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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Jesus lava os pés dos discípulos- Evangelho João 13, 12-15

Continuação dos comentários ao Evangelho Jo 13, 12-15

Figura da caridade fraterna

Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-Se de novo. E disse aos discípulos: ‘Compreendeis o que acabo de fazer? 13 Vós Me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois Eu o sou. 14 Portanto, se Eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15 Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que Eu fiz’”.
Santo Agostinho, com seu voo de águia nos céus da teologia e da piedade, nos deixou esta bela consideração a respeito dos presentes versículos: “Ó bem-aventurado São Pedro! Isso é o que ignoravas quando não permitias que te lavasse; isso é o que teu Senhor e Mestre prometeu que haverias de saber depois, quando te assustou para que Lhe permitisses lavar-te. Aprendamos, irmãos, a humildade do Altíssimo; façamos uns aos outros, humildes, o que o Altíssimo fez humildemente. Grande é este sermão sobre a humildade. Alguns irmãos o põem em prática com obras visíveis, quando recebem outros hospitaleiramente, conservando esses costumes humildes (I Tm 5, 10). Contudo, onde não mais existem esses costumes, os santos executam com o coração aquilo que não fazem com as mãos, se realmente podem ser contados no número daqueles dos quais diz o hino dos três santos varões: ‘Santos e humildes de coração, bendizei o Senhor’” (Dn 3, 87).24

A afirmação de Nosso Senhor nesse versículo 13 — “Eu o sou” — evoca poderosamente o “Eu sou Aquele que é”, do Antigo Testamento, bem como a resposta com a qual Ele prostrará por terra os soldados, no Horto das Oliveiras: “Ego sum – Sou Eu” (Jo 18, 5).

Cristo faz o papel de servo, salienta Fillion, “com pleno conhecimento e convicção de Sua divindade”. Sabia que “o Pai tinha posto tudo em Suas mãos” e — como bem pondera o padre Truyols — “tendo perfeita consciência do ilimitado poder que o Pai lhe conferira, de ter sido engendrado pelo mesmo Pai e de que brevemente subiria aos Céus para sentar-Se à Sua direita, apesar de conhecer muito bem esta Sua excelsa grandeza e infinita dignidade, quis Jesus abaixar-Se a ponto de lavar os pés de Seus discípulos”.

Esclarece o mesmo Fillion: “Claro que Jesus não tencionava fazer do lava-pés uma instituição durável e um rito obrigatório; Seu ato era, antes de tudo, figura da caridade fraterna que os cristãos devem exercer mutuamente”. Na mesma linha, observa o Cardeal Gomá: “Jesus nos apresenta a espécie como gênero, um caso particular como lei geral: pelo lava-pés, devemos entender todos os exemplos de humildade e de caridade”.

A lição dada por Nosso Senhor representava uma monumental quebra dos padrões vigentes. Ele queria dar o exemplo de quanto devemos nos interessar pelos outros, sobretudo no que diz respeito à salvação da alma, preocupando-nos de que cada um dos nossos irmãos progrida cada vez mais na vida espiritual, tal como pondera, de modo admirável, Santo Agostinho: “Além dessas considerações morais, podemos entender que o Senhor nos recomenda lavar-nos uns aos outros — purificando nossos afetos — esses pecados que aderem a nós quando caminhamos pelo mundo. Como será isso? Podemos acaso dizer que alguém tem possibilidade de limpar seu irmão do contágio dos delitos? Claro que sim! E disso somos advertidos também por esses assombrosos atos do Senhor, ou seja, que, confessando-nos mutuamente nossos delitos, oremos por nós como Cristo intercede por nós (cf. Rm 8, 34). Ouçamos o Apóstolo São Tiago que nos ordena isso, dizendo com toda clareza: ‘Confessai mutuamente vossos pecados e orai uns pelos outros para serdes salvos’ (Tg 5, 16). […]

“Portanto, perdoemo-nos mutuamente nossos pecados, oremos mutuamente por nossos delitos, e assim, de certo modo, nos lavaremos os pés uns aos outros. A nós cabe, por sua Graça, esse ministério da caridade e da humildade, enquanto a Ele corresponde escutar-nos e limpar-nos de toda mancha de pecado, por Cristo e em Cristo, para que aquilo que perdoemos, isto é, aquilo que desliguemos na terra, seja desligado no Céu’”.

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