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terça-feira, 3 de abril de 2012

Jesus lava os pés dos discípulos- Evangelho João 13, 1-30

Continuação dos comentários ao Evangelho Jo 13, 6-10 - Quinta-feira Santa

Cristo dava em tudo prioridade a Pedro

“Chegou, assim, a Simão Pedro”.

Alguns comentaristas antigos — como Orígenes, Leôncio, Crisóstomo, Teofilacto e Eutímio — opinam que Nosso Senhor começou por lavar os pés de Judas “para pagar ao traidor o mal com o bem e comovê-lo por meio de um benefício singular, bem como advertir-nos de que devemos agir semelhantemente com nossos inimigos”.

Mas Santo Agostinho, São Beda e muitos outros autores afirmam ter Ele começado por Pedro. “Primeiro, porque é certo que em tudo Cristo dava prioridade a Pedro, como cabeça dos demais Apóstolos; segundo, por não se poder acreditar que os outros Apóstolos não protestassem caso Cristo começasse por eles”.

Nunca devemos rejeitar uma Graça

6“Pedro disse: ‘Senhor, tu me lavas os pés?’. 7 Respondeu Jesus: ‘Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás’. 8 Disse-lhe Pedro: ‘Tu nunca me lavarás os pés!’. Mas Jesus respondeu: ‘Se Eu não te lavar, não terás parte comigo’. 9 Simão Pedro disse: ‘Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça’. 10 Jesus respondeu: ‘Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos’”.

Ao ver Cristo Se aproximar para lavar-lhe os pés, São Pedro, sempre impulsivo, teve um verdadeiro sobressalto. Como os demais Apóstolos, não podia compreender naquele momento a transcendência do gesto do Divino Mestre. Mas Nosso Senhor lhe adverte que se não o permitisse, não teria parte com Ele.

Podemos imaginar o que deve ter sido sentir os próprios pés sendo lavados pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade! Não terá ele experimentado também, à medida que as sagradas e adorabilíssimas mãos de Jesus retiravam a poeira do caminho, que todos os passos dados por esses pés, que não foram bons, ou foram quiçá pecaminosos, estavam sendo perdoados e uma alvura divina penetrava em sua alma?

E nós? Se quisermos ter parte com Jesus, devemos pedir, como São Pedro, a Graça de sermos purificados por inteiro, ou seja, que o preciosíssimo Sangue do Redentor limpe todas as nossas faltas. Pois, como sublinha Maldonado, “na pessoa de Pedro, o Senhor fala a todo o gênero humano, e nos ensina que ninguém terá parte com Ele se não se deixar lavar por Ele. Com efeito, quem poderá salvar-se sem ser lavado e purificado pelo Sangue de Jesus?”.

Ora, o exemplo do Príncipe dos Apóstolos ensina-nos também que, para participarmos do Divino Banquete, precisamos ter em relação a Jesus uma atitude de total aceitação, nunca rejeitando alguma graça que Ele queira nos conceder, por mais inexplicável, ou até imerecida, que ela nos possa parecer. A esse respeito, sublinha um piedoso comentarista: “Quão importante é não se opor à vontade de Deus nem à dos superiores que O representam, mesmo sob o falacioso pretexto da piedade ou da humildade! São Basílio tira desta passagem do Evangelho duas regras de conduta cheias de sabedoria: desagrada a Deus quem se opõe à sua vontade, mesmo se o faz com boa intenção; deve-se aceitar com a maior docilidade possível tudo quanto quer o Senhor”.17 Santo Agostinho assim comenta o diálogo entre o Salvador e Pedro: “‘Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás’. Assustado pela profundidade daquela ação do Senhor, não permite que se lhe faça aquilo cujo motivo ignora; não pode ver, não pode resistir a Cristo humilhado aos seus pés. ‘Tu nunca me lavarás os pés!’. “

‘Se Eu não te lavar, não terás parte comigo.’ Então, angustiado entre o amor e o temor, e mais inquieto por ser negado por Cristo do que por vê-Lo assim humilhado, replicou: ‘Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça’. Se assim ameaças, aqui tens meus membros e, além de não tirar o mais baixo, entrego-Te o mais alto”.

Quanto ao simbolismo do gesto de lavar a cabeça e as mãos, lembremos ainda o comentário do grande São Bernardo: “Está lavado quem não tem pecados graves; aquele cuja cabeça, isto é, sua intenção, e cujas mãos, ou seja, sua conduta e suas obras, estão limpas”.

Entretanto, nem todos estavam limpos para o Banquete Eucarístico que iria, em seguida, se realizar.

Eis o que a esse propósito nos diz Luís de Granada: “Contempla, pois, nesta Ceia, ó minha alma, teu doce e benigno Jesus, e observa o exemplo de inestimável humildade que Ele aqui te dá, levantando-Se da mesa e lavando os pés de Seus discípulos. Ó bom Jesus, o que fazes?! Ó doce Jesus, por que tanto Se humilha tua majestade?! O que sentirias, minha alma, se visses Deus ali ajoelhado aos pés dos homens, aos pés de Judas? Oh, cruel, como não se abranda teu coração ante tão grande humildade? Como tamanha mansidão não é capaz de partir tuas entranhas? É possível que tenhas decidido vender esse mansíssimo Cordeiro? É possível que esse exemplo não te cause agora compunção?”.

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