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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Evangelho XXIX Domingo do Tempo Comum Mc 10, 35-45

Continuação dos comentários ao Evangelho Mc 10, 35-45 
Cegueira ante a perspectiva da dor
“Eles responderam: ‘Podemos”.
Supunham os dois irmãos, sem dúvida, que o cálice e o batismo aludidos por Nosso Senhor representavam as dificuldades a serem transpostas para alcançar a glória temporal imaginada por eles, e que, portanto, valia a pena enfrentá-las... Possivelmente também, julgavam em seu otimismo ser feito de honra e prestígio esse batismo.
Ora, este equívoco é consequência da incompreensão da advertência de Nosso Senhor a respeito da sua Paixão e Morte, as quais Ele já mencionara três vezes, dando inclusive detalhes dos tormentos que padeceria (cf. Mc 8, 31-32; 9, 31; 10, 33-34). Ao mesmo tempo, tornavam-se cada vez mais claras as ameaças de isto vir a se efetivar (cf. Jo 10, 31-40; 11, 49-54).
Acontece que os Apóstolos, em sua cega esperança de felicidade mundana, se obstinavam na ideia do Messias temporal. Davam a essas previsões do Divino Mestre o valor de uma linguagem simbólica, talvez julgando que, afinal, Ele daria um golpe qualquer e seria proclamado Rei de Israel, como descendente que era de Davi. Por isso, Tiago e João respondem com ânimo à pergunta de Nosso Senhor: “Podemos”.
Os planos de Deus são inalteráveis
39b E Ele lhes disse: Vós bebereis o calice que Eu devo beber, e sereis batizados com o batismo com que Eu devo ser batizado. 40 Mas não depende de Mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. E para aqueles a quem foi reservado”.
Ao pedido formulado num plano meramente natural e segundo critério equivocado, Nosso Senhor replica a partir de uma perspectiva sobrenatural: desde toda a eternidade Deus Pai escolheu o lugar de cada qual segundo o sapiencial plano traçado por Ele. Portanto, apesar de ser legítimo o desejo dos filhos de Zebedeu, era preciso acima de tudo fazer a vontade do Pai.
Com efeito, as palavras do Mestre sobre os dois irmãos se confirmaram: relata-nos a História ter sido São Tiago o primeiro Apóstolo a beber o cálice do martírio, em Jerusalém, pelo ano 44 (cf. At 12, 1-2). Quanto a São João, consta ter tido morte natural, muito idoso, pelo ano 104. 0 discípulo amado não deixou de “beber do cálice”, pois foi o único Apóstolo a acompanhar de perto a Paixão do Senhor e a sofrer junto com Ele; e, segundo antiquíssima tradição, teria sido lançado mais tarde numa caldeira de azeite fervente, e saldo milagrosamente ileso.”
Portanto, em ambos se realizou o predito por Jesus: eles beberam o cálice e passaram pelo batismo de sangue.
As disputas no Colégio Apostólico antes de Pentecostes
41 “Quando os outros dez discípulos ou viram isso, indignaram-se com Tiago e João”.
A certa distância, os demais Apóstolos acompanhavam com atenção a conversa, e se indignaram ao ouvir o pedido dos dois irmãos. Certamente, não por verdadeiro zelo em relação a Jesus, mas, quiçá, por cada qual julgar-se mais digno de receber a almejada honraria. Afinal de contas, desejavam também eles participar dessa disputa. Isso torna evidente o quanto essas doze magníficas colunas sobre as quais se levantaria o sagrado edifício da Igreja tinham, antes da descida do Espírito Santo, uma visão humana e político-social de Jesus Cristo e estavam com os olhos fixos na conquista do poder temporal.
42 “Jesus os chamou e clisse: ‘Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam”.
Com essa referência aos governantes da época, Cristo advertia seus Apóstolos de que quem deseja a glória mundana e assume o poder por amor-próprio acaba sendo um tirano. De fato, sem o auxilio da graça e a prática da virtude, a tendência do poderoso é oprimir os subalternos. E, tendo sido os judeus escravizados diversas vezes, disso eles tinham as cicatrizes de amargas experiências...
Continua no próximo post

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