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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

COMENTÁRIOS A SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR - ANO - A 2014

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR - ANO - A -  2014
A ação do Espírito na alma é mais importante que os sinais
Tanto aos pastores quanto aos Reis, o Espírito Santo falou no fundo da alma, inspirando-lhes a fé no advento do Messias. Com efeito, muitos outros avistaram a estrela, pois ela não fora invisível, e vários conheceram também o relato dos pastores de Belém, na noite de Natal; todavia, nem todos acreditaram, só aqueles que foram favorecidos por moções do Espírito Santo.
Por isso ressalta São Tomás 13 o papel da graça, como um raio de verdade mais luminoso que a estrela, a instruir os corações dos Magos. E, então, mais importante a comunicação direta do Espírito Santo, do que os meros sinais sensíveis. A tal ponto que, para os justos, como Ana e Simeão1’4 habituados a discernir a voz de Deus em seu interior, não foi necessária a aparição de Anjos ou o surgimento de estrelas, ou qualquer indicação extraordinária de que aquele era o Filho de Deus, o Messiasprometido. Simplesmente, quando viram o Menino entrar no Templo, nos braços de sua Mãe, foram tomados pelo espírito de profecia e, por ação do Paráclito, compreenderam que ante seus olhos estava a Luz que iluminaria as nações, a glória de Israel (cf. Lc 2, 32). Assim, torna-se patente como para as almas mais puras e elevadas as manifestações sobrenaturais não vêm acompanhadas dos sinais exteriores, sendo estes, contudo, adequados para tocar os menos espiritualizados.
Confiamos mais em Deus se tivermos as mãos vazias
Impelidos por um sopro divino, os Magos chegam a Jerusalém, iniaginando talvez que o povo estivesse em festa pelo nascimento do Rei esperado. No entanto, não se decepcionam, apesar de encontrarem tudo na mais completa normalidade, e, na sua ingenuidade, vão pedir informações sobre o Rei dos judeus ao próprio Herodes. Era o homem a quem nunca deveriam ter procurado! Este fica perturbado, pensando que ia perder o trono, como rezamos num dos hinos do Ofício Divino desta Solenidade: “Por que, Herodes, temes I chegar o Rei que é Deus? I Não rouba os reis da Terra / quem reinos dá nos Céus”.15 Ou nas contundentes palavras de um Santo do século V: “Por que temes, Herodes, ao ouvir que nasceu um Rei? Ele não veio para te destronar, mas para vencer o demônio”.16 Eo rei idumeu, embora rico e poderoso, não é capaz de se aproximar serenamente do Menino Jesus para Lhe render homenagem, mas quer matá-Lo.
Eloquente contraste, útil para a vida espiritual. O que mais vale é saber onde está Nosso Senhor Jesus Cristo e adorá-Lo, ou possuir todos os bens da Terra? Muitas vezes Deus faz com que estes nos faltem, porque quando as mãos estão carregadas de riquezas é difícil juntá-las para rezar. Estamos mais aptos a confiar em Deus se temos as mãos vazias. Portanto, não nos perturbemos caso venhamos a passar necessidades. Enfrentar problemas, dramas e aflições é um dom de Deus. Quem não sofre e não experimenta alguma instabilidade deposita a segurança em si mesmo e acaba por voltar as costas ao Criador, o que lhe acarreta o maior dos sofrimentos: ignorar a felicidade de depender de Deus.
Nesse sentido, recolhemos uma preciosa lição da simbologia da mirra oferecida pelos Magos, da qual pouco se fala. De sabor amargo — característica evocativa do sofrimento —, era usada também para embalsamar os cadáveres. Com tal oferecimento se tornava presente, já desde o momento de vir ao mundo e de dar a conhecer sua grandeza divina, a missão redentora do Menino e sua Morte na Cruz. A mirra também é útil para nós, porque recordando nosso destino final, a morte, modera nossa ganância e o desejo de viver para sempre nesta Terra.
Atrás das aparências, a grandeza de Deus Encarnado
Atitude diametralmente oposta à de Herodes é a dos Reis Magos, como afirma o Doutor Angélico: “os Magos são as primícias dos pagãos a crerem em Cristo. Neles apareceram, numa espécie de presságio, a fé e a devoção dos pagãos vindos a Cristo de lugares remotos. Por isso, sendo a fé e a devoção dos pagãos isenta de erro por inspiração do Espírito Santo, também se deve crer que os Magos, inspirados pelo Espírito Santo, se comportaram sabiamente ao prestarem homenagem a Cristo”.17 Eles viram um Menino envolto em panos, numa casa pobre, decerto desprovida de qualquer sinal externo de realeza. Entretanto, movidos pela fé, O reconhecem como Deus. Ainda para São Tomás,18 não era conveniente que Nosso Senhor manifestasse toda a sua divindade através dos véus da natureza humana, logo ao nascer. Se — imaginemos — quando Ele ainda estava no berço viesse um Anjo e erigisse em poucos segundos um palácio no centro de Jerusalém, mais estupendo do que o Templo, uma coorte angélica descesse do Céu para anunciar a chegada do Messias e os judeus vissem uma criança em corpo glorioso, reluzente de esplendor, que papel teria a fé? Perderia sua razão de ser, uma vez que ela recai necessariamente sobre as coisas que não se veem. E em torno deste Menino, então, se juntariam, em seguida, todos os pragmáticos, todos os interesseiros, todos os oportunistas que quereriam fazer carreira à custa de seu prestígio.
Porém, acrescenta São Tomás,19 a Encarnação do Verbo, para ser proveitosa, não podia permanecer oculta à humanidade inteira. Por tal motivo, Nosso Senhor Jesus Cristo quis revelá-la apenas a alguns, aos quais mostrou sua divindade por meio de pequenos sinais acompanhados da graça — suficiente em certos casos, superabundante em outros —, para que uns servissem de testemunho aos demais.
Um desses diminutos sinais, o próprio Evangelista o menciona. Afirma ele que os Reis, ao verem de novo a estrela, “sentiram uma alegria muito grande”. Ainda que não esteja no texto sagrado, é de se supor que, ao contemplarem o Menino, tenham experimentado um júbilo interior intensíssimo, e talvez se tenham comovido até às lágrimas. Ajoelharam-se arrebatados pelo encanto com o Divino Infante, o “mais belo dos filhos dos homens” (Sl 44, 3), diante do qual não cabia outra atitude a não ser a adoração. Tudo marcado por uma suave e intensa alegria, nota distintiva da atuação do Espírito Santo, e que até nossos dias caracteriza as celebrações natalinas.
A IGREJA, ESTRELA QUE NOS GUIA ATÉ JESUS
A grande fé demonstrada pelos Reis Magos na Epifania nos lembra a parábola do grão de mostarda. Ele é minúsculo, mas, uma vez plantado, cresce e torna-se um grande arbusto. Ora, esse Menino que vem ao mundo numa Gruta e hoje manifesta sua divindade aos soberanos vindos do Oriente, vai depois morrer no Calvário e de seu lado traspassado pela lança brotará a Santa Igreja. Esta nasce sem nenhum templo, de forma apagada, se desenvolve e, em certo momento, toma conta do Império Romano, até se expandir por todo o mundo.
Quantas famílias, povos e nações inteiras ao longo da História se porão a caminho, à semelhança dos Magos, para seguir uma estrela: a Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Sim! Ela, a distribuidora dos Sacramentos, promotora da santificação e dispensadora de todas as graças, faz o papel de uma estrela a cintilar diante de nossos olhos, através do esplendor de sua Liturgia, da infalibilidade de sua doutrina, da santidade de suas obras, convidando-nos a obedecer à voz do Divino Espírito Santo que fala em nosso interior. Assim, a Igreja promove um novo desabrochar do senso do maravilhoso nos corações de seus filhos, parecendo nos dizer: “Olha como Deus é belo! Ele é o Autor de tudo isso”.
Esta estrela é para nós, portanto, a alegria da existência, a segurança e a certeza dos nossos passos, a sustentação do nosso entusiasmo e do amor a Deus. Sobretudo, esta estrela é a garantia de uma eternidade feliz. Quem a ela se abraçar terá conquistado a salvação, quem se separar dela seguirá por outros caminhos e não chegará à Belém eterna, onde está aquele Menino, agora sim, glorioso e refulgente pelos séculos dos séculos.
13) Cf. Idem, a.5, ad 4.
14) Cf. Idem, a.5.
15) SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR. Hino de II Vésperas. In: COMISSAO EPISCOPAL DE TEXTOS LITURGICOS. Liturgia das Horas. Petrópolis: Ave Maria; Paulinas; Paulus; Vozes, 1999, v.1, p.516.
16) SÃO QUODVULTDEUS. De Sym bolo. Sermo II ad catechumenos, c.IV, n.4: ML 40, 655.
17) SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, op. cit., a.8.
18) Cf. Idem, a.1.
19) Cf. Idem, a.2.


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