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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Evangelho 17º domingo do Tempo Comum ano B (Jo 6, 1-15)

10 Disse Jesus: Fazei-os assentar. Ora, havia naquele local muita relva. Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil.
É belíssima a delicadeza de Jesus. Como bom anfitrião, faz todos se sentarem sobre a relva por Ele criada. Além do mais, assim o exigia um princípio de boa disciplina. Imaginemos qual não teria sido a balbúrdia produzida por uma multidão faminta a tentar conquistar seu alimento, sem haver quem a harmonizasse. Sentando-se ordenadamente em grupos de cinquenta ou cem, a distribuição dos pães e dos peixes tornava-se fácil.
11 Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto queriam.
A narração deste fato, ao ser completada em detalhes pelos outros Evangelistas, adquire um elevado simbolismo prenunciativo da instituição da Eucaristia. Tomando em suas mãos os cinco pães e os dois peixes, Jesus ergueu seus olhos para o céu, partiu-os e entregou-os aos seus discípulos, os quais, por sua vez, os distribuíram às pessoas agrupadas e sentadas pela relva. O milagre da multiplicação saído das mãos de Jesus, continuava a realizar-se nas dos discípulos, evitando assim um contínuo ir e vir destes. Não pequeno deve ter sido o trabalho dos Apóstolos, percorrendo um a um para oferecer pão e peixe. Jamais aquela gente tinha comido tão delicioso manjar. Ele deveria ser extremamente superior ao próprio maná do deserto, pois este não passara pelas divinas mãos de Jesus.
Não houve quem dele não comesse até saciar-se.
12 Estando eles saciados, disse aos discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca.
Além de tratar-se de um costume próprio aos hebreus, o fato de Jesus ordenar aos discípulos o recolhimento de todos os restos demonstra uma especial didática para prepará-los ao trato futuro com as espécies eucarísticas. Visava Ele também tornar ainda mais patente seu absoluto poder taumatúrgico, evitando assim a tentação de que tudo não fora senão uma simples ilusão.
13 Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram, encheram doze cestos.
Mais um elemento essencial no divino ensinamento: o ter feito sobrar um cesto para cada Apóstolo. Ao transportá-lo, cada um deles deve ter sentido o peso desses restos. “Que portentoso milagre realizou hoje nosso Mestre!” — deveriam eles pensar.
14 À vista desse milagre de Jesus, aquela gente dizia: Este é verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo.
Este versículo poderia dar a impressão de que, afinal, o povo creu tratar-se do Messias, mas um pouco adiante São João mostrará o quanto era fraca a fé de toda aquela gente (9).
15 Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte.
Nos outros Evangelhos nos deparamos com uma vigorosa atitude de Nosso Senhor: força os Apóstolos a se separarem logo da multidão exaltada, enquanto Ele se despedia de todos.
Ouçamos o famoso Fillion, (10) com seu fino discernimento exegético, comentar estes dois últimos versículos:
“Sua admiração, infelizmente muito humana, crescia a cada instante. Tão ardorosa era sua exaltação que já não pensavam senão em apoderar-se de Nosso Senhor e proclamá-lo Rei de Israel, mesmo contra a sua vontade! Mas este conceito do messianismo — como já tivemos ocasião de ver muitas vezes — era inteiramente incompatível com o de Jesus. E essa incompatibilidade não poderia fazer outra coisa do que cavar um profundíssimo abismo entre Ele e as multidões.
“Precisamente neste ponto começará uma gravíssima crise que afastará de Cristo muitos de seus discípulos. O milagre da multiplicação dos pães os havia contentado pelo que teve de brilhante. O que aqueles exaltados esperavam de seu Messias glorioso era justamente prodígios dessa natureza. Não se davam conta de que, pondo n’Ele suas esperanças terrenas, O rebaixavam a seu próprio nível moral e O reduziam a simples instrumento de seu orgulho nacional, que os levava a todo momento a sonhar com a libertação do jugo romano, com a conquista do mundo inteiro e com uma felicidade temporal sem sombra alguma.
“Nunca havíamos visto no povo judeu uma tão ardente manifestação de fé messiânica. Mas a oposição de Jesus a esse favor popular — além de indiscreto, superficial — fará com que logo diminua, e em grande parte se apague, essa admiração.
“Os próprios Apóstolos compartilhavam, neste ponto, as ideias e impressões de seus compatriotas, e era de recear-se que, se permanecessem algum tempo em contato com a turba, aderissem a seus estranhos projetos e fossem para seu Mestre um estorvo a mais, naquela hora decisiva. Para livrá-los desta perigosa tentação, resolveu Jesus afastá-los da multidão. Ordenou-lhes, pois, embarcar de novo e partir sem demora para a margem ocidental do lago, onde iria reunir-se a eles logo após despedir o povo. Obedeceram, porém, de má vontade. E até opuseram alguma resistência, pois São Mateus e São Marcos dizem expressamente que Jesus teve de ‘obrigá-los’ a voltar para a barca.”

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