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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Evangelho Solenidade de São João Batista (Lc 1, 57-66.80)

Continuação do post anterior

“O seu nome é João”

Desde séculos, entre os judeus, a escolha do nome era um ato inseparável da cerimônia de circuncisão, que se realizava na presença de pelo menos dez testemunhas. Logo após as orações de acordo com o rito, impunha-se o nome, o qual mais comumente coincidia com o do próprio pai, ou se referia a alguma característica espiritual ou física do nascituro, ou a algo que tivesse marcado a vida de seus pais ou ancestrais (9).

A cerimônia finalizava com um pequeno ágape.

A escolha do nome, geralmente, era uma prerrogativa paterna, se bem possa ter havido algumas exceções ao longo da História, como constatamos no trecho do Evangelho de hoje: “Interveio, porém, sua mãe e disse: “Não; mas será chamado João”. Não nos equivocaríamos ao imaginarmos os esforços de Zacarias, durante o período de sua mudez, para transmitir a Isabel os detalhes da aparição de Gabriel. Ela, como mãe, deveria, por sua vez, tentar de todas as maneiras possíveis saber as minúcias daquele grandioso acontecimento.

A reação dos circunstantes talvez partisse do desejo de consolar Zacarias, já ancião, vendo no seu unigênito a perpetuação de seu próprio nominativo. Mas a decisão coube ao progenitor que, requisitando uma tabuinha, escreveu: “O seu nome é João”. Ato que marcou não só a definição do Precursor, mas o término do castigo imposto por Gabriel: “E logo se abriu a sua boca e soltou-se a língua”. Quando Zacarias pronunciou seu cântico, todos julgaram terem discernido o motivo do nome “João”, ou seja, “aquele que anuncia”, mas, na realidade, só post factum chegouse a entender a fundo sua missão de Precursor e o porquê de suas características pessoais. Ele pôde criar um clima contrário à influência dos fariseus, escribas e sacerdotes da época, ao incentivar a penitência, a mudança de mentalidade e a conversão. Não lhe coube realizar um só milagre e nada na linha do espetacular, pois era preciso vincar a perspectiva de um Messias que Se apresentaria como manso e humilde: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

Pórtico de entrada da missão do Messias

Em meio a esse apagamento quanto aos milagres, entretanto, o Batista foi eleito para constituirse nos umbrais que deram entrada ao Messias em sua missão pública: “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1, 29). Seu profundo ascetismo e sua própria pregação tornavam-no bem diferenciado de anteriores líderes revolucionários de cunho acentuadamente político. João atraiu a si muita gente, de todas as partes, e até da própria Jerusalém que, preocupada com a movimentação, envioulhe uma embaixada para inquirir ao certo quem era ele. Os Evangelhos quase sempre apresentam as autoridades da época como malévolas, invejosas e incrédulas. Entre elas estavam, além de saduceus, levitas e sacerdotes, os famosos fariseus. Todos eles recusaram fortemente não só o batismo como a própria doutrina de João (cf. Lc 7, 33).

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