-->

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Evangelho Solenidade de São João Batista (Lc 1, 57-66.80)

Os comentários de Mons João Clá Dias sobre esta solenidade serão publicados em partes.


Sem honra não há verdadeira glória
O povo de Israel ansiava pela glória mundana e por isso rejeitou João Batista, que veio restaurar a verdadeira honra, a fim de preparar a vinda do Messias.
Honra e glória: conceitos correlatos
Nous avons assez de gloire, Monseigneur, mais venez nous rendre l’honneur” (1). Esta frase com a qual Talleyrand saudou e incentivou o Conde d’Artois, que aguardava indeciso, em Nancy, o momento oportuno de dirigir-se a Paris para a restauração da dinastia dos Bourbons, passados os fulgores napoleônicos, foi aureolada de fama. Com ela se encerrava a carta escrita por ele ao irmão do novo rei da França, enviada através de Vitrolles.
Os seus termos, e as circunstâncias históricas que a cercaram, fazem-nos lembrar a situação psicológica e moral na qual se encontrava o povo judeu ao se deparar com o Precursor, às margens do Jordão.
O povo judeu estava pervadido de glória
As miraculosas intervenções de Deus desde o nascimento da nação eleita tinham-na tornado célebre ao longo dos séculos, destacando-a entre todas as outras. As discussões com o Faraó do Egito e as subseqüentes dez pragas, a travessia do Mar Vermelho, o maná no deserto, as Tábuas da Lei, a tomada de Jericó, os Juízes, os Reis, etc. — essas realidades grandiosas pervadiram de glória os descendentes de Abraão. Tratava-se, entretanto, mais especialmente de uma glória extrínseca, no seguinte sentido: a fama alcançada pelo povo devido às ações do Onipotente estava muito acima da esquálida virtude de seus beneficiados.
Ora, depois de tantos séculos de correspondência, não só insuficiente, mas até defectiva face a tamanha prodigalidade divina, a mentalidade do povo em geral estava deformada. Justamente, esse distorcido mirante, ao mesmo tempo moral e psicológico, constituía uma das razões pelas quais eles esperavam um Messias de cunho marcadamente político, um novo Davi ou quiçá um outro Moisés, adaptado às necessidades daquela época, para lhes conferir a supremacia sobre todas as gentes. Eles queriam a grandeza para satisfazer seus próprios interesses, inclusive financeiros.
Cristo veio trazer a suprema honra
Por outro lado, o Senhor, desde toda a eternidade, lhes reservara uma glória muito superior, inimaginável sequer pelos Anjos: mais do que um Messias, o Cristo, Deus e Homem verdadeiro. Ele Se faria Homem para que os homens se fizessem filhos de Deus, e assim participassem da natureza do absoluto e eterno Senhor. Ou seja, além da glória extrínseca, da qual já gozavam em superabundância, receberiam uma incomensurável honra.
É de nosso conhecimento que para o ser humano alcançar verdadeira honra, é indispensável ele atingir a plenitude da realização de todas as suas qualidades, sobretudo das virtudes morais. São condições essenciais para nós, com vistas a essa realização: a doutrina, o exemplo e a graça. As Escrituras, no que tange à doutrina, não deixaram uma só vírgula sem ser tratada; o povo judeu conhecia bem os princípios teológico-morais que deviam pautar a conduta de cada um. A graça nunca falta a ninguém. Quanto ao exemplo, além da história dos heróis antepassados, era-lhe agora oferecido a mais alta arquetipia. As multidões não tardariam muito em ouvir dos lábios do Deus encarnado: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48). Mas quem teria visto o Pai para imitá-Lo em sua perfeição? Esse problema seria levantado por Filipe e Jesus assim responderia: “Quem Me vê, vê o Pai. Como Me dizes, então, ‘mostra-nos o Pai’? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim?” (Jo 14, 9-10).
Não é difícil entender o quanto a verdadeira honra deve tomar o homem na sua integridade, pois a essência dessa qualidade consiste na participação do absoluto. Ela jamais será autêntica em alguém relativista, pois são termos que se excluem. Vemos pela narração bíblica que Deus iria dar à humanidade a insuperável honra de pertencer à sua Família. Impossível enobrecimento mais alto, substancioso e belo. E por cima dessa maravilha ainda lhe ofereceria um modelo antes inalcançável, mas que Ele tornaria inteiramente acessível a nossos sentidos: o Filho do Homem.
Quão insuficientes são as páginas de uma biblioteca para conter as maravilhas da glória que Deus preparou ao seu povo e a toda a humanidade...


Continua no próximo post

Nenhum comentário: