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terça-feira, 29 de julho de 2014

EVANGELHO – XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A – Mt 14, 13-21

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A – Mt 14, 13-21
Os discípulos manifestam fé fraca
16 Jesus porém lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer” 17 Os discípulos responderam: ‘Só temos aqui cinco pães e dois peixes”.
A resposta do Senhor é taxativa: aqueles milhares de homens “não precisam ir embora” para comprar víveres. Uma vez que os recursos materiais se mostravam de todo insuficientes, chegara o momento de Deus agir, pois Ele “escolhe, para intervir, a hora das situações desesperadoras”.4 Queria também o Redentor facilitar aos discípulos a prática da virtude da humildade, pois ao constatar que a quantidade de gente não significava uma dificuldade para o Senhor, deveriam declarar a própria incapacidade de resolver o impasse e se colocar à disposição do Divino Taumaturgo, para servi-Lo no milagre que Ele, sendo a Bondade em essência, haveria de operar em favor daquela multidão.
A resposta permite supor a reação dos discípulos perante as palavras de Jesus: “Este homem pede coisas impossíveis... Como vamos alimentar toda essa gente com cinco pães e dois peixes? Terá Ele noção de quantas pessoas estão aqui?”. Sua objeção demonstra o quanto estavam longe de viver segundo a convicção de que tudo é de Deus, tudo está n’Ele e por Ele é dirigido, ou seja, nada acontece sem sua permissão.
Cabe aqui uma consideração a este respeito. Existe um corte que divide drasticamente os homens em duas categorias bem definidas: os que têm fé e os que não a têm; os que se orientam conforme o prisma sobrenatural da fé e aqueles que pautam sua existência em função do concreto, do material, do palpável e sensível. Estes constituem uma grande fatia da humanidade, talvez avassaladoramente maior do que a dos homens de fé, os quais, por sua vez, sabem encontrar o dedo de Deus em tudo, inclusive na dor, mas sobretudo quando Ele resolve as situações de modo maravilhoso.
A multiplicação dos pães e dos peixes
18 Jesus disse: “Trazei-os aqui”. Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o Céu e pronunciou a bênção. Em seguida, partiu os pães e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões.
Ao contrário do que queriam os Apóstolos, Nosso Senhor não despede as multidões, mas assume a responsabilidade de alimentá-las; não abandona aqueles milhares de homens, mulheres e crianças que se puseram sob sua proteção com tanta confiança e entusiasmo. O cuidado em distribuí-las ordenadamente pela relva, que era abundante por ser primavera, facilitava o cálculo do número de presentes e estava de acordo com o costume oriental de fazer as refeições em grupo.
Jesus toma os pães e os peixes, eleva os olhos ao Céu — Ele que é o Dono do Céu, da Terra e do universo inteiro —, abençoa os alimentos e entrega-os aos discípulos para serem distribuídos a todos os circunstantes. Maldonado comenta — segundo São João Crisóstomo e Leôncio — que Jesus manda trazer os pães para demonstrar que “quem dá de comer a todo o orbe terrestreé o Senhor, e Ele não depende de hora nem de tempo algum, pois em qualquer ocasião e conjuntura pode fazer de qualquer matéria quantos pães quiser”.5
O padre Manuel de Tuya 6 propõe uma interessante questão: esses pães se multiplicaram nas mãos de Cristo ou nas dos Apóstolos, quando estes os distribuíam? E responde que não se sabe ao certo, dada a concisão do relato evangélico. São João Crisóstomo, por sua vez, observa que, ao entregá-los aos discípulos para eles fazerem a distribuição e comprovarem pessoalmente a grandeza do milagre, o Divino Mestre “não pretendia apenas honrá-los com isso. Queria também que, ao realizar-se o milagre, eles lhe dessem fé e não o relegassem depois ao esquecimento, pois suas próprias mãos haveriam de atestá-lo. [...] Enfim, toma os pães de suas mãos para que haja muitas testemunhas do fato e tenham muitas recordações do milagre”7 .
A superabundância de um milagre
20 Todos comeram e ficaram satisfeitos, e dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios, 21 E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
Concluída a miraculosa refeição, ainda sobrou abundante quantidade de pães que foram recolhidos, segundo os usos do tempo, e cada um dos Apóstolos precisou carregar um cesto na volta. Curioso contraste com o início da distribuição, quando tinham pouco peso nas mãos. Por isso não pode ter sido pequena a impressão dos discípulos e da multidão ante a magnitude do prodígio.
De acordo com uma crença difundida nos meios judaicos, o Messias faria cair do céu maná, mais do que o fizera Moisés no deserto,8 e com isso haveria grande fartura de víveres na terra de Israel.9 Depois de verem Nosso Senhor curar numerosos doentes e de comerem um pão de incomparável sabor, fruto de mais um grande milagre, compreende-se que aqueles homens não quisessem mais deixar a companhia de quem operava tantas maravilhas, pois julgavam tratar-se do tão esperado Messias. “Este é verdadeiramente o Profeta que há de vir ao mundo” (Jo 6, 14), afirmavam, constatando como Ele resolvia todos os problemas.
Atende às necessidades e sana as miserias
O Evangelho nos apresenta Nosso Senhor Jesus Cristo enquanto sendo Aquele que atende a todas as nossas necessidades e nos fortalece nas debilidades. Ora, estão entre estas, mais do que as deficiências físicas, sobretudo as inclinações para o mal, as paixões desordenadas que não conseguimos dominar sem o auxílio permanente da graça. Estas misérias, no entanto, nos ajudam a reconhecer nossa total dependência da verdadeira seiva que provém d’Ele.
Disto dá-nos claro ensinamento a primeira leitura (Is 55, 1-3),do Livro do Profeta Isaías: “O vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga” (55, 1). Como tantas vezes nas Escrituras, é utilizada aqui uma linguagem simbólica. A sede à qual se refere o profeta é principalmente espiritual. Com efeito, temos em nossa alma uma apetência insaciável de felicidade, porque somos criados para o infinito. Como escreveu Santo Agostinho,10 fomos feitos para Deus e o nosso coração não estará tranquilo enquanto não repousar n’Ele. Quando virmos a Deus face a face, todo o resto se tornará nada para nós, porque comprovaremos quanto só Ele satisfaz inteiramente essa sede das águas límpidas da graça.
Uma bela pré-figura da Eucaristia
Com tão só cinco pães e dois peixes Nosso Senhor alimentou uma multidão de cinco mil homens, sem contar as mulheres e as crianças. Numa época em que as famílias eram, em geral, numerosas, é possível supor que a quantidade de gente fosse muito maior. Talvez o dobro, o triplo, ou até mais. Mede-se a importância desse milagre pelo fato de ser o único relatado pelos quatro evangelistas. Teve ele grande repercussão, também, por se encontrarem na região caravanas vindas das mais variadas partes a caminho de Jerusalém, para a festa da Páscoa que se aproximava.
Ao realizá-lo, Jesus tinha em vista não só alimentar os corpos, mas, sobretudo, preparar as almas para aceitarem a Eucaristia.

Multiplicando pães e peixes, manifestou seu poder sobre a matéria. Caminhando sobre as águas, poucas horas depois, tornou patente o domínio sobre seu próprio Corpo (cf. Mt 14, 22-27). Desta maneira, ia o Divino Mestre predispondo os Apóstolos a crerem, mais tarde, na Eucaristia, pois quem é capaz de operar tais prodígios pode perfeitamente instituir um Sacramento no qual a substância do pão cede lugar à do seu sagrado Corpo. Este milagre é, pois, uma esplêndida pré-figura da Eucaristia. Temos hoje o Santíssimo Sacramento à nossa disposição nas Missas diariamente celebradas pelo mundo inteiro: é a multiplicação dos Pães Consagrados, o Pão da Vida, até o fim dos séculos.
Continua no próximo post

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