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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Evangelho 21º Domingo do Tempo Comum - Jo 6, 60-69

60 Muitos dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: “Dura é esta linguagem! Quem a pode ouvir?” 61 Jesus, conhecendo em Si mesmo que seus discípulos murmuravam por isso, disse-lhes: “Isto vos escandaliza? 62 Que será quando virdes subir o Filho do Homem para onde estava antes? 63 É o Espírito que vivifica; a carne para nada aproveita. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. 64 Mas há alguns de vós que não crêem”. Com efeito, Jesus sabia desde o princípio quais eram os que não acreditavam, e quem havia de O entregar. 65 Depois acrescentou: “Por isso Eu vos disse que ninguém pode vir a Mim se não lhe for concedido por meu Pai”. 66 Desde então muitos dos seus discípulos retiraram-se e já não andavam com Ele. 67 Por isso Jesus disse aos doze: “Também vós quereis retirar-vos?” 68 Simão Pedro respondeu-Lhe: “Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna. 69 E nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus”. (Jo 6, 60-69)
Acompanhe nos próximos posts os comentários de Mons João Clá Dias ao Evangelho do 21º Domingo Tempo comum  ano B

Jesus é o pão da vida
A contradição dos judeus
“Como poderá este dar-nos a sua carne para comermos?” (Jo 6, 52) — perguntavam entre si os judeus que ouviram Jesus fazendo referência ao Sacramento da Eucaristia. E Ele lhes respondeu: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6, 53).
Com uma fé insuficiente, como poderiam alcançar o verdadeiro significado das revelações feitas pelo Messias?
Os judeus não queriam admitir que Jesus pudesse se autodenominar “pão da vida”. De fato, Ele o é, tanto pela divindade, como por sua humanidade. Enquanto Deus, Ele cria, sustenta no ser e alimenta todos os viventes. Ao assumir um corpo, sua Carne é vivificante por ser o Verbo de Deus. Da mesma forma que o ferro se torna incandescente ao ser introduzido no fogo, adquirindo a substância e as propriedades deste sem deixar de ser ferro, assim também o Sagrado Corpo de Jesus está unido à natureza divina. Por isso, sem a Eucaristia, o homem pode ter vida natural, mas não a vida eterna.
Hoje nos damos conta de quanto a rejeição dos judeus ao precioso convite de Nosso Senhor é inexplicável. Os seus antepassados haviam adorado não poucos deuses falsos, além de terem admitido as mais absurdas doutrinas. Ao se apresentar o verdadeiro Deus, oferecendo-Se como alimento de imortalidade, a reação deles foi de repulsa.
Quando Moisés subiu ao Monte Sinai para receber as Tábuas da Lei, os israelitas permaneceram a sua espera no sopé da montanha. Como tardasse muito a descer e o povo estivesse já cansado, Aarão foi instado a fazer-lhes um deus visível que eles pudessem seguir, indo-lhes adiante nos deslocamentos (Ex 32, 1). No fundo queriam ter um Deus — um ELOIM, o Deus verdadeiro que criou o céu e a terra — sob espécie visível. Ora, o que Jesus lhes oferecia nesse discurso Eucarístico do capítulo sexto de São João é exatamente isso: “Eu sou o pão da vida (...) o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão, viverá eternamente” (Jo 6, 48.51).
É um paradoxo: o que os judeus pediram a Aarão, recebemos nós. Sim, na Eucaristia está o ELOIM sob espécies visíveis. Com uma grande diferença: os judeus julgaram ser possível operar essa maravilha por mãos humanas e nós cremos, com toda a fé, que isso se realiza por exclusiva autoridade divina: “Fazei isto em memória de Mim” (Lc 22, 19). O curioso é que, apesar de os judeus acreditarem ser possível realizar esse grande mistério através de forças naturais e humanas, não creram que Deus onipotente fosse capaz de concretizá-lo.
Mistério da fé
Nas próprias palavras de Cristo se encontra um grandioso mistério: Caro mea vere est cibus, et sanguis meus vere est potus — “Minha Carne é verdadeiramente comida e o meu Sangue é verdadeiramente bebida” (Jo 6, 56).
Ouçamos São Tomás: “Que o verdadeiro corpo e sangue de Cristo estejam no sacramento, não se pode apreender pelo sentido, mas somente pela fé, que se apóia na autoridade divina” (1).
O problema se centra em que “toda transformação que acontece segundo as leis da natureza é formal” (2). Ora, no caso da Eucaristia devemos considerar que a ação de Deus “abarca toda a natureza do ser. Portanto, Ele pode realizar não só a conversão formal (...), mas também a conversão de todo o ser, de modo que toda a sua substância se converta em toda substância de outro ser. E, nesse sacramento, isso se realiza pelo poder divino. Com efeito, toda a substância do pão se converte em toda a substância do Corpo de Cristo, e toda a substância do vinho, em toda a substância do Sangue de Cristo. Por isso, essa conversão não é formal, mas substancial. (...) pode-se chamar apropriadamente com o nome de transubstanciação” (3).
Ademais, devemos considerar que as dimensões da Hóstia consagrada não correspondem às do Corpo de Cristo. Ela continua com as mesmas medidas que lhe eram próprias, quando n’Ela se encontrava a substância pão (4). Porém “é indispensável confessar, de acordo com a fé católica, que Cristo está, todo Ele, nesse sacramento” (5).

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