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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Evangelho V Domingo da Páscoa – Ano A – Jo 14, 1-12

Comentário ao Evangelho V Domingo da Páscoa – Ano A – Jo 14, 1-12

II -  A promessa do reino dos céus
2 “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, Eu vo-lo teria dito. Vou preparar um lugar para vós. 3 Depois que Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo, para que, onde estou, estejais vós também. 4 E vós conheceis o caminho para ir aonde Eu vou”.
Nesses três versículos, Jesus passa a tratar de realidades eternas e sobrenaturais ligadas à nossa fé, mas, como Sua alma se encontra na visão beatífica desde Sua criação, discorre sobre esses assuntos com toda autoridade e clareza, sem deixar de ter a simplicidade de quem narra aquilo que vê. As figuras empregadas por Ele chegam a ser cândidas e ao mesmo tempo pervadidas de densidade. Por Sua didática divina, Se expressa de maneira inteiramente acessível. As verdades contidas nesses versículos são transmitidas a fim de incutir nos discípulos a confiança de que eles não estavam excluídos de Seu Reino, se bem não pudessem segui-Lo naquele momento.
“Ele os consola, garantindo-lhes que não ficam excluídos, mesmo se de momento não O sigam. A seu tempo farão isso, e não lhes faltará lugar ali, porque na casa de seu Pai, isto é, em seu Reino, há muitas moradas e a cada um está reservada a sua, sem perigo de que outro a ocupe”. 6
O Reino dos Céus é o paraíso dos bem-aventurados, criado desde o princípio do mundo, cujas portas se fecharam pelo pecado do homem. Jesus anuncia, não só que Ele vai abrir essas portas com Sua morte, ressurreição e ascensão, mas também que tomará posse do Reino em Seu nome e pelos Seus méritos, e preparará nele um lugar para cada um de nós.
Por outro lado, apesar de esse Evangelho acentuar a nota da multidão das moradas 7, são elas diferentes e, portanto, desiguais. A esse respeito, com propriedade, comenta São Gregório: As muitas moradas combinam com o único denário, pois, embora uns se alegrarão e regozijarão mais que os outros, todos, no entanto, gozarão na posse única da visão de seu Criador. [...] Tampouco sentem os efeitos dessa desigualdade, porque ali cada qual recebe de glória aquilo que lhe basta 8.
Jesus preparará o lugar e retornará para nos levar com Ele
A esse comentário acrescenta Santo Agostinho: E assim Deus será tudo para todos, porque, sendo Ele a caridade, por essa caridade se fará que o bem que alguém possua seja comum a todos. Desta maneira, cada um possui o bem que ele próprio não tem, na proporção em que o ama no outro. Não haverá, pois, inveja na desigualdade de glória, porque reinará a unidade de amor 9.
Comentando Santo Agostinho, o Pe. Manuel de Tuya OP, por sua vez, vai além: O ensinamento não é que o Céu seja para uns poucos; ele tem uma imensa capacidade; ali cabem todos. A imagem, provavelmente, tem por base o plano do Templo, com seus múltiplos aposentos e divisões, e ao qual Cristo um dia chamou também “a casa de meu Pai” (Jo 2, 16). Precisamente Ele vai ao Céu como Filho à casa de seu Pai.
Isso já lhes faz ver sua solicitude por eles, pois vai “preparar-lhes um lugar”. Santo Agostinho pensava que Ele faria isso preparando aqui os futuros moradores. Esta interpretação, porém, “modifica” substancialmente a metáfora. O motivo desta “preparação” é que ninguém podia entrar no Céu antes de lá entrar a Humanidade de Cristo ressuscitado, já que Ele é a “primícia” de toda a humanidade.
Contudo, Cristo não vai somente “preparar-lhes” um lugar, mas anuncia seu retorno para levá-los com Ele à sua morada, depois de deixar “preparado” o Céu para os homens, mediante seu próprio ingresso nele (embora dirigindo-Se diretamente a seus Apóstolos, a doutrina é universal). Isso é o que pedia ao Pai em sua “oração sacerdotal” (Jo 17, 24). A que momento se refere essa vinda? Alvitrou-se o momento da morte, o da parusia, ou simplesmente se afirmaria o fato, sem precisar o momento.
Não parece referir-se ao momento da morte. É um tema não tratado nos Evangelhos com essa exclusiva e específica precisão.
Geralmente se admite a parusia, o tema freqüente e esperançoso da primeira geração cristã. São muitas as alusões feitas a isso nos escritos neotestamentários. Sobretudo São Paulo fala da parusia de Cristo, na qual os justos saem ao “encontro” do Senhor que vem buscá-los “e assim estaremos para sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4, 17-18) 10.
Nossa grande habitação é o próprio Deus
A Teologia nos explica ser nossa grande habitação o próprio Deus; Ele é o nosso templo. Os que nEle crêem com esperança e amor, propriamente e em verdade habitam nEle. As figuras empregadas por Jesus nesses versículos são infinitamente inferiores à realidade, a tal ponto que nós não possuímos, nesta terra, um conhecimento perfeito sobre ela. Somente Jesus o tinha em sua plenitude e é por isso que fala com toda propriedade sobre essa matéria. Enquanto Deus, nEle jamais se interrompeu esse Seu conhecimento e amor. Debaixo da natureza humana, terá Seu corpo glorificado colocado no centro ativo da renovação de toda a obra da criação, inclusive até dos seres minerais (cf. Ro 8, 18-25). Daí que retornará para, superando nosso estado de animalidade e a própria morte, elevar-nos em natureza para estarmos onde Ele se encontra.

Que mais nos falta? Nosso lugar está preparado, a palavra e a promessa de Deus nos foram dadas, é indispensável empreendermos os esforços necessários para preenchermos o único requisito: estarmos prontos para essa grande vinda.
Continua no próximo post

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