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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Evangelho XXXIII Domingo do Tempo Comum Ano B Mc 13, 24-32

Comentários ao Evangelho XXXIII Domingo do Tempo Comum Ano B Mc 13, 24-32
24 Naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol escurecer-se-á e a lua não dará sua claridade, 25 e as estrelas cairão do céu e as potestades que estão nos céus serão abaladas. 26 Então verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. 27 E enviará logo os seus Anjos e juntará os seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até a extremidade do céu. 28 Ouvi uma comparação tirada da figueira: Quando os seus ramos estão já tenros e as folhas brotam, sabeis que está perto o verão; 29 assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do Homem está perto, às portas. 30 Na verdade vos digo que não passará esta geração sem que se cumpram todas estas coisas. 31 Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não hão de passar. 32 A respeito, porém, desse dia ou dessa hora, ninguém sabe, nem os anjos do Céu, nem o Filho, mas só o Pai (Mc 13, 24-32).

Liturgia da contrição ou da glória?
O Ano Litúrgico, síntese perfeita da existência terrena de Cristo, transmite-nos refrigério, luz e paz a cada passo, fazendo-nos participar das mais variadas graças. Nas leituras dos três últimos domingos deste mês, a Igreja coloca ao nosso alcance dádivas sobrenaturais especiais, propondo à nossa consideração a grandeza e a terribilidade do Juízo Final.

INÍCIO E FIM DO CICLO LITÚRGICO
Com sabedoria divina e usando de insuperável arte, neste mês de novembro, a Igreja termina um ciclo litúrgico e dá início a outro. A abertura do novo ano será muito semelhante ao fecho do anterior: o primeiro domingo do Advento tomará o trecho do Evangelho de São Lucas (21, 25-36) a propósito da segunda vinda de Cristo e o XXXIII do Tempo Comum focalizará a mesma temática segundo São Marcos (13, 24-32).
Por que usa a Igreja de um método, à primeira vista, repetitivo, sendo seu tesouro insuperavelmente amplo e variado? Qualquer um a quem ocorrer esta pergunta logo perceberá provir ela de uma impressão superficial e errônea. Em realidade, a Encarnação e o Nascimento do Salvador tomam cores mais ricas ao serem focalizados na perspectiva do retorno de Cristo no fim do mundo, pois todos esses acontecimentos referem-se a um mesmo Ser e têm, portanto, profundas analogias entre si. O Natal e o Juízo Final constituem os extremos opostos de um só e imenso arco. Na Manjedoura, encontramos o Menino “que há de vir julgar os vivos e os mortos” (2 Tm 4, 1). No Vale de Josafá, veremos o próprio Inocente nascido na Gruta de Belém “voltar sobre as nuvens com grande poder e glória” (Mc 13, 26). Ao surgir, Jesus dividiu a História em duas eras e, em seu retorno, finalizará o tempo e abrirá as portas da eternidade: “A Ele foram dados império, glória e realeza, e todos os povos, todas as nações e os povos de todas as línguas serviram-no. Seu domínio será eterno; nunca cessará e seu reino jamais será destruído” (Dn 7, 14). “O Senhor é rei e se revestiu de majestade, ele se cingiu com um cinto de poder” (Sl 92, 1). Este é, aliás, um trecho da primeira leitura da festa de Cristo Rei do Universo, que fará a ligação entre o Tempo Comum e o Advento.
A Realeza de Cristo
Esta festa foi estabelecida por Pio XI há menos de um século (1925). Entretanto, a consideração dessa divina realeza é tão antiga na piedade dos fiéis quanto a própria Liturgia. Referências a ela transbordam desde o Advento ao Tempo Pascoal, passando pela Natividade, Epifania e Paixão. A Teologia é rica em reflexões sobre essa temática, debaixo dos mais variados aspectos. Por exemplo, São Tomás, ao discorrer sobre a origem do poder real de Cristo, demonstranos que Jesus é Rei por direito de natureza, por sua dignidade de Cabeça de todos os que estão unidos a Ele, pela plenitude da graça habitual, títulos estes gratuitos, ou seja, independentes dos merecimentos alcançados pelo Homem-Deus (1). Porém, a Liturgia deste domingo focalizará sobretudo os méritos infinitos do Redentor enquanto fundamento de sua realeza sagrada, por direito de conquista (2). A própria antífona de entrada assim afirmará: “O cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A Ele glória e poder através dos séculos” (Ap 5, 12).
O Evangelho cantará: “Pilatos disse-Lhe então: ‘Portanto, Tu és rei?’. Jesus respondeu: ‘Tu o dizes, sou rei’” (Jo 18, 37).
E o Prefácio dará uma nota toda especial a essa realeza: “Submetendo ao seu poder toda criatura, entregará à vossa infinita majestade um reino eterno e universal: o reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz.”
Neste mês participaremos, portanto, de três domingos de grande importância para nossa vida espiritual. Antes de contemplarmos o belíssimo panorama que eles nos trazem, será de toda conveniência fazermos uma incursão pelos caminhos da Liturgia para, dessa forma, nos beneficiarmos ainda mais das graças a eles inerentes.
A Liturgia e o avanço na vida espiritual
A vida litúrgica — com suas cerimônias, que falam aos sentidos, com seus ritos pervadidos de gravidade e de profunda religião — é a educadora dos povos” (3).
A Igreja estabeleceu um ciclo litúrgico que abarca toda a vida de Nosso Senhor e se repete ao longo dos tempos.
Assim, a Liturgia acaba sendo uma reprodução da vida mortal de Jesus, a qual, em seus vários episódios, constitui um verdadeiro céu de maravilhosos mistérios e exemplos, uma prodigiosa fonte de graça.
O ano litúrgico, expansão da vida sobrenatural para o Corpo Místico em seu conjunto, sustenta, ademais, a vida espiritual de cada um de seus membros” (4). Por isso é indispensável, a cada dia e, mais ainda, aos domingos, concentrarmos nosso espírito na contemplação das leituras e perspectivas que são propostas pela Liturgia, tal qual nos ensina o Catecismo:
A mãe Igreja deseja ardentemente que todos os fiéis sejam levados àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da liturgia exige e à qual, por força do batismo, o povo cristão, ‘geração escolhida, sacerdócio régio, gente santa, povo de conquista’ (1 Pd 2, 9), tem direito e obrigação” (CIC — 1141).
O JUÍZO FINAL, ÚLTIMO ATO DA OBRA REDENTORA DE CRISTO
O Fim do Mundo: júbilo ou pavor?
Focalizemos alguns aspectos essenciais e mais salientes do XXXIII Domingo do Tempo Comum, no qual a Igreja visa que participemos dos benefícios sobrenaturais que os últimos fiéis da História receberão.
A cena que o Evangelho nos propõe é a da catástrofe escatológica seguida da vinda triunfal do Senhor, e tanto poderá ela ser meditada sob um prisma de júbilo e esperança, como de pavor e horror.
Na Igreja nascente, muito vincada em sua formação pela doutrina de São Paulo, os fiéis foram conduzidos a se extasiar com os aspectos triunfais daqueles dias vindouros, conforme podemos comprovar por este trecho da Epístola aos Tessalonicenses: “O mesmo Senhor, ao mando (de Deus), à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, descerá do céu; os que morreram em Cristo, ressuscitarão primeiro; depois nós os que vivermos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens ao encontro de Cristo, nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor” (1 Tes 4, 16 e 17). Era a divina didática do Espírito Santo, muito adequada àqueles tempos de perseguição e martírio, durante os quais os fiéis necessitavam de gloriosas e animadoras esperanças.
Bem mais tarde, à medida que a Cristandade assistia erguerem-se as muralhas de seus castelos e brilharem os vitrais de suas catedrais, o homem medieval, em função da contingência de um equilíbrio de virtudes, precisava apaixonar-se pela Cruz de Cristo e sentir dor pelos seus pecados, que causaram os tormentos da Paixão do Senhor. O Preciosíssimo Sangue de Cristo, com força e dinamismo divinos, frutificava dia após dia em novas realizações, abrindo os caminhos para um futuro promissor. Daí o fato de o Espírito Paráclito inspirar aquela era histórica a tremer, chorar e gemer diante das perspectivas postas por São Marcos no Evangelho em questão.
Qualquer que seja o mirante — terrível ou maravilhoso — no qual nos coloquemos para analisar a Liturgia do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o certo é que a obra redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo não atingirá sua plenitude enquanto não se realizar o Juízo Final. Ela se iniciou com a vida, paixão e morte de Cristo, perpetua-se pela distribuição das graças conquistadas através dos sacramentos e desfechará no julgamento da humanidade, em função da correspondência aos benefícios recebidos.
Eis aí, em rápidas palavras, o panorama litúrgico-histórico para melhor se acompanhar a seqüência desses três importantes domingos, a começar pelos dois primeiros versículos de Marcos:
Naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol escurecer-se-á e a lua não dará sua claridade, e as estrelas cairão do céu e as potestades que estão nos céus serão abaladas” (vv. 24 e 25).

Continua no próximo post

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