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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Evangelho: Cura de um paralítico (final)

Jesus prova, com o milagre, seu poder de perdoar
9 O que é mais fácil dizer ao paralítico: ‘São-te perdoados os pecados’, ou dizer: ‘Levanta-te, toma o teu leito e anda’?
Em substância, é incomparavelmente mais difícil perdoar os pecados do que curar uma paralisia. Entretanto, o dizer “os teus pecados te são perdoados” não põe em risco, nem à prova, a eficácia destas palavras, pois não há elementos para atestar se de fato os pecados foram ou não perdoados. O contrário se passa com a ordem de levantar-se. Neste caso, a comprovação é imediata. Pode-se bem imaginar o que aconteceria se, depois de proferida a ordem, o paralítico não se movesse de sua maca...
Afinal, como os judeus acreditavam haver um vínculo entre pecado e enfermidade, curada a paralisia, forçosamente o enfermo estaria isento de seus pecados.
10 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder de perdoar os pecados, (disse ao paralítico) 11 Eu te ordeno: “Levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa”.
Sobre estes versículos, pululam os comentários dos mais variados matizes. Maldonado, porém, parece ser melhor inspirado em suas observações. Nota o exegeta que Jesus não Se chamou a Si próprio “Filho de Deus”, mas sim “Filho do Homem”, para tornar claro, ademais, que o poder de perdoar pecados, Ele o possuía também como homem. “Ele prova que é Deus, não com argumentos, mas com a obra, quando lhes revela o que estão pensando; e que perdoa enquanto homem”. Não se referiu a esse poder enquanto seu detentor no Céu — pois o possui desde toda a eternidade — mas “sobre a terra”, “demonstrando que também como homem perdoa pecados”.
Mais adiante concluirá o próprio Maldonado: “Do mesmo modo pelo qual o poder de perdoar os pecados foi comunicado à humanidade de Cristo por sua divindade, assim também de Cristo cabeça derivou para os membros que Ele quis, isto é, para os sacerdotes”.
O resto da cena tem algo de necessariamente teatral para demonstrar ad nauseam a grandeza dos milagres ali operados por Jesus. Daí as três ordens consecutivas dadas por Ele: “Levanta-te”, ou seja, o paralítico a executou por si próprio, sem o auxílio de ninguém, para assim tornar patente o quanto Cristo lhe havia devolvido suas forças; “toma o teu leito”, é outro grande prodígio, pois, além de pôr-se em pé, aquele que só descera do teto pela ajuda de quatro outros também deve recolher o seu leito; “e vai para a tua casa”. Imagine-se o espanto daquela multidão, agora ainda mais apinhada, vendo-se na contingência de abrir para o ex-paralítico a passagem que lhe fora negada à entrada, para ele — com sua cama — buscar o caminho da rua...
12 Imediatamente ele se levantou e, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, de maneira que se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: “Nunca vimos coisa semelhante”.
A atitude da multidão é oposta à dos escribas. Aquelas pessoas sentem-se pervadidas de admiração, pois, com toda facilidade, dos efeitos remontam à causa e retribuem a Deus em louvores aquilo que Lhe é devido, reconhecendo o insólito do ocorrido. Crescem assim, nas virtudes teologais, enchem-se de alegria, recebem uma infusão de energia e também progridem no temor de Deus.
Bem diferente deve ter sido o retorno dos escribas às suas casas, trespassados pelas angústias da blasfémia não-reparada. 
Conclusão
Não devemos jamais tomar uma atitude análoga à dos escribas, fechando- nos diante do divino poder de Jesus de perdoar nossos pecados, e assim negligenciar a eficácia, grandeza e necessidade do Sacramento da Confissão. A Liturgia de hoje nos ensina as maravilhas desse poder, que Ele próprio conferiu aos seus sacerdotes.
A fim de alimentar nossa piedade em matéria tão importante, transcrevemos abaixo um belo fato ocorrido com Santa Margarida de Cortona: Vendo a fervorosíssima conversão de Margarida, o Redentor começou a instruí-la e agraciá-la de muitas maneiras, e, mostrando-Se a ela todo cheio de piedade e de amor, chamava-a frequentemente pelo nome de ‘pobrezinha’.
Um dia, a Santa, repleta daquela confiança que é tão própria ao amor filial, disse-Lhe:
— Senhor, Vós sempre me chamais de “pobrezinha”. Quando chegará o dia no qual eu possa ouvir de vossa divina boca o belo título de “filhinha”?
— Ainda não és digna. Antes de receber o nome e tratamento de filha, convém que purifiques melhor tua alma com uma confissão geral de todas as tuas culpas.
Tendo ouvido isso, Margarida fez um minucioso exame de seus pecados e, durante oito dias contínuos, os expôs ao confessor, mais com lágrimas do que com palavras. Acabada a confissão, tirou o véu que lhe cobria a fronte, pôs uma corda ao pescoço e, nessa humilde postura, foi receber o Corpo Santíssimo do Redentor. Mal acabara de comungar, sentiu ressoar no mais íntimo de sua alma as palavras: “Minha filha”.
Ouvindo essa voz tão doce, pela qual tanto havia suspirado, perdeu todos os sentidos e ficou absorta em um mar de gozo e alegria. Voltando logo a si desse êxtase, começou a repetir, atônita de admiração:
— Oh! doce palavra: “minha filha”! Oh! doce voz! Oh! palavra cheia de júbilo! Oh! voz cheia de segurança: “minha filha”!

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