água capaz de extinguir a sede por completo, por fazer brotar no nosso interior uma fonte permanente, que jorrará até o feliz dia de nossa entrada para a eternidade (5).

Se pedíssemos a Jesus, tal qual a samaritana o fez: “Eu Vos rogo, Senhor, dai-me dessa água”, Ele nos responderia: “Se alguém tiver sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva. Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem n’Ele” (Jo 7, 37-39). Entretanto, num primeiro momento, ela ainda não alcança o verdadeiro sentido das palavras de Nosso Senhor. A essa mulher se aplica o que diz São Paulo: “O homem animal não percebe as coisas do Espírito de Deus” ( I Cor 2, 14).

Apesar disso, o Salvador não desiste. Pelo contrário, continuará a trabalhar a alma dela com zelo divino. Quem O visse conversando com a samaritana, sentado à beira do poço, jamais poderia imaginar não só o teor da conversa, como também o amor manifestado por Ele em relação àquela pobre ovelha desgarrada.

Neste ponto do diálogo termina o trecho escolhido pela Liturgia de hoje. Nos versículos seguintes as maravilhas narradas são ainda maiores; Jesus lhe revela ser o Messias, depois de mostrar-lhe que conhecia sua má vida matrimonial. Transformada pela graça do Redentor, ela assume a função de verdadeira apóstola junto a todos os seus conhecidos.

Esse belíssimo episódio nos faz compreender melhor as palavras de São Paulo, que a Liturgia também hoje seleciona para a Segunda Leitura: “Dificilmente há quem morra por um justo, ainda que alguém se anime a morrer por um homem de bem. Mas Deus faz brilhar seu amor para conosco, porque, ainda quando éramos pecadores, Cristo morreu por nós” (Rm 5, 7-8).



4)   4Suma Teológica, I-II, 113, 9 ad 2
5)   5Cfr. De diversis c. 62 – PL 37, 53

Continua

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