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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

FESTA DO BATISMO DO SENHOR - ANO A - 2014

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO FESTA DO BATISMO DO SENHOR - ANO A - 2014 - Mt 3, 13-17
Naquele tempo, 13 Jesus veio da Galileia para o rio Jordão, a fim de Se encontrar com João e ser batizado por ele. 14 Mas João protestou, dizendo: “Eu preciso ser batizado por Ti, e Tu vens a mim?”
Jesus, porém, respondeu-lhe: “Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça!” E João concordou. 6 Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água. Então o Céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre Ele.
17 E do Céu veio uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual Eu pus o meu agrado” (Mt 3, 13-17).
O Batismo que conquistou nosso Batismo
Um milagre invisível ocorre em cada celebração batismal: em suas águas é submerso um ser humano e delas emerge um filho de Deus.
ESTÍMULO À PRÁTICA DA VIRTUDE DA FÉ
A comemoração do Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo encerra com chave de ouro o Tempo do Natal. Grande festa para os católicos, porque é neste Batismo, como veremos, que está incluído o nosso e, portanto, o início da participação de cada um na vida sobrenatural, na vida de Deus. Adão fechou a seus descendentes as portas do Paraíso Celeste, mas Nosso Senhor Jesus Cristo, com a Encarnação, abriu-as outra vez, tornando possível aos homens, graças a seu divino auxílio e proteção, gozar do convívio com Ele, com o Pai e o Espírito Santo, com os Anjos e os Bem-aventurados por toda a eternidade. Tendo comentado em outras ocasiões1 os aspectos teológicos do Batismo do Senhor, analisemos agora este admirável mistério por uma perspectiva diversa, útil para nosso progresso espiritual.
Um ponto de interrogacão
Terminado o Tempo do Natal, pode ser que fique um ponto de interrogação no espírito de muitos. Consideramos a 25 de dezembro o nascimento de Jesus Menino, uma frágil criança que é Deus, numa Gruta, ao lado de um boi e de um burro, numa cidadezinha minúscula chamada Belém. Ele, para nascer, escolheu a cidade mais insignificante, como observa São Bernardo,2 enquanto para morrer preferiu a mais importante, Jerusalém. Nasce na obscuridade, pouco depois é obrigado a fugir para o Egito, regressa e passa trinta anos como auxiliar de seu pai, um artesão, a ponto de mais tarde dizerem: “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13, 55). Sem estudos, não se conhecem fatos brilhantes de sua juventude. Começa a vida pública e não habita em nenhum palácio; desloca-Se continuamente, de tal modo que afirma: “As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 58).
Ora, se Lhe cabia uma missão tão importante quanto a de operar a Redenção para reparar o pecado cometido pelo homem e de convidar a humanidade para uma união extraordinária com Deus, não podia vir com mais pompa e majestade? Não podia rodear-Se de príncipes e reis, viver em luxuosos palácios e cercado de glória? Por que tanta humilhação? A esse propósito, São João de Avila se pergunta: “Se é rei, onde estão os palácios reais? Onde estão os cavaleiros? Onde está a seda e os tecidos de brocado? Que rei é visto em estalagens e estábulos, rodeado de animais? [...] Como anda perdido quem procura Cristo sem a estrela da fé!”.3
Explica-nos a doutrina católica que se Ele viesse ao mundo revestido de esplendor e de glória, já ao nascer ficaria patente sua divindade e, dessa forma, nossa fé perderia o mérito, porque não se trataria de crer, mas sim de constatar uma realidade perante a imposição de fatos impossíveis de objetar. A adesão a Jesus Cristo não proviria da fé, mas da mera inteligência. Que mérito há, por exemplo, em acreditar na existência do Sol se o vemos todos os dias e experimentamos fisicamente seus efeitos?
Este princípio aplica-se também ao Batismo de Jesus. Por que não se realizou de maneira mais solene e não foi anunciado a todo Israel? Pelo contrário, passou quase despercebido, e na História só os evangelistas o registram. Nosso pendor, contudo, seria o de querer uma cerimônia magnífica para o Batismo, um nascimento glorioso, uma vida se desenvolvendo, espetacular e brilhante. Analisemos o relato de São Mateus para melhor compreendermos a razão do modo de proceder divino.
O Jordão: rio altamente simbólico
Naquele tempo, 13 Jesus veio da Galileia para o rio Jordão, a fim de Se encontrar com João e ser batizado por ele.
Qual teria sido a intenção de Nosso Senhor Jesus Cristo ao escolher o rio Jordão para seu Batismo? Não haveria outro melhor do que este? O Jordão, que se nos afigura como um rio mítico, é na verdade pequeno em comparação com os caudalosos cursos fluviais da América. Entretanto, mais uma vez, apesar da aparência de normalidade, algo de grandioso acontece no plano da fé. Tratava-se de um rio emblemático na história de Israel, revestido de um enorme simbolismo teológico e criado por Deus com vistas ao Batismo de Nosso Senhor. Quando os judeus saíram da escravidão do Egito e entraram na Terra Prometida, onde viveriam em liberdade, Josué abriu as águas do Jordão para que o povo eleito o atravessasse (cf. Jo 3, 15-17).  O Jordão representava a linha divisória entre a terra do tormento, da penitência, da dor, e a terra onde corria leite e mel. Assim, o Batismo de Nosso Senhor abre ao povo eleito do Novo Testamento, os chamados a pertencer à Igreja, a possibilidade de deixarem para trás a escravidão do pecado e de serem introduzidos no Reino de Deus,4 onde corre o leite e o mel das consolações, das alegrias espirituais.
Um choque vocacional
14Mas João protestou, dizendo: “Eu preciso ser batizado por Ti, e Tu vens a mim?”
São João preparava os caminhos do Senhor na mais completa submissão a Ele. Certamente tinha o discernimento dos espíritos e estava tomado pelo Espírito Santo, que lhe revelara quem era Jesus (cf. Jo 1, 33). Por isso, quando ele O vê aproximar-Se a fim de receber o batismo de penitência de suas mãos, em seguida reconhece n’Ele o Messias. Era para sua chegada que o  Precursor preparava as pessoas com o batismo, pelo que, sem hesitação alguma, O aponta aos outros: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). Aquele era o Redentor, Aquele era Deus, pois existia antes dele (cf. Jo 1, 15), embora fosse seis meses mais velho.
Nessas circunstâncias, criava-se nele um choque psicológico, psicoteológico e, inclusive, vocacional: como haveria ele de batizar quem não precisava de Batismo? Perfeita atitude daquele que possuía uma fé em grau heroico, conforme o testemunho de sua ímpar santidade dado por Nosso Senhor: “entre os nascidos de mulher não há maior que João” (Lc 7,28). Ele foi o maior homem que a História conhecera até aquele momento, excluído, é claro, o próprio Jesus Cristo, o Homem-Deus. Por este motivo, manifesta sua fé declarando ser ele quem devia ser batizado pelo Messias, e se sente constrangido diante da possibilidade de batizá-Lo.
São os paradoxos com que se depara, não raras vezes, quem é chamado a uma grande missão e se sente inferior a ela. São João preferia não batizar seu Deus, nessa hora, e ser batizado por Ele. Não podia compreender um ato de subordinação d’Aquele cujos caminhos vinha aplainando, mas Jesus o tranquiliza.
Ele veio cumprir a justiça
15ª Jesus porém, respondeu-lhe: ‘Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça!”

Se bem que Nosso Senhor não negasse que São João deveria ser batizado por Ele, ainda que não houvesse pecado, deu a razão suprema pela qual desejou o Batismo. A justiça a que Ele se referia na resposta ao Precursor consistia no seguinte: era preciso cumprir a Lei e as profecias. A divina Justiça exigia uma reparação por nossos pecados. Por isso, tendo Se encarnado, quis Ele, a Inocência, como primogênito do gênero humano, assumir sobre Si os crimes e misérias de toda a humanidade e entrar no Jordão a fim de submergi-los nas águas. Assim, tirava esse pesado fardo de nossas costas e destruía a “maldição que se fundava na transgressão da Lei”.5
Continua no próximo post

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