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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Evangelho – XV Domingo do Tempo Comum – Mc 6, 7-13 - Ano B

Comentário ao Evangelho – XV Domingo do Tempo Comum – Mc 6, 7-13
Naquele tempo:  7 Jesus chamou os doze,  e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8 Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura.
9 Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10 E Jesus disse ainda: 'Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11 Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!' 12 Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13 Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo.
Os Doze são enviados em missão
Jesus conferiu aos Apóstolos o poder de expulsar os espíritos imundos e o dom de curar os enfermos, para que os homens daquela época dessem crédito à mensagem do Evangelho. E em nossos dias, qual é a prova da autenticidade da Boa Nova que os evangelizadores devem apresentar ao mundo moderno?
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – A cruz, companheira inseparável do apóstolo
Antes de enviar os Apóstolos em missão, a pregar o Evangelho, Jesus dá-lhes preciosos conselhos que, embora possam parecer a alguns um tanto árduos de serem postos em prática, continuam inteiramente válidos, pois, Suas palavras permanecem para sempre.
Falava Ele para homens de Seu tempo, fazendo uso dos recursos de linguagem próprios à cultura dos orientais, na qual abundavam as imagens, os enigmas, as parábolas. Mas estas, desde que devidamente interpretadas, revelam valiosas normas de apostolado, utilíssimas para quem segue hoje os passos do Mestre na meritória e difícil tarefa de evangelizar.
Antes, porém, de entrar na consideração do Evangelho do 15º Domingo do Tempo Comum, detenhamo-nos um pouco no episódio imediatamente anterior — a visita a Nazaré —, para melhor penetrarmos no sentido dos ensinamentos de Nosso Senhor aos Doze, com vistas à missão que lhes daria.

Seus compatrícios O rejeitaram
Poder-se-ia afirmar, em termos coloquiais, que a pregação de Jesus em Nazaré redundou num verdadeiro fracasso: ali Ele provavelmente não conseguiu converter ninguém e quase não fez milagres.
São Marcos reproduz os comentários feitos pelos conhecidos “do carpinteiro”, nos quais transparece o deplorável vício da inveja, decorrente da comparação das próprias qualidades, sobrevalorizadas por uma análise complacente, com os talentos dos outros. E, neste caso, a comparação era com o próprio Jesus: “Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?” (Mc 6, 3). Em outras palavras, “não é este aquele homem que eu conheço há muito tempo, que vale tanto como eu, e agora se apresenta como profeta, fazendo milagres? Como tem ele esses dons, e eu, não?”.
Com frequência, o convívio muito próximo e assíduo provoca um curioso fenômeno de cegueira espiritual em relação às qualidades e virtudes do próximo. Os habitantes de Nazaré não conseguiam ver em Jesus nada mais além do que o “carpinteiro”, “irmão de Tiago”. Ficaram incapazes de ver nEle o Filho de Deus. E, no entanto, Ele era o Messias prometido!
É de se notar que, antes de ir para Nazaré, Jesus tinha operado um milagre que deixara assombrados todos os circunstantes: ressuscitara a filha de Jairo, recém-falecida: “Saindo dali, Jesus foi para a sua própria terra” (Mc 6, 1). Fazer um morto retornar à vida, somente Deus tem poder para tal. Era natural que uma notícia desse porte corresse à frente do Divino Mestre. Assim, ao chegar Ele a Nazaré, tão extraordinário fato era já do conhecimento geral.
Seria, portanto, de esperar que Seus compatrícios — sobretudo os parentes mais próximos — se alegrassem com tal acontecimento, pois Deus escolhera um do meio deles, para tão alta missão. Não! Pelo contrário, fecharam o coração, rejeitaram Jesus, tentaram até matá-Lo, conforme narra São Lucas (cf. 4, 29). Mistério da iniquidade...
O Mestre forma o espírito dos Apóstolos
Nasce então a pergunta: por que razão Cristo, que tudo conhecia, quis visitar Nazaré, junto com os Apóstolos?
Ele já sabia que Sua pregação seria em vão... Além disso, ali vivera desde seu regresso do Egito, e conhecia a fundo a dureza de coração de seus conterrâneos. Sem dúvida, ao longo desse período, deve ter-Se empenhado em abrir-lhes a alma para a grandeza dos dias que eles viveriam, quando Ele Se manifestasse como o Messias. E sabia o quanto eles estavam longe dessas perspectivas grandiosas.
O que O levou então a Nazaré? Uma das razões, certamente, era a de preparar os Apóstolos para a missão de anunciar o Evangelho.
Tinha Ele percorrido a Galileia fazendo todo tipo de milagres, mas, pelo modo como o Evangelista Marcos relata a passagem por Nazaré, o acontecido nessa cidade não marcou menos o coração dos Seus discípulos, os quais não deixaram de ressaltar aquele aparente fracasso: “E não conseguiu fazer ali milagre algum” (Mc 6, 5).
Para formar o espírito dos Apóstolos, o próprio Jesus não deixou de manifestar-lhes o quanto a incredulidade daquela gente era inusitada: “Ele Se admirava da incredulidade deles” (Mc 6, 6). Dessa maneira, pelo choque gerado por atitude tão surpreendente dos nazarenos — a rejeição da graça e dos benefícios que lhes eram oferecidos —, procurava certamente Jesus ensinar, de modo divino, como todo aquele que se dedica ao apostolado não pode deixar-se levar por ilusões. Pois a tendência normal do apóstolo é difundir o bem, sobretudo entre os mais próximos. E, por vezes, é entre estes que encontra maior rejeição.
Atitude do apóstolo perante a rejeição
O que, então, precisa ser feito? A verdade não deve ser imposta, mas oferecida com despretensão. Se os ouvintes não a quiserem aceitar, o apóstolo, em vez de insistir, procure anunciá-la a quem tiver boas disposições. Por isso, Jesus não fez milagres em Nazaré: se procurasse impor a verdade por meio de sinais extraordinários, aumentaria a culpa daqueles que a rejeitavam. E, nisso, ainda havia um ato de misericórdia em relação a quem fechava a alma para o Bem.
O que deve fazer o apóstolo quando é rejeitado em algum lugar? O exemplo dado pelo Mestre é inequívoco: “Percorria os povoados da região, ensinando” (Mc 6, 6).
É admirável o modo como Ele preparava os Apóstolos para a missão que logo em seguida haveria de lhes dar. Seu divino método pedagógico estava baseado no Seu sublime exemplo. Primeiro, fez com que O acompanhassem na pregação, vissem os milagres operados, participassem até de uma investida fracassada, em Nazaré, onde tudo parecia concorrer para que a pregação obtivesse bom êxito. Só depois os envia em missão a pregar a Boa Nova, quando seu espírito já estava mais preparado pela experiência e fora já um tanto abalada a ilusão de que à frente deles se abria uma larga e cômoda avenida de sucessos.
O que o apóstolo deve esperar encontrar pelo caminho não são sucessos, mas o mais das vezes, incompreensões, obstáculos e sofrimento. A Cruz será a companheira inseparável do verdadeiro apóstolo, mesmo que lhe seja concedido o dom de fazer milagres e dominar os espíritos impuros.
II – Recomendações do Divino Mestre

7 “Então chamou os Doze...”.
Continua no próximo post

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