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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Evangelho 19º Domingo do Tempo Comum - Jo 6, 41-51

Continuação 

Eucaristia e vida eterna
“Murmuravam então dEle os judeus, porque dissera: ‘Eu sou o Pão que desceu do Céu’. 42 Diziam: ‘Porventura não é este aquele Jesus, filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz Ele: Desci do Céu?’. 43 Jesus, replicando, disse-lhes: ‘Não murmureis entre vós’”.
Estas palavras de Jesus foram pronunciadas na sinagoga de Cafarnaum. No dia anterior, havia Ele operado o prodígio da multiplicação dos pães, figura do milagre muitíssimo mais portentoso da Eucaristia. Maravilhada, a multidão fora ao seu encalço até encontrá-Lo nessa cidade. Porém, interpelado por eles, Jesus censura-lhes seu pouco espírito de fé e sua mentalidade materialista: “Vós Me procurais, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. Trabalhai,não pela comida que perece, mas pela que dura até à vida eterna, e que o Filho do Homem v os dará” (Jo 6, 26-27).
Ao multiplicar os pães e os peixes, Cristo provara seu poder sobre a matéria, preparando assim o povo para crer na Eucaristia. No entanto, o coração dos Seus ouvintes se endureceu e, diante do anúncio de tão grande dom, duvidaram, aferrandose às realidades visíveis e concretas. Jesus, para eles, continuava sendo “o filho de José”. E nem a crença, então muito difundida em Israel, de que o Messias viria trazer um novo maná, contribuiu para lhes abrir os olhos e o coração, diante da multiplicação dos pães.
Somente Deus pode mover as almas rumo à perfeição
44 “Ninguém pode vir a Mim se o Pai que Me enviou não o atrair; e Eu o ressuscitarei no último dia”.
Nesta frase tão simples encerra-se um valioso princípio teológico que deve nortear a atividade pastoral dos sacerdotes, assim como o apostolado dos leigos. Todo o bem que possamos fazer se origina numa iniciativa de Deus.
Quantas vezes, em nossa atuação, julgamos ter feito grandes obras, formulado ideias acertadas, falado de forma atraente, escrito palavras sublimes... Tudo isso vem de Deus. Nossa ação produziu algum resultado? Houve almas que se afervoraram, mudaram de vida, abandonaram as vias do pecado? Foi a graça de Deus que agiu nelas e as moveu a aceitarem bem o que foi dito ou feito.
Nosso Senhor usa o termo “ninguém”, o qual não dá margem a exceção. “Ninguém pode vir a Mim se o Pai não o atrair”. O próprio Jesus, o Homem-Deus, tendo embora todo o poder, nos dá um divino exemplo de humildade, atribuindo ao Pai a iniciativa do bem que Ele faz. Inclusive em nossa vida espiritual, todo e qualquer movimento de nossa alma rumo à perfeição se deve a uma ação da graça. É sempre Deus que toma a iniciativa de nos atrair.
Discutem alguns sobre o papel do livre-arbítrio nesta atração sobrenatural exercida por Deus, alegando que o termo “atrair” implica em certa violência. São Tomás responde com sua lógica característica a esta objeção, explicando que pode haver diversas formas de atração, sem violência nem constrangimento. Pode-se atrair alguém por meio de um artifício da inteligência. Mas Deus também pode nos aproximar dEle pelo encanto, pela beleza de Sua majestade.1
Também o padre Manuel de Tuya destaca o papel da liberdade humana perante a ação da graça: “Deus traz as almas à Fé em Cristo: quando Ele quer, infalivelmente, irresistivelmente, embora de um modo tão maravilhoso que elas vêm também livremente; esse aspecto de liberdade, no homem, se destaca especialmente no versículo 45b”.2
No mesmo sentido se pronuncia Santo Agostinho, com o voo próprio de sua inteligência privilegiada, ao comentar com palavras inflamadas esta mesma passagem: “Não disse: ‘Se não o guiar’, mas sim ‘se não o atrair’. Esta violência é feita ao coração, não à carne. De que te admiras? Crê e vens; ama e és atraído. Não penses que se trata de uma violência rabugenta e depreciativa; é doce, suave; o que atrai é a própria suavidade. Quando a ovelha tem fome, não a atraímos mostrando-lhe erva? Ela não é empurrada corporalmente, mas subjugada pelo desejo. Vem tu a Cristo desse modo”.3
E por que quem atrai a alma é o Pai e quem ressuscita o corpo no último dia é o Filho? São João Crisóstomo esclarece a questão: “O Pai atrai, mas Ele [Jesus] ressuscita. Não porque separe Suas obras do Pai — como poderia ser! — mas sim porque demonstra que o poder de ambos é igual”.4

Continua...

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