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domingo, 28 de maio de 2017

Comentários Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel

Meditação e comentários de Mons João Clá Dias à festa da Visitação de Nossa Senhora

I – Maria nos convida a empreender um caminho …
39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. (Lc 1, 39-40). Maria nos dá o exemplo de quanto nós devemos ser sensíveis, o quanto devemos ser flexíveis, o quanto devemos estar prontos para atender as inspirações que Deus põe em nossas almas.
   Quantas e quantas vezes nós, ao longo de nossa vida, temos essas ou aquelas inspirações, temos esses ou aqueles toques interiores da graça, sentimos em nossa alma que devemos empreender um caminho ou então abandonar algo que nos prejudica, que nos leva a ofender a Deus. Quantas vezes sentimos a voz de consciência, ou a própria voz de Deus nos convidando a empreender um caminho…
   Nossa Senhora foi visitar Santa Isabel, não porque pudesse haver qualquer resquício de dúvida sobre o que tinha dito o Anjo, ou então que este a tivesse enganado. Jamais isto teria acontecido. Ela foi visitar a prima porque recebeu uma inspiração de fazê-lo, foi tocada por uma graça, recebendo assim, um impulso em seu interior e obedecendo a este prontamente. Ela põe-se a campo, porque lhe veio ao espírito uma preocupação:
   ‘Minha prima está para dar a luz, não contou nada a ninguém, não haverá quem a ajude, ela não tem filhos, está sozinha, eu preciso ajudá-la. Maria não pensou em si; bateu-se em direção à cidade em que estava Santa Isabel, que era distante de três a quatro dias de caminhada. Certamente acompanhou alguma caravana que por lá passava, pois, viajar sozinho naquela época, era um risco enorme.
   Entretanto, pôs-se em direção para onde? O Evangelho diz:” dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia”.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Evangelho Solenidade da Anunciação do Senhor – 25 de Março

Comentários ao Evangelho da Solenidade da Anunciação do Senhor – 25 de Março
Naquele tempo, 26 o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27 a uma Virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria.
28 O Anjo entrou onde Ela estava e disse: “Alegra-Te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”
29 Maria ficou perturbada com essas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação.
30 O Anjo, então, disse-Lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. 32 Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai Davi. 33 Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu Reino não terá fim”.
34 Maria perguntou ao Anjo: “Como acontecerá isso, se Eu não conheço homem algum?”
35 O Anjo respondeu: “O Espírito virá sobre Ti, e o poder do Altíssimo Te cobrirá com sua sombra. Por isso, o Menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus.
36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37 porque para Deus nada é impossível”.
38 Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em Mim segundo a tua palavra!” E o Anjo retirou-se (Lc 1, 26-38).
Maria seria capaz de restabelecer a ordem no universo?
A Solenidade da Anunciação do Senhor é a mais bela ocasião para celebrar a restauração da harmonia no universo. É a comemoração do dia no qual a criação passou a transluzir com um brilho todo divino, pelos méritos de Maria Santíssima.
Um Universo composto por criaturas com deficiências
Se nos fosse dado contemplar a imensidade dos possíveis de Deus, ou seja, o incontável número de seres que Ele poderia ter criado em sua onipotência, veríamos criaturas semelhantes às deste mundo, mas sem os seus característicos defeitos. Por exemplo, ouriços constituídos sem meios de causar mal aos homens; pernilongos lindíssimos dotados de uma picada agradável e benfazeja; urubus de figura tão elegante quanto os seus voos, e assim por diante.
Por que não pôs Deus no universo criaturas assim, sem qualquer defeito, as quais poderiam ter sido criadas e não o foram?
Pergunta esta de difícil resposta. O certo, porém, é que no universo no qual vivemos três criaturas são insuperáveis: a humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, unida hipostaticamente à divindade; a visão beatífica e Nossa Senhora.1 Todos os outros seres, considerados individualmente, poderiam ser mais perfeitos.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Homilia Solenidade de São José, esposo da Virgem Maria

COMENTÁRIOS DE MONS. JOÃO CLÁ DIAS AO EVANGELHO SOLENIDADE DE SÃO JOSÉ -  Mt 1, 1 6. 18-2 1 .24a
Para ler os comentários clique na imagem abaixo.

domingo, 29 de maio de 2016

Evangelho X Domingo Tempo Comum - Ano C - Lc 7, 11-17

Comentários ao Evangelho X Domingo do Tempo Comum - Ano C
"Naquele tempo, 11 Jesus dirigiu-Se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão. 12 Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava. 13 Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chore!'. 14 Aproximou-Se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse: ‘Jovem, eu te ordeno, levanta-te!'. 15 O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16 Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: ‘Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo'. 17 E a notícia do fato espalhou-se pela Judeia inteira e por toda a redondeza" (Lc 7, 11-17).
O impacto das iniciativas do Redentor
Para fazer milagres, Jesus exigia uma prova de fé do favorecido. Mas, às vezes, era Ele que se adiantava a qualquer pedido e distribuía seus divinos benefícios. Esse modo de agir encerra em si um profundo significado.
I - O choque das grandes conversões
Na História da Igreja é frequente encontrarmos situações nas quais um apóstolo, inspirado por Deus, deseja a conversão de alguma alma afastada da Religião. Entretanto, muitas vezes seu ardor se vê coarctado pela negativa de quem é objeto de seu zelo. Todos os esforços se revelam inúteis, pois a argumentação não logra dobrar uma vontade obstinada.
Afonso Ratisbonne, por exemplo, era um israelita de raça e religião, profundamente enraizado em suas tradições. Seu amigo, o Barão de Bussières, movido por uma moção interior da graça, usou dos mais convincentes recursos da apologética para tentar convertê-lo à Igreja Católica, sem obter sucesso. Aferrado às próprias convicções e mais preocupado em gozar das delícias da vida que o futuro lhe oferecia, Afonso aceitou apenas levar ao pescoço uma medalha de Nossa Senhora das Graças, com a promessa, a contragosto, de recitar todos os dias o Memorare - o "Lembrai-Vos", a conhecida oração de São Bernardo. "Eu não podia me dar conta" - narraria mais tarde o Barão de Bussières - "da força interior que me impelia, a qual, a despeito de todos os obstáculos e da obstinada indiferença oposta por ele a meus esforços, dava-me uma convicção íntima, inexplicável de que, cedo ou tarde, Deus lhe abriria os olhos".1

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Evangelho IX Domingo do Tempo Comum – Ano C - Lc 7, 1 -10

Comentários ao Evangelho 9º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Naquele tempo, 1 quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. 2 Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte.3 O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado.4 Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças este favor, 5 porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga”.
6 Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa.7 Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente a teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. 8 Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem e ao meu empregado ‘Faze isto!’, e ele o faz”.

9 Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”.10 Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde (Lc 7, 1 -10).
A medida de nossa fé é nossa esperança
Nosso Senhor Jesus cristo pode e quer nos auxiliar em todas as nossas necessidades. Mas Ele condiciona a manifestação de sua onipotência misericordiosa à intensidade de nossa fé.
O Verbo divino é onipotente
Pelo semblante se conhece um homem; pelo aspecto do rosto se reconhece o sábio. A maneira como um homem se veste e como sorri, e a sua maneira de andar revelam aquilo que ele é”, observa o Eclesiástico (19, 26-27), transformando em máxima esse curioso matiz do relacionamento social. De fato, observar o exterior de uma pessoa leva-nos a melhor conhecê-la, pois algo da própria personalidade transparece tanto através da constituição física do corpo, quanto por meio de suas reações temperamentais.
Assim, embora o homem não veja o que se passa no interior de seu semelhante, pode discerni-lo pelas manifestações exteriores. Tal capacidade de percepção ocupa importante papel na vida em sociedade, pois, permitindo ao homem formar uma noção mais completa a respeito de seu próximo, propicia certa facilidade de mútua compreensão e adaptação, fatores indispensáveis para uma boa convivência.
Não obstante, essa regra teve uma singular exceção na História: Nosso Senhor Jesus Cristo. Sem dúvida, seu semblante e modo de ser denotavam, de forma indiscutível, um caráter superior. No aspecto físico não havia a mínima incorreção; dos gestos e do olhar emanavam nobreza e sublimidade, além de uma irresistível força de atração sobre quem O contemplasse, mesmo por poucos instantes. Contudo, por mais extraordinária que fosse a compleição de Jesus — a qual refletia sua perfeitíssima alma humana —, ela não evidenciava sua personalidade divina. E essa foi a prova de todos os que d’Ele se aproximaram durante os 33 anos de sua vida mortal: crer na divindade d’Aquele Mestre “exteriormente reconhecido como homem” (Fl. 2,7).

quinta-feira, 5 de maio de 2016

EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES – ANO C – Jo 20, 19-23

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO PENTECOSTES – ANO C – Jo 20, 19-23
19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”.
20Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
21Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.
22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”. (Jo 20, 19-23).
"Formamos um só corpo, e todos nós bebemos de um só Espírito" (1 Cor 12, 13). Quem é o Espírito Santo, como foram as circunstâncias e quais as principais graças concedidas a Maria e aos discípulos por ocasião de Pentecostes? Eis os ensinamentos que a Liturgia nos coloca à disposição na festa de hoje, fazendo-nos compreender onde se encontra a verdadeira paz.
I - A IGREJA POR OCASIÃO DE PENTECOSTES
Oração numa atmosfera de harmonia e concórdia
Como outras tantas festas litúrgicas, Pentecostes nos faz recordar um dos grandes mistérios da fundação da Igreja por Jesus. Encontrava-se ela em estado ainda quase embrionário - alegoricamente, poder-se-ia compará-la a uma menina de tenra idade - reunida em torno da Mãe de Cristo. Ali no Cenáculo, conforme nos descrevem os Atos dos Apóstolos na primeira leitura, passaram-se fenômenos místicos de excelsa magnitude, acompanhados de manifestações sensíveis de ordem natural: ruído como de um vento impetuoso, línguas de fogo, os discípulos exprimindo-se em línguas diversas sem tê-las antes aprendido. A alta significação simbólica do conjunto desses acontecimentos, como de cada um em particular, constituiu matéria para inúmeros e substanciosos comentários de exegetas e teólogos de grande valor, como se torna claro por anteriores observações feitas por nós em artigo publicado em 2002 (1). Hoje, cabe-nos ressaltar outros aspectos de não menor importância correlacionados com a narração feita por São Lucas (At 2, 1-11), para assim melhor entender o Evangelho em questão e, portanto, a própria festividade de Pentecostes.
Enquanto figura exponencial, destaca- se Maria Santíssima, predestinada desde toda a eternidade a ser Mãe de Deus. Dir-se-ia que havia atingido a plenitude máxima de todas as graças e dons, entretanto, em Pentecostes, mais e mais Lhe seria concedido. Assim como fora eleita para o insuperável dom da maternidade divina, cabia-Lhe o tornar-se Mãe do Corpo Místico de Cristo e, tal qual se deu na Encarnação do Verbo, desceu sobre Ela o Espírito Santo, por meio de uma nova e riquíssima efusão de graças, a fim de adorná-La com virtudes e dons próprios e proclamá-La "Mãe da Igreja".
Em seguida estão os Apóstolos; constituem eles a primeira escola de arautos do Evangelho. Observavam as condições essenciais para estarem aptos à alta missão que lhes destinara o Divino Mestre, conforme nos relata a Escritura: "Todos estes perseveraram unanimemente em oração, com algumas mulheres e com Maria, Mãe de Jesus, e com os seus irmãos" (At 1, 14).
Essa perseverança na oração se realizou de forma continuada e no silêncio, na solidão e clausura do Cenáculo. A atmosfera era de máxima concórdia, harmonia e união entre todos, de verdadeira caridade fraterna. São Lucas em seu relato faz questão de realçar a presença de Maria, certamente para tornar patente o quanto Ela mesma se alegrava em ser uma fiel participante da Comunidade. Uma nota marcante é a submissão e obediência ao Vigário de Cristo tal qual transparece nos versículos subsequentes, ao relatarem o primeiro ato de governo e jurisdição de São Pedro (At 1, 15-22).

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Evangelho da Solenidade da Ascensão do Senhor – Ano C - Lc 24, 46-53

Comentário ao Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor - Ano C 
Os frutos da Ascensão nos beneficiam a cada instante, tal como a última bênção de Jesus aos Apóstolos, no Monte das Oliveiras, se prolonga através da História até cada um de nós.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 46“Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.

48Vós sereis testemunhas de tudo isso. 49Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.
50Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. 51Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. 52Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. 53E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus.  (Lc 24, 46-53).
Suprema glorificação de Cristo
Às vezes, a perfuração produzida por uma agulha é mais danosa do que o golpe de um martelo, sobretudo quando ela atinge pontos vitais. Essa comparação talvez ainda ganhe em substância e expressividade se revertida para o campo da polêmica doutrinária, como se verificou na refutação de São Bernardo ao judeu que, no alto do Calvário, desafiou a Cristo em sua agonia: “Se és o Filho de Deus, desce da Cruz” (cf. Mt 27, 42; Mc 15, 32). Segundo o Fundador de Claraval, é mal concebida essa proposta para comprovar a origem divina de Jesus, pois a realeza, e mais ainda a divindade de um ser, não se torna patente pelo ato de descer, mas muito ao contrário, pelo de subir. E foi exatamente o que sucedeu com Jesus, quarenta dias após sua triunfante Ressurreição. Por isso, debaixo de certo ângulo, a Ascensão do Senhor ao Céu constitui a festa de maior importância ao representar a glorificação suprema de Cristo Jesus. Ele próprio a havia pedido ao Pai: “Glorifica-Me junto de Ti mesmo, com aquela glória que tive em Ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17, 5); “Pai, chegou a hora, glorifica o teu Filho, para que teu Filho glorifique a Ti” (ibid. v. 1). Daí ser compreensível a manifestação de alegria dos Santos Padres ao comentarem essa glorificação do Cordeiro de Deus. “A glória de Nosso Senhor Jesus Cristo se completa com sua Ressurreição e Ascensão. (...) Temos, pois, o Senhor, nosso Salvador, Jesus Cristo, primeiro pendente de um madeiro e agora sentado no Céu. Pendendo no madeiro, pagava o preço de nosso resgate; sentado no Céu, recolhe o que comprou” (1).
A morte não sepultou Jesus no esquecimento

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Evangelho V Domingo da Páscoa – Ano C

Comentários ao Evangelho V Domingo da Páscoa – Ano C - Jo 13, 31-33a 34-35
Embora constatemos a instintiva repugnância de nossa natureza em relação a todo sofrimento, é nele que se encontra a porta da autêntica felicidade. E no amor ao próximo o sinal característico do cristão.
31 Depois que Judas saiu do cenáculo, disse Jesus: "Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo.
33a Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. 34 Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. 35 Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros" (Jo 13, 31-33a.34-35).
No sofrimento, a raiz da glória
I - A harmonia da natureza humana no Paraíso
Nossa vida na face da Terra pode ser definida como uma grande prova, pois viemos a este mundo para enfrentar uma existência tisnada pelo pecado, repleta de dificuldades, e só se formos fiéis às graças recebidas obteremos o prêmio da eterna bem-aventurança. A prova é posta pelo Criador no caminho de todos os seres inteligentes, e nem sequer os Anjos foram chamados à visão beatífica sem passar por ela.1 Adão e Eva, nossos primeiros pais, tinham sido introduzidos no Paraíso, em graça, também para serem experimentados e não foram fiéis. Ao romper a obediência e comer o fruto proibido, foram expulsos do Éden e privados de muitos dos privilégios concedidos por Deus quando viviam em estado de justiça, dentre os quais a ciência infusa, que dava o conhecimento dos segredos da natureza, a impassibilidade, pela qual não adoeciam, e o magnífico dom de integridade.
O dom de integridade

domingo, 20 de março de 2016

Evangelho Domingo da Páscoa - Ano C - Jo 20, 1-9

Comentários ao Evangelho Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor - Ano C  

A RESSURREIÇÃO DO SENHOR
Entre os acontecimentos daquele dia, há episódios que passam muitas vezes despercebidos; porém, bem analisados, revelam em toda a sua força o poder do amor.
Quia surrexit sicut dicit... Tal como havia anunciado aos seus (Mt 16, 21; 17,9; 17, 22; 20, 19; Jo 2, 19, 20 e 21; Mt 12, 40), Jesus ressuscitou. Esse supremo fato já havia sido previsto por David (Sl 15, 10) e por Isaías (Is 11, 10).
São Paulo ressaltará o valor desse grandioso acontecimento: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1 Cor 15, 14). Daí a importância capital da Páscoa da Ressurreição, a magna festa da Cristandade, a mais antiga, e centro de todas as outras, solene, majestosa e pervadida de júbilo: “Haec est dies quam fecit Dominus. Exultemus et laetemur in ea” — esse é o dia que o Senhor fez, seja para nós dia de alegria e felicidade (Sl 117, 24).
Na liturgia, essa alegria é prolongada pela repetição da palavra “aleluia”, pelo branco dos paramentos e pelos cânticos de exultação. Com razão dizia Tertuliano: “Somai todas as solenidades dos gentios e não chegareis aos nossos cinquenta dias de Páscoa” (TERTULIANO.De idolatria, c 14 ML 1, 683).
Na Ressurreição do Senhor, além de contemplarmos o triunfo de Jesus Cristo, celebramos também a nossa futura vitória, sendo aplicáveis a nós as belas palavras de São Paulo: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está o teu aguilhão?” (1 Cor 15, 55).
Cristo foi o único que ressuscitou por seu próprio poder
Elias operara a ressurreição do filho da viúva de Sarepta, em casa de quem vivia (1 Rs 17, 17-24). Mais tarde, o mesmo faria Eliseu com o filho de uma sunamita (2 Rs 4, 17-37).
O próprio Salvador, tomado de pena ao encontrar o cadáver da filha de Jairo, ordenou às mulheres que não mais chorassem, pois a menina apenas dormia. Jesus conservou consigo apenas os pais e três apóstolos e, tomando-a pela mão, disse: “Menina, eu te ordeno, levanta-te!” Ela se pôs de pé cheia de vida e de alegria. Maravilhados com o prodígio, os pais nem se deram conta de que a jovenzinha precisava se alimentar, e o próprio Mestre teve de lhes lembrar isto (Mc 5, 35-43).
A compaixão de Jesus pelos sofrimentos humanos se manifestou novamente ao deparar Ele com um enterro, na cidade de Naim. Todos caminhavam consternados em extremo, pois falecera o filho de uma viúva, seu único sustento. O féretro encontrava-se cercado por gente desfeita em pranto. As misericordiosas entranhas de Nosso Senhor se comovem: “Não chores”, diz Ele à pobre mãe. E, colocando sua onipotência divina a serviço de sua bondade infinita, diz: “Moço, eu te ordeno, levanta-te!” Obedecendo à solene voz do Criador, começou a falar aquele que havia pouco ainda era defunto. Jesus tomou-o pela mão e o entregou a sua mãe (cf. Lc 7, 11-16).

segunda-feira, 7 de março de 2016

Evangelho V Domingo da Quaresma - Ano C - Jo 8, 1-11

Comentário ao Evangelho V Domingo da Quaresma - Ano C  
1 Dirigiu-se Jesus para o Monte das Oliveiras. 2 Ao romper da manhã, voltou ao Templo e todo o povo veio a Ele. Assentou-Se e começou a ensinar. 3 Os escribas e os fariseus trouxeram-Lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. 4 Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: “Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. 5 Moisés mandou-nos na Lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes Tu a isso?” 6 Perguntavam-Lhe isso, a fim de pô-Lo à prova e poderem acusá-Lo. Jesus, porém, Se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra. 7 Como eles insistissem, ergueu-Se e disse-lhes: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”. 8 Inclinando-Se novamente, escrevia na terra. 9 A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante d’Ele. 10 Então Ele Se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: “Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?” 11 Respondeu ela: “Ninguém, Senhor”. Disse-lhe então Jesus: “Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar” (Jo 8, 1-11).
A Lei ou a Bondade?
No episódio da mulher adúltera, os evangelistas não revelam tudo quanto estava oculto na urdidura feita pelos fariseus para colocar Jesus diante de um dilema: condenar a pecadora à morte, violando a lei romana, ou salvar-lhe a vida, desconsiderando a Lei de Moisés. Jesus superou a justiça salomônica.
Jesus veio para perdoar
Os Evangelhos são o testamento da Misericórdia. O anúncio do maior ato de bondade havido em toda a obra da criação — a Encarnação do Verbo — é o frontispício, a bela abertura de sua narração. A chave de ouro com a qual esta termina deixa-nos sem saber se ainda não é mais bela e comovedora: a crucifixão e morte de Cristo Jesus para restabelecer a harmonia entre Deus e a humanidade.
A Bondade divina une substanciosamente esses dois extremos, a Gruta de Belém e o Calvário, através de uma seqüência riquíssima em acontecimentos escachoantes de amor pelos miseráveis: “Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19, 10). Essa alegria de Jesus em perdoar transparece nas doutrinas, conselhos e até mesmo nas parábolas por Ele elaboradas a fim de que seus ouvintes melhor entendessem sua misericórdia, como, por exemplo, a do filho pródigo (Lc 15, 11-32), a da ovelha desgarrada (Lc 15, 4-7) e a da dracma perdida (Lc 15, 8-10). A euforia de quem encontra, em qualquer dos três casos, reflete o contentamento do próprio Cristo ao promover o retorno de uma alma às vias da graça.
Ele é o Bom Pastor que ao apanhar a ovelha imprudentemente destacada do rebanho, a reconduz ao redil, a fim de infundir-lhe nova vida de maneira superabundante. E Ele a leva sobre seus próprios ombros, enquanto os Céus se enchem de um júbilo ainda maoir do que o causado pela perseverança dos justos (cf. Jo 10, 11-16; Lc 15, 4-7).
Dentro dessa atmosfera de amor, jamais vimos Jesus, ao longo de sua vida pública, tomar a menor atitude depreciativa em relação a quem quer que fosse: samaritanos, centurião, cananéia, publicanos, etc. A todos invariavelmente atendia com divina atenção e carinho: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Nenhuma pessoa d’Ele se aproximou em busca de uma cura, perdão ou consolo, sem ser plenamente atendida. Tal foi seu infinito empenho em fazer o bem, sobretudo aos mais necessitados: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mc 2, 17); “o Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu; e enviou-Me (...) para publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4, 18-19). O próprio Apóstolo dirá mais tarde: “Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o primeiro” (1 Tm 1, 15).
Malícia dos fariseus
Mas, assim como “é belo durante a noite acreditar na luz” (1), a Bondade substancial de Cristo Jesus se torna ainda mais luzidia aos nossos olhos quando contrastada com uma oposição toda feita de malícia. E esta nós a encontramos, radical e constante, do começo ao fim do Evangelho. Já o Precursor, ao distinguir entre os que o circundavam, alguns fariseus, os increpou: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vos ameaça? (...) Não digais dentro de vós: Nós temos Abraão por pai!” (Mt 3, 7-9).
São tão numerosas as investidas dos escribas e fariseus contra Jesus, em razão de sua misericórdia, que reproduziríamos uma boa parte dos Evangelhos se procurássemos ser minuciosos nas citações a esse respeito. Lembremos de passagem que eles chegam a chamá-Lo de possesso do demônio (Jo 8, 52; 10, 20; Lc 11, 15), distorcem suas palavras e afirmações (Mc 14, 58), perseguem-No com intensidade crescente (Jo cap. 7 a 11) até O condenarem à morte, e O acusam de revolucionário, porque, segundo eles, sublevava o povo contra o poder civil e afirmava que não devia ser pago o imposto ao imperador (Lc 23, 2).
Jesus, a Misericórdia substancial, não é menos duro para com eles: “Se compreendêsseis o sentido destas palavras: Quero a misericórdia e não o sacrifício... não condenaríeis os inocentes” (Mt 12, 7). Por sete vezes, Jesus os chama de hipócritas, com a expressão: “Ai de vós escribas e fariseus hipócritas”, para — em cada uma — atribuir-lhes um pecado (cf. Mt 23, 13-29).
Ódio contra a bondade de Jesus
Essa indisposição farisaica contra Jesus tomava como motivo implícito sua infinita misericórdia, virtude específica de Deus: “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus, e se vós não as ouvis é porque não sois de Deus” (Jo 8, 47). E, sobretudo, porque não queriam ser verdadeiros filhos de Deus, mas sim do diabo (Jo 8, 44). Além dessa terrível ascendência que lhes é definida por Jesus, recebem também o título de “ladrões” (Jo 10, 10), “homicidas” (id.), “víboras” (Mt 12, 34).
Ora, o ódio farisaico contra a Bondade também deveria se refletir na repulsa que manifestavam em relação aos necessitados. E é, portanto, no contraste com a acidez dos fariseus e escribas contra os pecadores que vemos rebrilhar ainda mais a Bondade de Cristo. Ela se torna histórica quando chega aos extremos limites de absolver uma Madalena (Lc 7, 47-48) ou, no alto do Calvário, o bom ladrão (Lc 23, 43).
Os fariseus se indignavam contra essas atitudes de Jesus porque seu puritanismo procedia de uma falsa justiça, toda feita de orgulho, e por isso se afastavam dos miseráveis, desprezavam-nos e jamais demonstravam sentimentos de compaixão por qualquer carente. 
É no embate entre a Bondade infinita e o falso amor à Lei, que se desenrola o drama do Evangelho de hoje.
O episódio da mulher adúltera
1Dirigiu-se Jesus para o Monte  das Oliveiras.
Segundo nos diz Alcuíno (2), Jesus passava o dia pregando no Templo de Jerusalém e, ao entardecer, retornava a Betânia para repousar na casa de Lázaro. De acordo com este versículo, nessa ocasião, por ser a última tarde de festa, é possível que Jesus tenha passado a noite em oração, no Monte das Oliveiras. Quem melhor comenta esta passagem é o Pe. Andrés Fernandez Truyols, SJ: “Terminado o ministério apostólico de todo dia, tornado mais árduo pelas discussões às quais seus eternos adversários o obrigavam, que não lhe deixavam momento de repouso, enquanto seus ouvintes voltavam cada um para sua casa, Jesus se retirou para o Monte das Oliveiras. Não parece que se afastasse até Betânia, o que teria sido provavelmente indicado pelo autor. O mais certo é que passasse a noite numa tenda ou uma gruta; talvez naquela que foi considerada por muitos como a Gruta da Agonia ou, porventura, na que se encontra quase no topo do monte, e que a tradição consagrou como a cátedra dos ensinamentos de Jesus, sobre a qual Santa Helena edificou uma basílica. Desse modo, tanto de uma como da outra, Jesus podia dirigir-se rapidamente ao Templo pela porta oriental, que coincidiria mais ou menos com a hoje chamada Porta Dourada. De resto, o Monte das Oliveiras era um local familiar para Jesus” (3).
2 Ao romper da manhã, voltou ao Templo e todo o povo veio a Ele. Assentou-Se e começou a ensinar
Ninguém jamais poderá imaginar a irresistível força de atração exercida por Jesus em relação a quem viesse a conhecê-Lo. Disso dão uma ideia os Evangelhos, que constituem meras sínteses de maravilhas indescritíveis. Tal é seu empenho em fazer o bem que, logo ao raiar do dia, Ele vai ao Templo, certamente já seguido por outros pelo caminho. À sua entrada todos se juntam a seu redor para ouvi-Lo. Era o início de mais uma longa jornada de pregação conversada, na qual poderiam tomar parte ativa, com perguntas ou comentários, quaisquer dos presentes, numa atmosfera inteiramente amena e familiar. Por isso, Ele Se sentou e começou a ensinar. De repente, aquele sagrado convívio foi interrompido por um fato inusitado.
A adúltera é apresentada a Jesus
3 Os escribas e os fariseus trouxeram-Lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. 4 Puseram-na no meio da multidão…
A adúltera foi colocada no centro da multidão, para ser julgada, como fautora de um crime e, dessa forma, ipso facto, constituíram a Jesus como juiz.
Esse fato, inevitavelmente, levanta uma importante questão: o que teria acontecido com o homem implicado na mesma falta? Qual a razão de ele não ter sido apresentado a Jesus, nessa ocasião? Ora, o texto da Escritura é peremptório sobre a obrigatoriedade da punição de ambos: “Se um homem cometer adultério com uma mulher casada, com a mulher de seu próximo, o homem e a mulher adúltera serão punidos de morte” (Lv 20, 10); ou ainda: “Se se encontrar um homem dormindo com uma mulher casada, ambos deverão morrer: o homem que dormiu com a mulher, e esta da mesma forma. Assim, tirarás o mal do meio de ti” (Dt 22, 22).
Várias hipóteses levantam os autores a esse respeito; não encontramos, porém, nenhuma que leve até ao extremo a desconfiança em relação à perfídia daqueles escribas e fariseus. Permitido nos seja, conhecendo a consumada maldade que lhes era característica, levantar uma suspeita sobre a “fuga” do infrator adúltero: não seria ele cúmplice de seus mandantes para, assim, conseguirem um flagrante? Neste caso, provavelmente, a adúltera teria sido induzida ao crime, deixando-se levar mais por ingenuidade e pela inclinação de suas paixões, do que por dolo.
Cabe aqui a pergunta clássica: “A quem aproveitou o crime?” Já na época de Daniel, os acusadores não haviam conseguido agarrar o suposto parceiro de Suzana no adultério caluniosamente inventado pelos dois juízes anciãos. E no caso do Evangelho de hoje, quem era o criminoso? A mulher teria se negado a declará-lo? Espanta-nos a facilidade com que os escribas e fariseus encontraram uma adúltera, para ser introduzida no Templo, bem àquela hora e em tal circunstância, tão favoráveis para armar uma cena show que envolvesse a Jesus.
Acrescente-se este outro dado: duas criaturas humanas, adultas, que fossem perpetrar um crime punido com pena de morte imediata, por mais primitivas que fossem, procurariam se proteger de qualquer risco de um flagrante. Ora, o caso em questão realizou-se em condições tais que dificilmente deixaria de ter sido planejado por terceiros, interessados em sua consecução.
Os fariseus invocam uma lei em desuso
…multidão e disseram a Jesus: “Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. 5 Moisés mandou-nos na Lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes Tu a isso?” 6 Perguntavam-Lhe isso, a fim de pô-Lo à prova e poderem acusá-Lo. Jesus, porém, Se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra.
A expressão “apanhada em adultério” confere ainda mais substância à hipótese de um crime planejado por várias pessoas, com um intuito que se tornará explícito na revelação contida no versículo seguinte. Ademais, a afirmação fortemente categórica da parte deles evitava que fossem argüidos por Jesus a respeito das provas, pois nem a própria mulher procurava defender-se. Talvez, pela delicadeza de sua alma feminina, não insinuava sequer quem fosse seu cúmplice naquele crime.
Flávio Josefo, famoso historiador judeu daqueles tempos — portanto, de certo modo, insuspeito —, contanos que havia caído em desuso a lei que punia com pena de morte os réus condenados por esse tipo de crime.
Rigorismo em meio ao relaxamento geral dos costumes
Sob o reinado dos Herodes, a corrupção dos costumes em Jerusalém havia chegado ao extremo. Quiçá fosse essa uma circunstância que propiciasse aos fariseus e escribas criarem, junto a Jesus, o impasse de como proceder naquele caso de adultério. Seja como for, “sob as aparências de zelo pela Lei, aqueles homens hipócritas e rancorosos armavam para Jesus uma armadilha maldisfarçada. Estavam certos de que Aquele a quem chamavam ironicamente pelo epíteto de ‘amigo de pecadores e publicanos’ Se mostraria indulgente com a culpada; e então eles O acusariam de violar a Lei divina num ponto fundamental” (4).
Na mesma linha, comenta o Pe. Andrés Fernandez Truyols, SJ: “ pergunta, aparentemente respeitosa e até honorífica para Jesus, era na realidade insidiosa. Se Ele Se pronunciasse pelo castigo, tacha-Lo-iam de duro; se absolvesse, seria acusado de violar a Lei” (5). Por outro lado, vale a pena observar o contraste entre os fiéis, que ouvem enlevados as palavras do Salvador, e a sanha dos doutores da Lei e dos fariseus em condenar Jesus. “Enquanto os pacíficos e simples admiravam as palavras do Salvador, os escribas e fariseus Lhe faziam perguntas, não para aprender, mas para armar armadilhas à verdade” (6).
Querem tornar Jesus réu de sua própria sentença
Tornou-se famoso o dilema criado pelos fariseus a propósito do pagamento do imposto, se a César ou ao Templo. O “dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21) marcou a História. Entretanto, o caso trazido a lume pela Liturgia de hoje foi montado com muitíssimo mais habilidade. Decidindo por uma ou outra solução, Jesus, ou se levantaria contra o poderio romano, ou se declararia discordante de Moisés e, portanto, do Sinédrio. Se sua sentença fosse no sentido de que lapidassem a mulher, na certa seus inimigos procurariam entregá-Lo a Pilatos por ter violado a lei imposta por Roma às províncias conquistadas e suas sufragâneas: o direito de vida e de morte lhe pertencia com exclusividade. Sem contar que teriam elementos para sublevar o povo contra sua radicalidade e intransigência.
Jesus contra Moisés...
Se Jesus a absolvesse, agitariam os fiéis pelo fato de Ele Se opor à Lei de Moisés e O arrastariam ao Sinédrio para ser excomungado e entregue à autoridade romana. Provavelmente, “queriam colocar Cristo em oposição à Lei de Moisés, dando a entender que O consideravam um outro Moisés, o qual trazia uma lei mais perfeita que a do primeiro. Tudo era feito para incentivá-Lo e provocá-Lo, de modo que Ele tomasse partido contra a Lei de Moisés, dando-lhes ocasião de acusá-Lo. Que dizes Tu a isso? Contrapondo-O a Moisés, como se O elevassem acima de Moisés. Tu, que és maior que Moisés, a quem não se aplicam suas leis, porque promulgas outra melhor e mais perfeita, o que dizes? Aprovas ou reprovas a sentença da lei mosaica? Por todos os meios, procuram colocá-Lo na tentação de dizer algo contra Moisés, em face de todo aquele público, já que O reconhecem como superior ao grande legislador” (7).
Jesus responde por escrito
Chama especialmente a atenção a inédita atitude do Divino Mestre, de inclinar-Se, permanecendo sentado, e pôr-Se a escrever “com o dedo na terra”. Jesus Se encontrava perto do pátio das mulheres, na galeria do Tesouro, e não sabemos de que maneira era constituído o piso desse local. Seja como for, provavelmente a escrita seria de molde a poder ser lida por outrem. Consideremos o fato de escribas e fariseus terem se postado perto de Nosso Senhor e, ainda mais, por se encontrarem de pé, não lhes era difícil ler os caracteres desenhados por Ele. Jesus escrevendo: é a única ocasião em que isso acontece em toda a narração dos Evangelhos. Como imaginar a forma das letras e a sequência das palavras? Evidentemente, só poderiam ser as mais belas entre todas as possíveis. Algo legível deveria restar no chão, talvez impresso sobre a própria poeira do caminho. O que teria escrito Ele naquele momento? Mais adiante trataremos desse pormenor.
Jesus eleva a questão do plano jurídico ao moral
7 Como eles insistissem, ergueu-Se e disse-lhes: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”.
No Deuteronômio encontramos a clara obrigatoriedade de a primeira testemunha de um crime, punido com pena de morte, atirar a primeira pedra: “Tens, ao contrário, o dever de matá-lo:
Diante do Senhor se encontravam mestres da Lei e fariseus, peritos no domínio desses conhecimentos relativos à jurisprudência. Portanto, Jesus não se exime, pronuncia a sentença, mas, a propósito de sua execução, aproveita o ensejo para transferir a problemática do campo jurídico a um plano muito mais elevado, ou seja, o moral. Frase divinamente célebre, se ela fosse gravada de forma indelével em nossos corações, compenetrados estaríamos de nossa indignidade, de nossas insuficiências, pecados, etc., e não seríamos ásperos com ninguém, nem repreenderíamos com dureza de coração os culpados. Doçura, humildade e compaixão constituiriam a essência de nosso relacionamento, e assim, atrairíamos a benevolência de Deus e seríamos causa de edificação do próximo. “Creio que Cristo quis criticá-los, e não só dava a entender que podiam pecar, enquanto homens, e que eram pecadores de fato — quer dizer, que estavam manchados de pecados como a generalidade dos homens — mas também que eram hipócritas: cheios de iniqüidade no interior, enquanto no exterior fingiam santidade e zelo religioso, tratando de apedrejar aquela mulher. Increpou-os como naquela outra ocasião em que os chamou de sepulcros caiados (Mt 23, 27). Feriu-os, portanto, no íntimo da consciência, ao dizer-lhes: ‘Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra’, dando a entender que eles eram réus daquele pecado ou de outros maiores. Mas essa acusação é tão prudente que não parece ser Ele quem a faz, mas a consciência de cada um deles. O Salvador os remete às suas próprias consciências, estabelecendo-as como juízes, como se Ele ignorasse o que nelas havia. De certo modo, é de direito natural que quem acusa ou condena alguém esteja livre do pecado que lhe reprocha” (8).
Pode um homem julgar outro homem?
É insuperavelmente magistral essa resposta de Nosso Senhor, pois não assume a função de juiz, que lhe ofereciam os escribas e fariseus, mas sim a de Mestre, conforme o título empregado por eles ao Lhe proporem o julgamento (v. 4). Como Altíssimo Conselheiro, Jesus lhes recorda que um juiz, apesar de seus pecados ou falhas, pode — e até deve — julgar e condenar, se necessário for; porém, levanta para eles um espinhoso problema: pode um pecador ser o executor da justiça de Deus?
O único, verdadeiro e competente Juiz é Nosso Senhor Jesus Cristo: “O Pai não julga ninguém, mas entregou todo o julgamento ao Filho” (Jo 5, 22). Todo aquele que de forma competente julga outro homem, por direito natural, positivo ou divino, assim o faz por delegação de Jesus Cristo. Entretanto, aquela sentença moral lançada contra homens orgulhosos que hipocritamente se julgavam santos e imaculados, de si não os deteria em sua determinação de cumprir a Lei, se esse fosse realmente seu objetivo exclusivo. Que mais faria Jesus para impedi-los?
Escrevendo, Jesus acusava os acusadores
8 Inclinando-Se novamente, escrevia na terra.
 Por mais que São Jerônimo não seja acompanhado pela maioria dos autores, parece ter ele inteira razão em sua análise a respeito deste ponto. Não cremos ser de boa linha a opinião de alguns comentaristas, de que Jesus escrevia sem um objetivo definido, como simplesmente querendo significar seu desinteresse pela questão levantada, ou para ganhar tempo. Tudo leva a crer que os pecados, dignos do mesmo castigo, cometidos pelos acusadores, figuravam naquela escrita aparentemente informal. Santo Ambrósio é também partidário desta hipótese de São Jerônimo.
Se assim de fato foi, Jesus procedeu com invariável sabedoria e, ademais, com suma bondade, pois poderia contra-acusar de público cada um deles, e não o fez. Muito pelo contrário, colocava-lhes à disposição seu total perdão. Bastaria um arrependimento interior e um pedido de misericórdia, ainda que implícito, para todos saírem daquela situação em inteira harmonia com Deus e até mesmo entre eles próprios. Jesus lhes oferecia essa grande oportunidade, mas...
9 A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante d’Ele.
Essa narração contribui, ainda mais, para a probabilidade de estar relacionada a escrita no solo com os pecados de cada um dos acusadores. Não teria Jesus começado pelos mais velhos? Se o simples enunciado da sentença os tivesse convencido a todos, a desistência deveria ser coletiva e concomitante. O fato de se retirarem um a um indica que a conclusão de não ser conveniente ali permanecer, foi individual e sucessiva. Por outro lado, a ser verdadeira a interpretação de São Jerônimo e de Santo Ambrósio, não reconheceram aqueles homens suas faltas e delas não pediram perdão.
O pecado não compensa
 10 Então Ele Se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: “Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?” 11 Respondeu ela: “Ninguém, Senhor”. Disse-lhe então Jesus: “Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar
Ao notar a adúltera que seus acusadores iam-se retirando, começou a sentir crescente alívio em seu interior, atingindo um clímax após a saída do último deles. A perspectiva da morte por lapidação a amedrontara e promovera uma constatação freqüente nos pecadores arrependidos: o pecado não compensa! A grande vergonha e humilhação diante daquele numeroso público talvez a fizessem sofrer ainda mais.
A última terrível prova: o santíssimo olhar de Jesus. A Sagrada Face, íntegra em sua divina moralidade, a pureza e a virgindade em essência, sendo contempladas pelo delírio carnal envergonhado e arrependido... Só um ardoroso sentimento salvaria do merecido castigo aquela pobre alma: um pedido de perdão! Jesus não exigirá dela uma declaração explícita e formal, apenas lhe manifestará sua insuperável delicadeza: “Ninguém te condenou?”
Respeitando a Lei, Jesus é misericordioso
Com um procedimento tão sábio quanto inusitado, ninguém mais poderia acusar o Mestre de haver desconsiderado a Lei de Moisés e, portanto, de ter sido exageradamente indulgente. Ele não repetira senão a própria atitude dos fariseus e, ademais, Ele levara a pecadora a declarar: “Ninguém, Senhor”. Seguindo o exemplo de todos, Ele tampouco a condenaria.
Assim, “quebra o laço que Lhe armaram os caçadores” (cf. Sl 123, 7), confirma a Lei, faz rebrilhar sua dignidade, põe em fuga seus inimigos, produz maior admiração, respeito e submissão junto ao povo que O cercava e perdoa a pobre pecadora, despedindo-a com uma advertência: “Não peques mais”. Com essa admoestação, Ele ainda lhe concedia sua graça, sem a qual nenhuma virtude se pratica estavelmente.
Conclusão
Os acusadores foram julgados, a pecadora foi perdoada
Que magnífica lição de penitência, de perdão e da necessidade da perseverança, oferecida a cada um de nós neste vale de lágrimas no qual fomos concebidos e vivemos!
Jesus, o único que teria direito de lançar desde a primeira até a última pedra, concede à pecadora uma bela experiência da grandeza de sua misericórdia. Ali sentiu-se ela verdadeiramente amada pela infinita bondade de um Coração sagrado, humano e divino. E a felicidade que, de maneira equivocada, buscara no pecado, encontrou-a no perdão e na benquerença d’Aquele que os escribas e fariseus haviam escolhido para juiz: o Mestre. 
Aqueles que se apoiavam na Lei para acusar saíram julgados; a pecadora arrependida, que deveria ser morta, retirou-se na graça de Deus. Ninguém jamais foi ou será tão intransigente com o erro quanto Jesus; ninguém mais manso do que Ele para com os pecadores. 
Este é mais um dos episódios do Evangelho nos quais transparecem, de um lado, a infinita bondade do Sagrado Coração de Jesus, ardendo em chamas de desejo de perdoar, e, no extremo oposto, a dureza de alma dos escribas e fariseus, que não só rejeitam esse perdão, até para si próprios, mas jamais reconhecem com humildade suas respectivas faltas. 
Quando se defende a Lei por puro egoísmo, não só não se tem forças para praticá-la, como não se aceita a bondade!
1 ) Edmond Rostand, Chantecler.
2) Cf. São Tomás de Aquino, Catena Aurea, in Jo.
3) Vida de Nuestro Señor Jesucristo, BAC, Madrid, 1954, pp. 395-396.
4 ) FILLION, Vida de Nuestro Señor Jesucristo, Voluntad, Madrid, 1926, t.III, p. 391.
5) TRUYOLS, op. cit., p. 396.
6 ) São Tomás de Aquino, "Catena Aurea", in Jo.
7 ) Pe. Juan de MALDONADO SJ, Comentarios a los cuatro Evangelios, BAC, Madrid, 1956, v. III, p. 519.
8) MALDONADO, op. cit., p. 522.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

EVANGELHO DO IV DOMINGO DA QUARESMA ANO C - Lc 15,1-3;11-32

COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO IV DOMINGO DA QUARESMA  ANO C   - Lc 15,1-3;11-32
O Filho Pródigo: Justiça e Misericórdia
Analisando os atos de Deus sob o mero prisma da humana justiça, difícil se torna compreendê-los. Na parábola da liturgia de hoje, enquanto o egoísmo se revolta, a justiça e a misericórdia se osculam num dos mais belos exemplos do Evangelho. Como melhor degustá-lo? Eis o objetivo deste artigo.
Naquele tempo, 1Os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. 2Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. 'Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles.' 3Então Jesus contou-lhes esta parábola: 11'Um homem tinha dois filhos. 12O filho mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. 17Então caiu em si e disse: 'Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: `Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'. 20Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos. 21O filho, então, lhe disse: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho'. 22Mas o pai disse aos empregados: `Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado'. E começaram a festa. 25O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27O criado respondeu: `É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde'. 28Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29Ele, porém, respondeu ao pai: `Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado'. 31Então o pai lhe disse: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado'. (Lc 15,1-3;11-32)
A JUSTIÇA DOS HOMENS E A DE DEUS
Dois juízos humanos: o da equidade e o das paixões
A justiça humana atingiu um ápice no sistema elaborado pelos romanos. A tal ponto que, ainda hoje, a legislação de grande parte das nações toma como base as normas de uma quase matemática exatidão daqueles tempos, cuja síntese se encontra no famoso princípio: suum cuique tribuere, ou seja, “dar a cada um aquilo que é seu”. Este é o juízo do homem reto, ou o praticado nos tribunais, visando restabelecer a verdadeira ordem.
Há outro juízo nada justo, nem sereno, cuja sentença sempre aparece influenciada por uma das três paixões tristes: a ira, a soberba ou a inveja. É o tantas vezes empregado no mundo e com o qual convivemos em nosso dia-a-dia. Em quantas ocasiões não presenciamos infundadas manifestações de cólera contra inocentes ou faltosos arrependidos, nas quais a aspereza implacável deixa transparecer a peçonha do egoísmo que as move? É o relacionamento entre seres que deveriam se estimar e apoiar-se, mas que, pelo contrário, na medida em que se afastam de Deus, de mais violência se utilizam para saciar o seu amor próprio.
Além das explosões da ira, causa-nos espanto o império da inveja, encontrado por todos os cantos. Poucos são os homens totalmente livres desse mal, que por toda eternidade amarga e atormenta os anjos decaídos.
Entretanto, o pior de todos os juízos é aquele nascido da soberba. O homem orgulhoso tem sempre uma sentença depreciativa em relação aos semelhantes. E, como se fosse o Criador, põe-se a julgar de tudo e de todos, não respeitando sequer o próprio Deus.
Benevolência e misericórdia de Deus
Felizmente, o Criador não julga segundo as leis humanas, e muito menos conforme as normas nascidas desses três vícios, mas sim com base na misericórdia. Foi para nos proporcionar melhor compreensão do quanto Ele assim procede conosco, que Deus criou os instintos paterno e materno.
Os pais consideram com amor as faltas dos filhos. Às vezes chegam a exceder-se em benevolência, devido aos desequilíbrios do pecado original, mas, em geral, emitem um juízo verdadeiro.
Esse é também o procedimento da Igreja. Procura ela salvar a justiça, mas esforça-se por atenuar ao máximo a pena merecida pelo pecador ou criminoso. Em face desse trato feito de santidade, o infrator mais facilmente reconhece seu próprio erro e considera quase irrelevante a pena a ser cumprida. Ademais, manifesta afetuosa gratidão.
Na própria leitura de hoje, vem à luz esse misericordioso agir de Jesus e de sua Igreja para conosco: “Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo e nos deu a nós o ministério da reconciliação, porque era Deus que reconciliava consigo o mundo em Cristo, não lhe imputando os seus pecados e encarregando-nos da palavra de reconciliação” (2Cor 5, 18-19).