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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Evangelho 4º Domingo da Páscoa ano B Jo 10, 11-18

Continuação Domingo Bom Pastor
As circunstâncias: a cura do cego de nascença
Essas palavras se prendem a um episódio antecedente, denso de emocionante carga simbólica. Inicia-se ao incidir o olhar de Jesus sobre um cego de nascimento. Era comum julgarem os judeus haver uma relação entre as enfermidades e os pecados cometidos pelo doente, ou por seus parentes. Por isso perguntaram os discípulos ao Senhor: “Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9, 2). A resposta firme de Jesus e o desenrolar dos acontecimentos subseqüentes deitarão luz para melhor entendermos o Evangelho de hoje: “Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus” (Jo 9, 3). Tendo feito essa profética afirmação, tomou a iniciativa de curar o cego.
Como não podia deixar de ser, o portentoso milagre causou comoção entre todos os conhecidos do miraculado, levando-os a desejarem encontrar “aquele homem que se chama Jesus” (Jo 9, 11).
O burburinho popular cresceu a ponto de conduzirem o beneficiado diante dos fariseus. Narrado o ocorrido, constatou-se ter sido realizada a cura em dia de sábado. Isto configurava um grande crime, condenado pelos fariseus. Um violador da lei do sábado — portanto, um pecador — não podia ser de Deus! Eis, finalmente, encontrada uma grave acusação contra aquele Homem que tanto os perturbava. Todavia, esta conclusão entrava em choque frontal com uma pergunta levantada por outros fariseus: como explicar que um tal prodígio pudesse ser praticado por um pecador?
Em meio à dissensão perplexitante, a esperança de acharem uma saída fez os maus se voltarem para o próprio ex-cego. Quiçá pudesse este dizer algo que desabonasse inteiramente Jesus. Entretanto, iludiam-se por completo. Aquela era uma ovelha que conhecia a voz de seu Pastor, e assim não se deixava enganar pelos ladrões e salteadores. Convicto, afirmou ser Nosso Senhor um profeta. Embaraçados, os inquiridores resolveram interrogar os pais daquele homem, na esperança de provarem ter tido sempre vistas normais. Afinal, desqualificar a testemunha é uma saída bem conhecida daqueles que se encontram em apuros. Contudo, mais uma vez não conseguiram seu intento, pois o casal confirmou ser seu filho cego de nascença, e sabiamente evitou quaisquer outros comentários sobre o acontecido: “[Eles] temiam os judeus, pois os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga todo aquele que reconhecesse Jesus como o Cristo. Por isso é que seus pais responderam: Ele tem idade, perguntai-lho” (Jo 9, 22-23).
O interrogatório final, em um ambiente de ansiedade e fraude, acabou despertando indignação dos fariseus, por esbarrarem na robustez de fé e honestidade do ex-cego. Havendo eles declarado não saberem de onde era Jesus, “respondeu aquele homem: O que é de admirar em tudo isso é que não saibais de onde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos. Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem lhe presta culto e faz a sua vontade. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se esse homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada. Responderam-lhe eles: Tu nasceste todo em pecado e nos ensinas?... E expulsaram-no” (Jo 9, 30-34).
A Igreja é o redil, cuja porta é Cristo
Após essa injusta conclusão de seu inquérito, não tardou o antigo cego a se reencontrar com Jesus. Este, conhecendo desde toda a eternidade aqueles fatos, perguntou-lhe se acreditava no Filho de Deus. Diante de não poucos curiosos, o tal homem não só afirmou sua crença em Nosso Senhor, mas também prosternou-se diante d’Ele e O adorou.
Essa bela e virtuosa atitude deixou emudecido o público presente. O Divino Mestre aproveitou a ocasião para tirar todo o proveito do episódio, e afirmou: “Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos” (Jo 9, 39).
A partir desse instante, entrando em contenda aberta com os fariseus, Jesus passa a desenvolver a parábola narrada no Evangelho de hoje. Começa por referir-se a um hábito comum, bastante conhecido entre os judeus: o ladrão não entra pela porta do aprisco, mas “sobe por outro lugar” (Jo 10, 1). O pastor, pelo contrário, utiliza-se tão-só dessa porta, fazendo ouvir sua voz pelas ovelhas.
Não havendo os fariseus entendido essa alegoria, o Divino Mestre declarou ser, Ele mesmo, a porta do aprisco.
Comentando com brilho esse trecho do Evangelho, a Constituição Dogmática Lumen Gentium afirma: “A Igreja é o redil, cuja porta única e necessária é Cristo. É o rebanho, do qual o próprio Deus anunciou que seria o Pastor, e cujas ovelhas, embora governadas por pastores humanos, são incessantemente conduzidas às pastagens e alimentadas pelo próprio Cristo, bom Pastor e Príncipe dos pastores, que deu sua vida pelas ovelhas”(LG 6).

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