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quinta-feira, 1 de março de 2012

Transfiguração (Mt 17, 1-9)

Seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os à parte a um monte alto [...]

São Lucas fala em oito dias. Será mais fácil compreender quão aparente é essa discrepância se levarmos em conta que um evangelista considera o dia de saída e o de chegada, enquanto Mateus só se refere aos intermediários, como nos explica São Jerônimo7. O “depois” toma como referência a cena da confissão e primado de Pedro, na Cesaréia.

Dali partem rumo ao Monte Tabor que dista aproximadamente 80 km, situado nos confins da Galiléia e da Samaria. O Divino Mestre se comprazia com o alto das montanhas, e ali procurava prodigalizar Seus grandes mistérios.

Nesse caso concreto, escolheu o Tabor talvez para simbolizar a necessidade de elevarmos nossos corações sobre as coisas deste mundo e, em consequência, mais facilmente nos entregarmos à meditação das verdades eternas e delas tirarmos todo proveito, conforme as palavras de São Remígio: “Com isto o Senhor nos ensina que é necessário, para quem deseja contemplar a Deus, não se deixar atolar nos baixos prazeres, mas elevar a alma para as coisas celestiais, por meio do amor às realidades superiores. Ensina ainda a Seus discípulos que não devem procurar a glória de sua beatitude divina nas regiões inferiores do mundo, mas sim no reino da beatitude celestial. E são levados separadamente porque todos os santos estão apartados, com toda a sua alma e pela direcção da fé, de qualquer mancha, e serão radicalmente separados nos tempos vindouros; ou também porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos” 8.

Os comentários se multiplicam a propósito da razão de ter Jesus escolhido esses três Apóstolos para gozarem do convívio glorioso do Senhor. Um motivo claro e imediato salta logo aos olhos: estes veriam mais de perto as humilhações pelas quais passaria o Salvador. Como também era fundamental haver algumas testemunhas da glória de Jesus para sustentarem, na prova da Paixão, os Apóstolos em suas tentações.

Apartar-se das criaturas é condição indispensável para entrar em contato com Deus e, mais ainda, para vê-Lo.

E transfigurou-Se diante deles. O Seu rosto ficou refulgente como o Sol, e as Suas vestes tornaram-se luminosas de brancas que estavam.

No que terá consistido essa transfiguração? Evidentemente, não viram os Apóstolos a divindade do Verbo de Deus, inacessível aos olhos corporais. Viam apenas uma fímbria dos fulgores da verdadeira glória da humanidade sagrada de Jesus. Provavelmente, nada mais do que o dom da claridade da qual gozam os corpos gloriosos.

Tenhamos presente o quanto o Salvador tinha preferência pela noite para rezar e por isso esse marcante acontecimento deve ter-se dado após o entardecer, em meio aos silêncios da natureza, pois também assim Ele Se manifesta a nósnquando fazemos calar, em nosso interior, o bulício das criaturas e buscamos as luzes do alto depois de termos apagado as de aqui debaixo.

“O seu rosto resplandecia como um Sol” (Ap 1, 16), ou seja, raios de luz partiam de Sua Sagrada Face e se espalhavam a boa distância. Sem deixar de ser a mesma fisionomia, nada mais possuído de conotações terrenas, tornou-se radiante de brilho e esplendor, com plena vitalidade e doçura. Bem podemos imaginar Sua grandeza ao vir julgar os vivos e os mortos no fim dos tempos, uma vez que Seu rosto será ainda muitíssimo mais brilhante nessa ocasião.


Continua...

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