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domingo, 6 de abril de 2014

Evangelho - Domingo de Ramos da Paixão do Senhor - Ano A - Mt 27, 11-54

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO Mt 27, 11-54 - DOMINGO DE RAMOS - ANO A 
O CONTRASTE ENTRE A BONDADE INCRIADA E A MALDADE HUMANA
Nosso Senhor Jesus Cristo poderia, com toda justiça, ter-Se exaltado a Si mesmo, sem incorrer em pecado algum — pelo contrário, seria um grande ato de virtude, pois Ele é digno de todo o louvor —, mas renunciou a isso para nos dar o exemplo. E embora as aclamações que Ele permitiu (cf. Lc 19, 39-40) a seus discípulos e ao povo, no Domingo de Ramos, constituam, quiçá, uma exceção a esta regra... quão escassas são em relação ao que realmente Ele merece!
Talvez, por isso, nenhum fato seja mais significativo, no que diz respeito ao contraste entre a maldade humana e a bondade de Deus — Bondade que é Ele em essência —, do que a terrível Paixão do Salvador ter ocorrido pouco depois dessa ovação triunfal.
A bondade divina manifestada na Paixão
Para salvar a humanidade, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade quis Se encarnar, tornando-Se igual a nós em tudo, exceto no pecado (cf. Hb 4, 15). E, ainda que uma lágrima, um gesto ou até um desejo do Homem-Deus fosse suficiente para redimir um número ilimitado de criaturas, Ele Se humiihou a Si mesmo, fazendo-Se obediente até à morte na Cruz, como afirma São Paulo na segunda leitura deste domingo (Fi 2,6-11). Aquele que, com um simples ato de vontade, poderia ter impedido a ação dos que promoveram sua morte — bastaria, por exemplo, deixar de sustentar o ser deles, fazendo-os voltar ao nada —, aceitou todos os ultrajes descritos por São Mateus no Evangelho da Missa.
Experimentamos aqui a misericórdia de Deus, infinitamente solícito em nos perdoar. Se um só de nós houvesse incorrido em alguma falta e todos os demais homens fossem inocentes, teria Ele padecido igual martírio para resgatar esse único réu! Como aponta o padre Garrigou-Lagrange, no mistério da Redenção “as exigências da justiça terminam por se identificar com as do amor, e é a misericórdia que triunfa, porque é a mais imediata e profun da expressão do amor de Deus pelos pecadores”.4
A maldade humana vinga-se do bem recebido
Ante tanta benevolência, vemos o povo contente e reconhecendo autêntica e sinceramente estar ali, de fato, o Messias.
Contudo, não de forma profunda, mas superficial e carente de raízes... Se hoje Jesus foi recebido com honras — “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos Céus!” —, dentro de alguns dias essa mesma multidão estará na praça, diante do Pretório, preferindo Barrabás Aquele que antes acolhera com regozijo, e gritando “Seja crucificado!”, como lemos no texto da Paixão.
A realeza de Jesus Cristo proclamada em sua solene entrada em Jerusalém tornar-se-ia, no seio desta cidade, pretexto de sua condenação. Herodes escarneceu d’Ele com blasfemas irreverências; Pilatos constatou sua inocência, acovardando-se, porém, diante dos acusadores, e O entregou “à vontade deles” (Lc 23, 25). Com majestoso silêncio, o Salvador suportou a flagelação, as injúrias da coroação de espinhos (cf. Mt 27, 26-31; Mc 15, 15-20;Jo 19, 1-5) e subiu ao Gólgota com a Cruz às costas. Tão pesada era — o peso de nossos pecados! — que, a meio caminho, obrigaram Simão de Cirene a ajudá-Lo a carregar tão ignominioso fardo. Os chefes zombaram d’Ele; os soldados Lhe ofereceram vinagre; um dos malfeitores, crucificado ao seu lado, O insultou.

Por quê? Pelo ódio dos que não querem aceitar o convite para uma mudança de vida. Com efeito, Jesus vinha pregando uma nova perspectiva do Reino de Deus, bem diferente daquela que eles tanto desejavam, e por isso foi rejeitado. Quantos milagres! Quantos benefícios! Paralíticos que andam, surdos que ouvem, cegos que veem, mortos que ressuscitam.., tudo realizado por aquelas mãos adorabilíssimas que logo iriam ser atravessadas por cravos horríveis! Eis a lei da natureza humana concebida no pecado, quando recusa a graça de Deus! De si, ela é volúvel. Ora aplaudirá, ora se vingará de suas próprias aclamações.
Continua no próximo post

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