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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O INSTINTO DE SOCIABILIDADE

Jesus, exemplo do equilíbrio dos instintos
Desde o primeiro instante de nossa criação, Deus dotou-nos de instintos. Eram eles ordenados sob os influxos do dom de integridade até o momento em que Adão e Eva pecaram. A partir de então, só com auxílio da graça nos é possível utilizar cada um deles de acordo com a Lei de Deus, de maneira estável.
Um dos mais excelentes entre todos é o instinto de sociabilidade, e talvez até, por isso mesmo, um dos mais perigosos fora da atmosfera sobrenatural. Daí ter afirmado Sêneca: “Quanto mais vezes estive entre os homens, menos homem retornei” ; e Thomas Hobes: “O homem é um lobo para outro homem”. Sim, o extremo de horrores a que podem chegar os homens no seu relacionamento à base do egoísmo é simplesmente inimaginável e assustador.
Mas, se mal conduzido esse instinto, os resultados podem vir a ser catastróficos, no extremo oposto assistimos às maravilhas da graça atuando sobre o convívio humano e enriquecendo qualquer hagiografia, a começar pela do Varão por excelência, o Filho do Homem.
Por sua sociabilidade divinizada, desde o primeiro instante de sua existência desejou reparar os pecados cometidos por seus irmãos e, para salvá-los, entregou-se à morte de cruz. Assim teria procedido se fosse para redimir um só pecado e salvar uma só alma. E como se isso não bastasse, deixou-se em Corpo, Sangue, Alma e Divindade até o fim do mundo, como alimento nosso sob as Espécies Eucarísticas. N’Ele encontramos o perfeitíssimo exemplo e, ao mesmo tempo, o próprio equilíbrio de todos os nossos instintos.
Foi d’Ele que nasceram os hospitais, os orfanatos, os asilos, as universidades, etc. Quando os homens se resolvem a colaborar com sua graça, daí nascem os esplendores de realizações capazes de tornar fulgurante toda uma era histórica. Pelo contrário, ao se fecharem ao seu apelo, os crimes, os roubos, a desonra, a mentira, os suicídios, as calúnias etc., proliferam como praga por toda parte.
Sociabilidade virtuosa dos discípulos de Emaús
É com vistas a nos ensinar quão benéficos são os efeitos da hospitalidade — qualidade de alma própria àquele que ordenadamente usa de seu instinto de sociabilidade — que a Liturgia nos propõe considerar a beleza da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús. Nesta narração, ambos deixam entrever o quanto possuem um coração afetuoso, caritativo e generoso para com um desconhecido que os alcança pelo caminho. Eles não têm a menor fímbria de respeito humano em explicar ao forasteiro os principais aspectos da vida, paixão e morte de Jesus, como o próprio desaparecimento de seu Sagrado Corpo, sempre levados por uma sociabilidade virtuosa tão rara nos dias de hoje e tão indispensável para um convívio agradável.
Consideremos o grande respeito usado pelos três entre si nesse episódio, como também a elevação do tema por eles tratado e o tônus da conversa. Como seria altamente formativo o poder-se reconstituir tal qual se deu esse convívio dos dois com o Divino Mestre ressurrecto! De imediato, configurarse-ia diante de nossos olhos o grande contraste com os encontros tão comuns e correntes na atualidade. Quanto teríamos a aprender desse sacrum convivium!
Continua no próximo post: Os discípulos de Emaus

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