Continuação dos comentários ao Evangelho 30º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013
Sublime exemplo do Divino
Mestre
Eis algumas razões pelas quais encontramos nas
Escrituras Sagradas tantas vezes o incentivo à humildade. Como teria
sido outra a História, se os fariseus tivessem ouvido e amado o
convite do Divino Mestre: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde
de coração, e achareis descanso para vossas almas” (Mt 11, 29).
Se estivessem presentes no ato praticado por Jesus, por ocasião da
Santa Ceia, e recolhessem no coração as palavras por Ele proferidas
logo após: “Deivos o exemplo para que, como Eu vos fiz, assim
façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é
maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o
enviou. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição
de as praticardes” (Jo 13, 15-17), teriam ademais, a verdadeira paz
de alma e inteira felicidade.
Voltemos agora, nossos olhos à parábola proposta pela
liturgia de hoje.
A parábola do fariseu e do
publicano
9 Disse também esta
parábola a uns que confiavam em si mesmos por se considerarem
justos, e desprezavam os outros...
São interessantes as considerações feitas pelos
comentaristas a propósito da presente parábola. Dentre elas se
destaca a de Santo Agostinho que se relaciona com o versículo
anterior: “Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé
sobre a terra?” (Lc 18, 8). A fé é a virtude de quem põe em Deus
sua confiança, e não em si próprio. “A fé não é do soberbo,
mas sim do humilde. Contra a soberba, [Jesus] põe a parábola sobre
a humildade” 8, que vai dirigida àqueles que não agradam a Deus
com suas orações devido à sua presunção. A estima desequilibrada
dos próprios méritos vai contra a realidade, sobretudo, quando o
orgulhoso se julga impecável. Em tese, pela graça de Deus e pela
existência do livre arbítrio, poderia haver um homem sem pecado
mas, à exceção feita do Filho do Homem e de sua Mãe Santíssima,
não há outro, conforme o Salmista: “Não entreis em juízo com o
vosso servo, porque ninguém que viva é justo diante de Vós” (Sl
142, 2), ou melhor ainda, como afirma São João: “Se dizemos que
não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está
em nós” (1 Jo 1, 8) 9.
A parábola se destina aos que supervalorizam suas
qualidades, julgando-se santos e até mesmo impecáveis, tratando os
demais com desprezo. Trata-se de uma luva feita à medida para caber
em mão farisaica, ou daqueles que podem ser classificados como seus
discípulos, imbuídos, portanto, do mesmo espírito. Três são os
vícios visados: confiança em si próprio, presunção de santidade
e desprezo pelos outros; vícios esses, contrários às virtudes: fé,
humildade e caridade.
10 Subiram dois homens ao
templo a fazer oração: um era fariseu e o outro publicano.
Eis uma simples frase penetrada de substanciosos
significados. À mesma hora e no mesmo empenho de rezar, sobem ao
monte Moriah, onde se localiza o Templo, dois homens: um fariseu e um
publicano. O primeiro já é conhecido. O segundo pertencia à classe
por todos considerada como de pecadores, odiada por cobrar impostos a
serviço dos romanos. Segundo o juízo humano, o fariseu é justo,
cheio de virtude e piedoso, e certamente irá proferir uma excelente
prece. O outro, pelo contrário, pecador tão desprezível, não
conseguirá senão atrair sobre si o escândalo de todos e a cólera
do próprio Deus.
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