CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO — XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A
Para nossa humildade
e vigilância, Deus permite a permanência do joio da concupiscência em nós, pois
seu aguilhão nos faz compreender a existência de um incentivo ao pecado no
nosso próprio ser. E por isso necessitamos recorrer sempre ao auxílio da graça.
26 Tendo crescido a erva e dado fruto, apareceu então o
joio.
Comenta São João
Crisóstomo (7) este versículo, dizendo que assim costumam agir os hereges, ou
seja, no princípio ocultam suas doutrinas e intenções, mas, quando se vêem
apoiados, aí se declaram como tais. Também assim se desenvolve nossa vida
espiritual. Como já vimos, no início temos o “fervor de noviço” a nos inundar
de consolação; todavia, quando se reduz a sensibilidade, deparamo-nos com o
joio da concupiscência existente em nosso interior.
27 Chegando os servos do pai de família, disseram-lhe:
Senhor, porventura não semeaste tu boa semente no teu campo? Donde veio, pois,
o joio? 28 Ele respondeu-lhes: Foi um inimigo que fez isto. Os servos
disseram-lhe: Queres que vamos e o arranquemos?
Há um certo momento
em nossa existência no qual a inclinação para o mal, em nós e nos outros, nos
espanta, e não raramente desejamos extirpá-la ato contínuo. Nascem então em
nossa consciência múltiplos “por quês”. Jesus, na simplicidade comovedora de
sua pregação, imagina um diálogo ingênuo entre os servos e o senhor, procurando
ressaltar a perplexidade impaciente e aflita de uns, e a sábia calma do outro.
Os servos querem um
mundo sem a menor mancha, sem pecado, feito somente de bons. Este foi, aliás, o
erro defendido pelos donatistas (séc. IV). Ora, isto só se realizará no Céu,
segundo ensinam o Antigo Testamento e São João Evangelista. Nesta terra, o bem
e o mal caminham juntos.
29 Ele respondeu-lhes: Não, para que talvez não suceda
que, arrancando o joio, arranqueis juntamente com ele o trigo. 30 Deixai-os
crescer juntos até à ceifa, e no tempo da ceifa direi aos ceifeiros: Colhei
primeiramente o joio, e atai-o em molhos para o queimar; o trigo, porém,
recolhei-o no meu celeiro”.
Possuindo um robusto
discernimento dos espíritos e serenidade de temperamento, o senhor da parábola
pondera sobre a conveniência de deixarem a separação para a época da colheita. Muitos
são os autores que comentam esta passagem, mostrando não só a impossibilidade
de se eliminar todo o mal deste mundo, como também a conveniência de sua
coexistência com o bem. Pelos maus, são exercitados os bons, dirão uns; muitas
ocasiões de sofrimentos, paciência e caridade, etc., são proporcionadas pelos
maus aos bons, afirmarão outros.
Em realidade,
transparece aqui a grande misericórdia de Deus, não permitindo que as criaturas
se precipitem sobre o pecador logo após o pecado, mas concedendo-lhe a
oportunidade de se arrepender e obter o perdão.
Eis o ponto central
do Evangelho de hoje: “Não arranqueis a cizânia”. Por que o Senhor não deseja
que seja arrancada a cizânia? O zelo dos servos é exagerado, uma vez que é
impossível desarraigar da lei ordinária todos os vícios e paixões (8).
III – A PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA
31 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: “O Reino dos Céus
é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32
É a menor de todas as sementes, mas, depois de ter crescido, é maior que todas
as hortaliças e chega a tornar-se uma árvore, de modo que as aves do céu vêm
aninhar nos seus ramos”.
Continua no próximo
post
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