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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Evangelho: Discípulos de Emaús II

Continuação discípulos de Emaús
Ele disse-lhes: “Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?” Eles pararam cheios de tristeza.
Pode-se falar em senso psicológico humano ao analisar o relacionamento de Jesus, mas como entender a fundo um Varão que só possui personalidade divina? Seu discernimento dos espíritos é absoluto e, enquanto Pessoa, Ele conheceu desde toda a eternidade não só aqueles dois discípulos, como também o recôndito de suas almas e até mesmo o conteúdo da conversa de ambos; por isso, Ele pergunta apenas para dar início ao diálogo e, assim, ter oportunidade de mais diretamente animá-los.
Quantas vezes em nossa vida, não terá Jesus se aproximado de nós para nos reanimar!...
Um deles, chamado Cléofas, respondeu: “Serás tu o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que ali se passou nestes dias?”
Era de fato incompreensível que um judeu vindo de outras províncias não se inteirasse, ao passar por Jerusalém, dos últimos grandes acontecimentos ali sucedidos. A ressurreição de Lázaro, a expulsão dos vendilhões do Templo, um número incontável de milagres, as arrebatadoras pregações de Jesus e sobretudo sua prisão, condenação e crucifixão, o escurecimento do céu, o tremor da terra, o véu do Templo cindido, o passeio dos justos que haviam saído de seus túmulos — esses eram fatos suficientes para convulsionar a opinião pública. Não havia outro tema para se considerar senão esse, daí a perplexidade manifestada por Cléofas.
Ele disse-lhes: “Que foi?” Responderam: “Sobre Jesus Nazareno, que foi um profeta, poderoso em obras e em palavras diante de Deus e de todo o povo”;
Segundo alguns autores, esta resposta tem sua origem na falta de fé dos dois discípulos, como também no medo de serem presos. Não poderia o forasteiro se escandalizar ouvindo a proclamação da divindade de Jesus?
e de que maneira os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte, e O crucificaram.
Eles narram os fatos com o coração nos lábios e, apesar de extremamente chocados com as atitudes das autoridades religiosas e civis, em nenhum momento manifestam desrespeito ou revolta contra as mesmas. Era um dos resultados obtidos pela ação apostólica de Jesus. O possessivo: “os nossos”, na voz desses discípulos, demonstra claramente a disposição de submissão e até de veneração face aos detentores do poder. Eles não se separam, e menos ainda injuriam. Essa sempre foi a nota distintiva do verdadeiro Cristianismo.
Ora, nós esperávamos que Ele fosse o que havia de libertar Israel; depois de tudo isto, é já hoje o terceiro dia, depois que estas coisas sucederam.
O verbo “esperar”, empregado no passado, dá bem ideia da decepção na qual se encontravam ambos. Suas atenções estavam concentradas, sobretudo, na possível libertação do domínio dos romanos. Ademais, julgando Jesus destinado a ser um Rei deste mundo, não podiam admitir que Ele não tivesse poder para libertar-se da sentença de morte que Lhe fora infligida. Entretanto, se bem estivessem com a virtude da fé um tanto abalada, restava-lhes ainda uma esperança, era a promessa proferida por Jesus em várias ocasiões sobre sua ressurreição ao terceiro dia.
É verdade que algumas mulheres, das que estavam entre nós, nos sobressaltaram porque, ao amanhecer, foram ao sepulcro 23 e, não tendo encontrado seu corpo, voltaram dizendo que tinham tido a aparição de anjos que disseram que Ele está vivo. 24 Alguns dos nossos foram ao sepulcro e acharam que era assim como as mulheres tinham dito; mas a Ele não O encontraram.
É patente o quanto a tristeza, a perplexidade e até a perturbação, penetravam o âmago de suas almas. A narração é toda ela hipotética, nada feita de certeza. De fato, o povo eleito sempre foi privilegiado por uma robusta lógica, e, diante da pura inteligência humana, como explicar aqueles acontecimentos todos?
Segundo os cânones do pensamento humano, com a trágica morte do Divino Mestre, todas as esperanças haviam terminado, por mais que as melhores testemunhas afirmassem ter desaparecido seu corpo. O próprio São Paulo diria mais tarde: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, é também vã a nossa fé” (I Cor. 15,14). Mas, a prova de sua ressurreição ainda não se havia consumado oficialmente. Assim sendo, quais os elementos para crerem? Só as palavras dos profetas e do próprio Jesus? Sendo afirmações e promessas feitas pela Verdade Absoluta, era preciso admiti-las como reais. Entretanto, longe dos acontecimentos é sempre mais fácil o exercício da virtude da fé, e a proximidade dos mesmos lhes turvava a compreensão e dificultava a inteira adesão da inteligência e da vontade. Apesar de discípulos, ambos haviam se olvidado do que lhes tinham dito seus ancestrais na Religião.
Continua...

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