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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Evangelho 21º Domingo do Tempo Comum - Jo 6, 60-69

Palavras acolhidas com murmuração
Incredulidade de muitos discípulos
60 Muitos dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: “Dura é esta linguagem! Quem a pode ouvir?”
Eis por que muitos discípulos que O ouviram disseram: “Dura é esta linguagem. Quem a pode ouvir?” (v. 60). Faltou-lhes entoar o cântico: Praestet fides supplementum, sensuum defectui — “venha a iluminar e completar o que falta nos sentidos para o entender”, como diz o cântico do “Tantum ergo”. Visus, tactus, gustus in te fallitur; sed auditu solo tuto creditur — “a vista, o tato, o paladar aqui se enganam, só o que ouço sustenta a minha fé”, diz o “Adoro te devote”.
Maldonado, que viveu em tempos turbulentos, é rígido em seus comentários, sublinhando que é próprio aos hereges interpretar os mistérios divinos em função de sua capacidade de compreensão. Assim, ao não entenderem alguma verdade relativa a Deus ou à religião, qualificam-na de “desatino”.
61 Jesus, conhecendo em Si mesmo que os seus discípulos murmuravam por isto, disse-lhes: “Isto vos escandaliza?”
Jesus é o Verbo eterno e encarnado, portanto com antecedência incalculável já conhecia, em suas minúcias, a murmuração dos discípulos, rompendo a anterior união que havia entre eles, toda feita de admiração.
Jesus visa repreender ou evitar o escândalo?
62 Que será quando virdes subir o Filho do Homem para onde estava antes?
Pondera Maldonado ser muito difícil bem interpretar o presente versículo, por se tratar de uma frase interrogativa e, ao mesmo tempo, concisa. De duas, uma (sempre segundo Maldonado): ou Jesus queria dizer que, ao verem-No em sua Ascensão, compreenderiam a afirmação feita por Ele de que seu Sangue é verdadeira bebida e sua Carne verdadeira comida; ou que, depois de assistirem à sua subida aos Céus, poderiam se escandalizar ainda mais.
    1. Facilitar a assimilação do dogma
Vários autores adotam a primeira dessas hipóteses, mas divergem entre si sobre qual dos dogmas formulados por Jesus em seu discurso Eucarístico adquiriria um grau maior de certeza no público. Uns julgam que, com a Ascensão, tornar-se-ia facilmente assimilável a noção de sua descida do Céu. Segundo outros, ao verem o retorno de Jesus ao Pai, imediatamente se dariam conta de sua divindade e, neste caso, admitiriam a transubstanciação do pão e do vinho realmente na Carne e no Sangue de Deus. Vejamos, a esse respeito, o que nos dizem dois conceituados Padres da Igreja:
“S. João Crisóstomo: Se Ele lhes tivesse dito simplesmente que desceu do Céu, sem acrescentar mais nada, teria escandalizado ainda mais os discípulos. Ele escolheu, pois, outro caminho: declarou que sua carne é a vida do mundo, e que assim como tinha sido enviado pelo Pai vivo, assim também vive pelo Pai. E então acrescentou que Ele tinha descido do Céu, dissipando toda e qualquer dúvida. Ele não se exprimiu assim, pois, com o intuito de escandalizar seus discípulos, mas, pelo contrário, para evitar o escândalo provocado por suas palavras. Enquanto O vissem apenas como filho de José, suas palavras naõ teriam para eles autoridade alguma; mas os que acreditassem que havia descido do Céu e que para lá voltaria, esses compreenderiam mais facilmente o que lhes era dito.
“Santo Agostinho: Assim desfez as dúvidas que os agitavam, porque eles tinham pensado que o Salvador haveria de destruir o seu próprio corpo; mas Ele lhes disse que haveria de subir ao Céu com o corpo íntegro; por isso lhes diz: ‘Quando virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes’. Com certeza vereis então como não se destruiu o seu corpo, conforme vós pensáveis” (6).
2. Repreensão aos judeus
Maldonado contesta essas várias suposições, manifestando-se favorável à hipótese de esse versículo constituir uma repreensão aos judeus, e não um mero ensinamento ou o oferecimento de uma prova. Segundo ele, o procedimento habitual do Divino Mestre com os incrédulos, que não aceitavam pontos minúsculos da Fé, era de sempre fazer-lhes uma interrogação: “Se não Me acreditais quando vos falo das coisas da terra, como Me acreditareis se vos falar das coisas do Céu?” (Jo 3, 12).
No versículo que aqui comentamos, Jesus Se denomina Filho do Homem, para tornar clara a existência da união das duas naturezas, a divina e a humana, em sua Pessoa, pois dos céus desceu como Deus e para lá retornaria, como homem.

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