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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Evangelho Solenidade de São João Batista (Lc 1, 57-66.80)

Continuação


Vanglória: glória sem honra

Assim, pelo fato de nos amarmos de maneira indevida, julgamo-nos com o direito de sermos glorificados pelos outros, desejamos sofregamente os elogios e aplausos e sentimonos ultrajados pelo sucesso dos demais: a tristeza dos bens alheios, tão freqüente em inúmeras almas.

A soberba e sua filha primogênita, a vanglória, não conhecem limites nem barreiras, penetram até os sagrados umbrais da vida religiosa. É o que nos dá a entender a grande Santa Teresa:

“Livre-nos Deus de pessoas que querem servi-Lo, mas se preocupam com as honrarias. Vede que é mau negócio. E, como já disse, pelo próprio ato de desejar as honras, a pessoa as perde, especialmente em questões de precedências, pois não existe no mundo veneno mais mortal para a perfeição. Direis que são ninharias das quais não se deve fazer caso; não vos enganeis, porque isso cresce rapidamente e não há matéria mais perigosa do que essas questões de honras e a preocupação com insultos recebidos” (6).

Parágrafos antes, dizia a mesma Santa de Ávila:

“Deus nos livre, por sua Paixão, de dizer ou pensar, de deter-se em considerações tais como: se sou mais antiga, se tenho mais idade, se trabalhei mais, se tratam a outra melhor do que a mim. Pensamentos como estes, se ocorrerem, devem ser logo cortados, pois se a pessoa neles se detém, ou os põe em prática, é uma pestilência da qual nascem grandes males” (7).

Infelizmente, os piores efeitos dessa paixão se propagam nas sagradas fileiras das almas que se entregam ao pleno serviço de Deus, daí o famoso ditado: “Tolle inanem gloriam de clero, et facile omnia vitia resecabis.” — Tira a vanglória do clero e arrancarás facilmente todos os vícios (8). Às vezes a soberba se manifesta de forma coletiva, com enormes prejuízos para a caridade e dando ocasião a escândalos. Nesses casos, procura-se a glória de Deus como pretexto para obter a glorificação própria. Daí nasce também a inveja coletiva.

João rejeitou a glória e cresceu em honra

No extremo oposto a esses desequilíbrios, João verá o lento apagamento de sua obra, o de seu próprio nome e até o de seus discípulos, porque um outro Varão o sucedeu, muito mais luminoso do que ele. Porém, diante desse quadro, em nada se sentirá humilhado; ele se tornou o exemplo para tantas almas santas que — na escuridão dos claustros, ou no silêncio interior em meio à agitação do mundo, sacerdotes, religiosas, ou até mesmo no lar, desconhecidas, esquecidas, e às vezes desprezadas — repetem com o Precursor: “Illum oportet crescere, me autem minui” — É preciso que Ele cresça e que eu diminua (Jo 3, 30).

São unânimes todos os comentaristas em atribuir ao Precursor um especial empenho em ter querido extirpar de seus discípulos a inveja de grupo, pelo fato de se terem comparado com Jesus e os Apóstolos. Essa foi a razão pela qual enviou uma embaixada (cf. Mt 11) ao Cordeiro de Deus, pois desejava curar a mesquinhez de coração de seus seguidores e, provavelmente, consagrá-los ao Divino Mestre.


Final próximo post

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