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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Comentários ao Evangelho da Solenidade da Epifania do Senhor Ano C Mt 2, 1-12

Continuação dos comentários ao Evangelho Solenidade da Epifania do Senhor Ano C  Mt 2, 1-12  
De Jerusalém a Belém
“Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o Menino, e ali parou. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria”.
Assim sempre procede Deus, recompensando aqueles que são fiéis à Sua graça. É comovedora a confiança penetrada de coragem desses Reis Magos, diante de um tirano de tal má fama. Não há dúvida de estarem sustentados por especial moção do Espírito Santo.
Reaparece a estrela
Terão partido à noite, ou durante o dia? De Jerusalém a Belém, levava-se duas horas de caminhada por via conhecidíssima. Entretanto, uns poucos autores defendem a tese de esse deslocamento ter-se efetuado durante o dia. Mas, como se explicaria o reaparecimento da estrela? Uns dizem não terem sido necessárias as sombras da noite, por tratar-se de um corpo luminoso em regiões atmosféricas mais próximas dos Magos. Outros interpretam essa passagem como se a estrela tivesse reaparecido só na entrada de Belém, uma vez que não havia como errar o caminho.
Ao ler estes versículos com devoção, chega-se, por momentos, a participar da alegria dos primeiros peregrinos aos Lugares Santos.
O desaparecimento da estrela lhes pusera à prova a confiança; agora é a consolação como prêmio. Uma pergunta aqui surge, também. Por que se ocultara a estrela ao chegar a Jerusalém e reapareceu só em Belém? Será que já àquelas alturas Jerusalém não era digna de um sinal tão evidente e público? Ou, pelo contrário, escondendo-se, ela propiciou uma permanência maior dos Magos na cidade, e com isso a autenticidade do acontecimento tornou-se mais patente a todos os seus habitantes?
Adoraram-No, inspirados pelo Espírito Santo
“Entrando na casa, acharam o Menino com Maria, Sua mãe. Prostrando-se diante dEle, O adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-Lhe como presentes: ouro, incenso e mirra”.
Emociona esta descrição de Mateus: “acharam o Menino com Maria, Sua mãe”. Palavras proféticas, inspiradas pelo Espírito Santo, para deixar constando pelos séculos afora que não se pode encontrar Jesus sem Maria, e menos ainda, Maria sem Jesus. A História comprova — e muito mais o fará — o quanto a devoção à Mãe conduz à adoração ao Filho, e vice-versa.
Chama-nos a atenção Mateus ao local onde Se encontrava o Menino: uma casa, não uma gruta. “Alguns autores antigos — entre eles São Justino — julgaram que ‘casa’ era um eufemismo, em lugar de ‘gruta’. São Jerônimo, em compensação, menciona várias vezes a gruta e nunca fala da lembrança nem da presença dos Magos nela. Não seria nada improvável que a palavra ‘casa’ tenha em Mateus seu sentido real. Situada essa cena à distância de um ano e meio do nascimento de Cristo, não é de crer-se que a Sagrada Família tenha permanecido alojada naquela gruta circunstancial; parece natural que ela tenha habitado uma modesta casa. Ademais, o versículo 22 sugere que ela havia se estabelecido em Belém”.13
Essa adoração prestada pelos Magos comprova mais uma vez a realidade da ação do Espírito Santo nas almas deles, tal qual afirma São Tomás de Aquino:
Os Magos são ‘as primícias dos pagãos’ a crerem em Cristo. Neles apareceram, numa espécie de presságio, a fé e a devoção dos pagãos vindos a Cristo de lugares remotos. Por isso, sendo a fé e a devoção dos pagãos isentas de erro, por inspiração do Espírito Santo, também deve-se crer que os Magos, inspirados pelo Espírito Santo, se comportaram sabiamente ao prestarem homenagem a Cristo”.14
Quanto aos presentes, eles cumprem, com esse gesto, a profecia de Isaías: “Virão todos de Sabá, trazendo ouro e incenso, e publicando os louvores do Senhor. Todo o gado menor de Cedar se reunirá junto a ti, os carneiros de Nabaiot ficarão à tua disposição; fá-los-ão subir sobre meu altar para minha satisfação, e para a honra de meu templo glorioso” (Is 60, 6-7).
“Ao reconhecê-Lo como rei, ofereceram as primícias excelentes e preciosas do templo: o ouro que guardavam; por entender que Ele era de natureza divina e celestial, ofertaram incenso perfumado, forma de oração verdadeira, oferecida como suave odor do Espírito Santo; e em reconhecimento de que sua natureza humana receberia sepultura temporal, ofereceram mirra”.15
Voltaram por outro caminho
“Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho”.
Deus jamais deixa de proteger aqueles que O servem com amor e fidelidade. Se os Magos tivessem retornado a Herodes, eles mesmos poderiam ter precedido os Inocentes na morte.
A todos nós, Deus nos faz retornar à Pátria “por outro caminho”, segundo nos ensina São Gregório Magno. Infelizmente, deixamos o Paraíso Terrestre pelo pecado de orgulho de nossos primeiros pais; mais ainda, dele nos afastamos pelo apego às coisas deste mundo e devido aos nossos próprios pecados. Deus, como bom Pai, nos oferece o Paraíso Eterno; mas, para nele entrar, o caminho é oposto ao do orgulho e da sensualidade, ou seja, o do desprendimento, da obediência, da renúncia às nossas paixões. Ele nos oferece um caminho fácil e seguro: “Ad Jesum per Mariam!” (A Jesus, por Maria!).


AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica II-II, q. 84 a.1. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica II-II, q. 81 a. 6. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 36, a. 2, resp. c. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 36, a. 3 ad I. MOPSUÉSTIA, Teodoro de, Fragmentos sobre o Evangelho de Mateus, 6. Cf. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 36 a. 3c. TUYA OP, Pe. Manuel de. Bíblia Comentada. Madrid: BAC, 1964, v. II, p. 35. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 36, a. 5 resp. Ver quadro anexo: Não foi uma das estrelas do céu. FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid: Rialp, 2000. v. I. p. 7-8. Homilias sobre o Evangelho de Mateus, 6, 4: PG 57, 67-68. Cf. Antiguidades dos Judeus, l. XV, c. 10, 4. TUYA OP, Pe. Manuel de. Op. Cit. p. 39. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 36 a. 8, resp. ANÔNIMO. Obra incompleta sobre o Evangelho de Mateus, 2: PG 56, 642.

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