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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

EVANGELHO FESTA DO BATISMO DO SENHOR - ANO A - 2014

Continuação dos comentários ao Evangelho Batismo do Senhor Mt 3, 13-17 - Ano A - 2014
A submissão completa do Precursor
15b E João concordou.
Expressa a suprema vontade do Divino Mestre, João concorda e, fiel à ordem recebida, obedece, ignorando todas as aparências. Não se preocupa com a desproporção entre a estreiteza e simplicidade do rio Jordão e a grandeza de Nosso Senhor Jesus Cristo, que mereceria ser acolhido com mais dignidade, transportado quiçá numa sede gestatória. Ele só considera o que a fé lhe mostra: que ali está o Messias prometido, o Salvador de Israel, o Redentor do gênero humano, que ali está o Filho de Deus feito Homem (cf. Jo 1, 34).
As portas do Céu foram abertas
6 Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da égua. Então o Céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre Ele.
Ao mesmo tempo que a vida de Nosso Senhor transcorre no apagamento, há situações de marcante esplendor, formando um belíssimo contraste. Porque se, de um lado, Ele nasce numa pobre Gruta, por outro, do Oriente vêm os Reis Magos para visitá-Lo, trazendo ricos presentes. Algo parecido ocorre no episódio contemplado hoje. Jesus, após um curto diálogo com o Precursor, entra no Jordão, é batizado como os outros e sai das águas. E então que se dá um acontecimento grandioso: o Céu se abriu, significando que o acesso à bem-aventurança, antes fechado à humanidade decaída em virtude do pecado de Adão, fora aberto pelo poder e pela Redenção de Cristo. Ademais, era apropriado, como afirma São Tomás, que o Céu se tivesse aberto quando o Filho de Deus recebeu o Batismo, para indicar “que o caminho do Céu está aberto para os batizados”.6
Também era conveniente que se visse o Espírito Santo, porque sendo a Redenção obra da Santíssima Trindade, devia tornar-se patente, em certo momento, que as três Pessoas Divinas estavam unidas para conceder o perdão dos pecados e franquear o Céu aos homens.7 E apareceu sob a forma de pomba porque era preciso um elemento concreto que exprimisse inequivocamente a descida do Espírito Santo sobre Nosso Senhor e sobre todos os batizados.8 Estava o Filho, manifestou-Se o Espírito Santo e se ouviu a voz do Pai.
O primeiro entre muitos filhos
17E do Céu veio uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual Eu pus o meu agrado”.
A conclusão da cena nos abre os olhos para um dos ensinamentos mais importantes desta Liturgia. Ao constituir o universo, Deus teve como modelo Nosso Senhor Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Encamada, em quem está representado, numa síntese perfeitíssima, o conjunto das criaturas. Ele é, no dizer de São Paulo, “o primogênito de toda a criação. N’Ele foram criadas todas as coisas nos Céus e na Terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, Dominações, Principados, Potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele” (Col, 15-16). Ele é, pois, a causa efetiva e exemplar de tudo quanto foi feito.
Desde toda a eternidade, Deus concebeu a criação — os minerais, os astros, a vegetação, os animais, segundo as suas espécies, os homens, na sua variedade de inteligência e temperamento, os Anjos, na sua incalculável diversidade — com o projeto, por assim dizer, de engendrar filhos para Si. No entanto, que meio encontrou Ele para fazer com que simples criaturas contingentes transpusessem o abismo que separa a natureza divina das demais naturezas, o infinito do finito, e participassem de sua natureza, adquirindo a filiação divina? Isso se fez possível com a maravilha sobrenatural da graça — sexto plano da criação —, pela qual as criaturas racionais participam da própria vida de Deus e se tornam seus filhos. Uma só “gota” de graça vale mais do que todo o universo, já que — explica São Tomás9 — pertence ela à ordem divina, infinitamente superior a qualquer natureza criada. Ora, o supremo arquétipo desta filiação divina autêntica é Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho por excelência, inimaginável, insuperável, conforme o Pai revela na teofania posterior ao Batismo: “Este é o meu Filho amado, no qual Eu pus o meu agrado”.
Tanto amou Deus esta filiação realizada por Jesus com a maior perfeição, que colocou bem junto a Ele sua Mãe Virginal, com quem o Espírito Santo gera sobrenaturalmente uma multidão inumerável de filhos, que Deus “predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos” (Rm 8, 29). São as águas do Batismo que nos elevam da condição de simples criatura, amaldiçoada pelo pecado, para fazer parte da família divina.

O Batismo de Jesus, que a Igreja comemora neste dia, abre as portas para a instituição do Batismo sacramental, pelo qual se reproduzem os filhos adotivos de Deus através do Filho Unigênito “muito amado”, conforme comenta São Tomás: “Para que algo seja aquecido, deve sê-lo pelo fogo, pois só se obtém a participação em algo através daquilo que tem a mesma natureza; assim também a adoção filial deve ser feita por meio do Filho, que o é por natureza”.10
Continua no próximo post

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