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quinta-feira, 22 de março de 2012

5º Domingo da Quaresma

Glória e vanglória
O Doutor Angélico começa por se perguntar se o desejo de glória é pecado. Para responder, ele lembra que, segundo Santo Agostinho, “receber glória é receber brilho”. E continua: “O brilho tem uma beleza que impressiona os olhares. É a razão pela qual a palavra glória implica a manifestação de algo que os homens julgam belo. (...) Mas, como aquilo que é especialmente brilhante pode ser visto pela multidão, mesmo de longe, a palavra glória indica precisamente que o bem de alguém chega à aprovação e conhecimento de todos”.
Tendo assim definido o sentido de “glória”, ele afirma: “Que se conheça e aprove seu próprio bem, não é pecado”. Igualmente “não é pecado querer que suas boas obras sejam aprovadas pelos outros, pois lê-se em São Mateus (5, 16): ‘Brilhe vossa luz diante dos homens’. Assim, o desejo de glória, de si, não se refere a nada de vicioso.”
Em sentido contrário, explica São Tomás que o apetite da glória vã é vicioso e se verifica em três circunstâncias: 1) quando a realidade da qual quer-se tirar a glória não existe ou não é digna de glória; 2) quando as pessoas junto às quais se procura a glória não têm opiniões confiáveis; 3) quando o desejo de glória não está relacionado com o fim necessário: a honra de Deus ou a salvação do próximo.
Na sequência desse raciocínio, o Aquinate afirma: “O homem pode louvavelmente desejar sua própria glória para o serviço dos outros, como está dito (Mt 5, 16): ‘para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus’.” A glória que podemos receber de Deus não é vã, e ela está prometida em recompensa pelas boas obras.
É legítimo desejar a própria glória
O resultado é que se pode desejar o louvor “enquanto for útil para alguma coisa:
1) para que Deus seja glorificado pelos homens; ou 2) para que os homens progridam por causa do bem que descobrem no outro; ou 3) para que o próprio homem, pelos bens que ele descobre em si pelo testemunho de elogio que lhe é dado, se esforce para perseverar e progredir mais nisso.”
Temos, portanto, de um lado a vanglória, e de outro a verdadeira glória, virtuosa desde que voltada para o louvor de Deus, para o fazer bem aos outros e para a própria santificação.
São Tomás conclui sua análise tratando da necessidade de cada um zelar por sua boa fama, e assevera: “É louvável tomar cuidado pelo bom renome, e querer ser bem visto por Deus e pelos homens, mas não deleitar-se em vão com o elogio dos homens.”
Em vista disso, almejar a própria honra é uma obrigação. Assim nos exorta o livro do Eclesiástico (41, 15-16): “Cuida em procurar para ti uma boa reputação, pois esse bem ser-te-á mais estável que mil tesouros grandes e preciosos. A vida honesta só tem um número de dias; a boa fama, porém, permanece para sempre.” O livro dos Provérbios (22, 1) vai no mesmo sentido: “O bom renome vale mais que grandes riquezas; a boa reputação vale mais que a prata e o ouro.” E São Paulo aconselha (Rm 12, 17): “Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens”.
Continua

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