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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Evangelho 3º domingo de Páscoa- ano B Lc 24, 35-48

Continuando
Obstáculo à divina cólera
Ademais, quis beneficiar-nos junto ao Pai. A conservação dessas cicatrizes é-nos de fundamental importância, pois constituem elas um poderoso obstáculo a que a santa e divina cólera desabe sobre nós, devido às nossas culpas.
“Com esse detalhe, Ele os robustece na Fé e estimula à devoção, pois, em vez de eliminar as feridas que por nós recebeu, preferiu levá-las para o Céu e apresentá-las a Deus Pai como resgate de nossa liberdade. Por isso, o Pai deu-Lhe um trono à Sua direita, abraçando os troféus de nossa salvação”.5
Na Terra, servia-Se Ele da palavra a fim de pedir ao Pai perdão para os carrascos: “Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). No Céu, não necessita abrir os lábios para nos obter o beneplácito: suficiente é mostrar-Lhe Suas cicatrizes.
Prova de Seu ilimitado amor de Salvador
Os Santos Padres afirmam ter Nosso Senhor querido conservar as marcas dos tormentos sofridos por Ele, com vistas ao Juízo Final, para a confusão dos maus e alegria dos bons. Serão elas um símbolo de Sua infinita misericórdia, prova de Seu ilimitado amor de Salvador, desprezado, renegado e ultrajado por alguns, e fonte inesgotável de bênçãos e graças para outros, objeto de ação de graças e adoração por toda a eternidade.
Confusão para uns, júbilo para outros. Naquele dia, dies iræ, todas as criaturas humanas verão as chagas dEle; portanto, também eu poderei adorá-las e nelas me alegrar, se tiver andado pelos caminhos da virtude, da graça e da santidade.
Através desse meio, Jesus fortificava a Fé dos Apóstolos, eliminando qualquer pretexto para a incredulidade, ou até mesmo para uma simples dúvida, tornando-os verdadeiras testemunhas, pelos séculos afora. Manifesta, ademais, seu amor por eles e, em consequência, também por nós, proporcionando-nos um poderoso estímulo para retribuirmos Seu incomensurável afeto, pela disposição de a Ele nos entregarmos inteiramente.
Ali, naquelas santas chagas, encontramos uma excelente âncora para a nossa confiança. Elas como que nos dizem: “Não temais, Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33). Vivamos o conselho dado por São Paulo: “Corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador de nossa Fé, Jesus. Em vez de gozo que Se lhe oferecera, Ele suportou a Cruz e está sentado à direita do trono de Deus” (Hb 12, 1-2).
Incutem-lhes forças para aceitar os suplícios
Não podemos descartar a hipótese de que Jesus quis fazer os Apóstolos apalparem Suas santas chagas para facilitar-lhes a paciência que deveriam praticar, face às imensas dificuldades que sobre eles adviriam, na difusão do Evangelho, de parte dos tiranos, gentios e dos seus próprios co-nacionais. Os sagrados estigmas, ora glorificados, incutiam-lhes forças para aceitar com resignação, fortaleza e ânimo todos os suplícios a eles reservados.
Dessa forma, também nós, na adoração a essas chagas, somos estimulados a, com calma, serenidade e paz, suportar as adversidades tão comuns à nossa passagem por este vale de lágrimas. Quando algo desagradável, doloroso ou dramático vier atravessar nossa caminhada, adoremos as marcas dos tormentos aceitos pelo Salvador em nosso benefício, e saibamos, em algo, retribuir tão incomensurável misericórdia. E, no Céu, teremos inegável alegria em considerar as chagas que nos obtiveram a salvação eterna: “Vosso coração se alegrará e ninguém tirará vossa alegria” (Jo 16, 22).
Os Apóstolos as viram e apalparam
Teriam os Apóstolos tocado as Chagas de Jesus? Sim, tal qual fez São Tomé. Oh felix culpa! Autores de peso são de parecer que os Apóstolos contaram-lhe a graça de terem posto o dedo na chaga de Jesus, e daí seu famoso dito (Jo 20, 25).
“Não só os convidara a ver e apalpar, mas mostrou-lhes Seus pés e mãos. Não parece, pois, crível que eles deixassem de tocá-Lo, curiosos como estavam de conhecê-Lo. Além disso, se não O tivessem tocado, seria pelo fato de acreditarem, sem necessidade dessa prova; consta, porém que não creram somente por vê-Lo, como se diz em seguida”.6
Essa reação dos Apóstolos pareceria, à primeira vista, ocasionada por pura incredulidade, mas bem poderia ser o fruto de tal inebriamento que mais se julgavam em estado de sonho do que de realidade. Estavam penetrados de tão grande júbilo por vê-Lo ressuscitado, que não podiam crer no que os próprios olhos lhes mostravam.
“O Evangelista escreve isso como sendo uma atenuante para a falta dos discípulos em não acreditar, insinuando que, se eles não creram, foi mais pelo desejo da verdade do que por obstinação contra a verdade. Às vezes nos acontece de não acreditar naquilo que mais desejamos, como sucedeu a Jacó, quando lhe contaram que seu filho José estava vivo; e com São Pedro, ao ser libertado do cárcere contra todas as suas expectativas: julgava ser um sonho, e não realidade, o que se passava com ele. [...]
“Tomando-se ao pé da letra o que aqui está dito (que eles não acreditavam), não se deve estender essa descrença a todos quantos se encontravam no Cenáculo, pois pelo menos aqueles que disseram ter visto o Senhor — como São Pedro e talvez algum outro — certamente criam”.7
No próximo post...

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