Comentários de Mons João Clá Dias à Festa da Natividade de Nossa Senhora
O nascimento de Maria Santíssima traz
ao mundo o anúncio jubiloso de uma boa nova: a Mãe do Salvador
já está entre nós. Ele é o alvorecer prenunciativo de nossa salvação, o
início histórico da obra da Redenção.
E "como celebraremos o
nascimento de Maria?"
Essa pergunta, feita por São Pedro Damião em seu
"Segundo Sermão sobre a Natividade de Nossa Senhora", ainda surge
hoje quando se trata de comemorar essa solenidade. O acontecimento é grande
demais. E assim o santo justificou sua perplexidade:
"Às trevas do paganismo e à falta de fé dos
judeus, representadas pelo templo de Salomão, sucede o dia luminoso no templo
de Maria. É justo, portanto, cantar este dia e Aquela que nele nasceu. Mas como
poderíamos celebrá-la dignamente? Podemos narrar as façanhas heroicas de um
mártir ou as virtudes de um santo, porque são humanas. Mas como poderá a
palavra mortal, passageira e transitória exaltar Aquela que deu à luz a Palavra
que fica? Como dizer que o Criador nasce da criatura?"
Uma Festa de Alegria
Está inteiramente de acordo com o espírito da
Igreja festejar com alegria a Festa da Natividade da Bem-Aventurada Virgem
Maria. Sua comemoração é feita no dia 8 de Setembro. "A celebração de hoje
é para nós o começo de todas as festas", afirma o Calendário Litúrgico
Bizantino. O nascimento de Maria Santíssima traz ao mundo o anuncio jubiloso de
uma boa nova: a mãe do Salvador já está entre nós. Ele é o alvorecer
prenunciativo de nossa salvação, o início histórico da obra da Redenção.
São Pedro Damião afirma em sua homilia para essa
festa:
"Deus onipotente, antes que o homem caísse,
previu a sua queda e decidiu, antes dos séculos, a redenção humana. Decidiu Ele
encarnar-se em Maria." "Hoje é o dia em que Deus começa a pôr em
prática o seu plano eterno, pois era necessário que se construísse a casa,
antes que o Rei descesse para habitá-la. Casa linda, porque, se a Sabedoria
constrói uma casa com sete colunas trabalhadas, este palácio de Maria está
alicerçado nos sete dons do Espírito Santo. Salomão celebrou de modo
soleníssimo a inauguração de um templo de pedra. Como celebraremos o nascimento
de Maria, templo do Verbo encarnado? Naquele dia a glória de Deus desceu sobre
o templo de Jerusalém sob forma de nuvem, que o obscureceu.
O Senhor que faz brilhar o sol nos céus, para a sua
morada entre nós escolheu a obscuridade (1Rs 8,10-12), disse Salomão na sua
oração a Deus. Este mesmo templo estará repleto pelo próprio Deus, que vem para
ser a luz dos povos."
***
A Natividade de Maria era celebrada no Oriente
católico muito antes de ser instituída no Ocidente. Ela tem provavelmente sua
origem em Jerusalém, em meados do século V. Foi em Jerusalém que se manteve
viva a tradição que a Virgem teria nascido junto à Porta da Piscina Probática.
Nessa festa o mundo católico admira Nossa Senhora
como sendo Ela a aurora que anuncia o Sol de justiça que dissipa as trevas do
pecado. Nela, a Igreja convida a "contemplarmos uma menina como todas
as outras, e que ao mesmo tempo é única, pois, Ela é a "bendita entre
todas as mulheres" (Lc 1, 42), a Imaculada "filha de Sião",
destinada a tornar-se a Mãe do Messias".(João Paulo II, Audiência de
8/9/2004)
Alegria até para os Anjos
A alegria nas comemorações da festa litúrgica do
nascimento de Nossa Senhora é justificadamente incentivada a todos, até aos
anjos:
"Alegrem-se os Patriarcas do Antigo Testamento
que, em Maria, reconheceram a figura da Mãe do Messias. Eles e os justos da
Antiga Lei aguardavam há séculos, serem admitidos na glória celeste pela
aplicação na fé dos méritos de Cristo, o bendito fruto da Virgem Maria.
"Alegrem-se todos os homens porque o nascimento da Virgem veio anunciar-lhes a aurora do grande dia da libertação pela qual aspiram todos os povos. Alegrem-se todos os anjos porque neste dia foi-lhes dada pela primeira vez a ocasião de reverenciar a sua futura Rainha." (Lehmann, P. JB. Na luz Perpétua, 1959 p.268)
"Alegrem-se todos os homens porque o nascimento da Virgem veio anunciar-lhes a aurora do grande dia da libertação pela qual aspiram todos os povos. Alegrem-se todos os anjos porque neste dia foi-lhes dada pela primeira vez a ocasião de reverenciar a sua futura Rainha." (Lehmann, P. JB. Na luz Perpétua, 1959 p.268)
Só no Céu houve Festa
Ainda que sendo Maria a "Virgem bela e
Gloriosa" que Deus amou com predileção desde a sua eternidade, desde toda
a Criação como sua obra-prima, enriquecida das graças mais sublimes e elevada à
excelsa dignidade de Mãe de Deus, (Patriarca Fócio, Homilia sobre a
Natividade,PG 43) visivelmente, nenhum acontecimento extraordinário acompanhou
o nascimento de Maria.
Os Evangelhos nada dizem sobre sua natividade.
Nenhum relato de profecia, nem aparições de anjos, nem sinais extraordinários
são narrados pelos Evangelistas. Só no Céu houve Festa, pois o Filho de Deus vê
sua Mãe nascer.
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Maria, santa desde o primeiro instante de sua vida
Maria, santa desde o primeiro instante de sua vida
Os Santos e outros abalizados autores, de diversas
maneiras exprimiram essa doutrina. Em um de seus arrebatadores sermões
dedicados a Nossa Senhora, São Tomás de Villanueva ensina: "Era necessário
que a Mãe de Deus fosse também puríssima, sem mancha, sem pecado. E assim não
apenas quando donzela, mas em menina foi santíssima, e santíssima no seio de
sua mãe, e santíssima em sua concepção. Pois não convinha que o santuário de
Deus, a mansão da Sabedoria, o relicário do Espírito Santo, a urna do maná
celestial, tivesse em si a menor mácula. Pelo que, antes de receber aquela alma
santíssima, foi completamente purificada a carne até do resíduo de toda mancha,
e assim, ao ser infundida a alma, não herdou nem contraiu pela carne mancha
alguma de pecado, como está escrito: "Fixou sua habitação na paz"
(Sl. LXXV, 3). Quer dizer, a mansão da divina Sabedoria foi construída sem a
inclinação para o pecado.
Ao assinalar os principais privilégios que
acompanharam a Imaculada Conceição de Maria, escreve São João Eudes:
"A gloriosa Virgem não apenas foi preservada
do pecado original em sua concepção, como foi também adornada da justiça
original e confirmada em graça desde o primeiro momento de sua vida, segundo
muitos eminentes teólogos, a fim de ser mais digna de conceber e dar à luz o
Salvador do mundo. Privilégio que jamais foi concedido a criatura alguma humana
nem angélica, pertencendo somente à Mãe do Santo dos Santos, depois de seu
Filho Jesus […]
"Todas as virtudes, com todos os dons e frutos
do Espírito Santo, e as oito bem-aventuranças evangélicas se encontram no
coração de Maria desde o momento de sua concepção, tomando inteira posse e
estabelecendo n'Ela seu trono num grau altíssimo e proporcionado à eminência de
sua graça".
"Santo Afonso de Ligório, por sua vez,
comenta: "A nossa celeste menina, tanto por causa de seu ofício de medianeira
do mundo, como em vista de sua vocação para Mãe do Redentor, recebeu, desde o
primeiro instante de sua vida, graça mais abundante que a de todos os Santos
reunidos. E que admirável espetáculo para o Céu e para a Terra, não seria a
alma dessa bem-aventurada menina, encerrada ainda no seio de sua mãe! Era a
criatura mais amável aos olhos de Deus, pois que, já cumulada de graças e
méritos, podia dizer: 'Quando era pequenina agradei ao Altíssimo'. E ao mesmo
tempo era a criatura mais amante de Deus, de quantas até então haviam existido.
"Houvera, pois, nascido imediatamente após a
sua Imaculada Conceição, e já teria vindo ao mundo mais rica em méritos e mais
santa do que toda a corte dos Santos. Imaginemos, agora, quanto mais santa
nasceu a Virgem, vendo a luz do mundo só depois de nove meses, os quais passou
adquirindo novos merecimentos no seio materno!"
"Preciosa pérola no seio de
Sant'Ana
"Com seu gracioso estilo, o Pe. Manuel
Bernardes nos apresenta Maria no seio materno sempre santa: "Uma pérola deu
a Rainha Cleópatra a Marco Antônio, que se avaliava em muitos mil talentos. Em
quanto avaliaremos nós esta pérola animada, que se formou na concha do ventre
de Sant'Ana? Há nas Índias pérolas, que, em razão de sua diferente grandeza e
figura, se chamam pérolas Ave Marias e pérolas Padre-nossos. Ó que ricas Índias
se descobrirão hoje na casa da gloriosíssima e felicíssima matrona Sant'Ana,
donde nos veio tal pérola Ave Maria, que nos deu tal pérola Padre Nosso? Por
certo que ainda que todo o firmamento fora um livro (como o considera São João
no Apocalipse), e se escrevesse todo de letras de algarismo, não somariam o
valor destas duas pérolas. Porque, enfim, como dizíamos, e é certo, tudo o que
devemos a Cristo Filho de Deus, devemos por conseguinte a Maria, escolhida para
Mãe de Deus, e que foi a que deu pés a Deus, para andar com os homens na
Terra".
"Como fecho dos comentários ao presente
louvor, ouçamos estas ardorosas palavras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
""Porque concebida sem pecado original,
Nossa Senhora, afirmam os teólogos, foi dotada do uso da razão desde o primeiro
instante de seu ser. Portanto, já no ventre materno Ela possuía altíssimos e
sublimíssimos pensamentos, vivendo no seio de Sant'Ana como num verdadeiro
tabernáculo.
"Temos uma confirmação indireta disso no que
narra a Sagrada Escritura (Lc. I, 44) a respeito de São João Batista. Ele, que
fora engendrado no pecado original, ao ouvir a voz de Nossa Senhora saudando
Santa Isabel, estremeceu de alegria no seio de sua mãe.
"Assim, pode-se acreditar que a Bem-aventurada
Virgem, com a altíssima ciência que recebera pela graça de Deus, já no seio de
Sant'Ana começou a pedir a vinda do Messias e, com Ele, a derrota de todo mal
no gênero humano. E desde o ventre materno se estabeleceu, com certeza, no
espírito de Maria, aquele elevadíssimo intuito de vir a ser, um dia, a
servidora da Mãe do Salvador.
"Na realidade, por essa forma Nossa Senhora já
começava a influir nos destinos da humanidade. Sua presença na Terra era uma
fonte de graças para todos aqueles que d'Ela se aproximavam na sua infância, ou
mesmo quando ainda se encontrava no seio de Sant'Ana. Pois se da túnica de
Nosso Senhor - conta o Evangelho (Lc. VIII, 44-47) - se irradiavam virtudes
curativas para quem a tocasse, quanto mais da Mãe de Deus, Vaso de Eleição!
"Por isso, pode-se dizer que, embora fosse Ele
criancinha, já em seu natal graças imensas raiaram para a Humanidade".
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP; "Pequeno
Ofício da Imaculado Conceição"
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