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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Evangelho XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B - Jo 6, 24-35

Conclusão dos comentários ao Evangelho – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B
Anúncio do verdadeiro Maná
32 Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. 33 Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.
Nosso Senhor recorre à fórmula do juramento — “em verdade, em verdade” — para dar ênfase às suas palavras. Obcecados, como foi dito acima, em sua visão humana da realidade, eles atribuíam o milagre do maná ao poder de Moisés, que era apenas o mediador entre Deus e o povo eleito.
Ora, Quem lhes daria “o verdadeiro pão do céu” é o mesmo Deus que outrora sustentara com o maná os seus antepassados. E ao dizer “meu Pai”, Jesus faz outra referência à identidade de natureza; portanto, proclama mais uma vez sua divindade.
Num crescendo de explicitação, foi convidando seus ouvintes a reconhecerem n’Ele o Filho de Deus. Era uma preparação para compreenderem o transcendental significado da Eucaristia, que seria instituída na Santa Ceia.
Desejo ainda imperfeito
34 “Então pediram: ‘Senhor, dá-nos sempre desse pão’”.

Embora ainda não entendessem bem o alcance das palavras de Jesus, julgavam que ficariam satisfeitos em sua busca da felicidade terrena se lhes fosse dado sempre um pão assim. Precisavam deixar o homem velho, de espírito materialista, e adquirir a mentalidade do homem novo (cf. Ef 4, 22-24), o qual “não vive somente de pão, mas de toda palavra saída da boca de Deus” (Mt 4, 4), como diz a Aclamação ao Evangelho.
Esta Palavra é Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito carne. É preciso viver desta Palavra.
Eles entenderam que aquele pão do qual se fartaram na véspera nada era comparado ao que lhes estava sendo prometido. Por isso, Nosso Senhor vai revelar claramente o grande dom da Eucaristia.
35“Jesus lhes disse: ‘Eu sou o Pão da Vida. Quem vem a Mim não terá mais fome e quem crê em Mim nunca mais terá sede’”.
Era chegada a hora do anúncio preparado por Deus durante longos séculos: o Pão da Vida não é senão Aquele que dá, mantém e desenvolve a vida sobrenatural, o Cordeiro imolado para a nossa salvação.
Esse desejo ainda muito materialista, Nosso Senhor procura elevá-lo a uma perspectiva sobrenatural, de maneira a eles aceitarem o que revelaria nos versículos subsequentes, não contemplados na Liturgia deste domingo: “Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54). Escandalizados, até alguns discípulos se afastaram do Divino Mestre após essa proclamação.
Um anúncio repetido até hoje
Embora seres limitados, temos na alma uma janela voltada para o infinito que Deus teve a delicadeza de colocar ao nos criar para favorecer nosso relacionamento com Ele. Assim, nada deste mundo pode satisfazer inteiramente o homem porque “o olho não se farta de ver, nem o ouvido se farta de ouvir” (Ecl 1, 8). Em consequência, quando procuramos a felicidade nos prazeres ou nos bens terrenos, nos decepcionamos.
Quem não conhece Deus e, como os pagãos, vive atrás das coisas materiais, este sempre padecerá fome e sede, pois nunca conseguirá satisfazer-se no seu orgulho e na sua sensualidade. Quem, ao contrário, se alimenta do Pão verdadeiro, Pão angélico, Pão divino que é o próprio Jesus Cristo, terá mais sede e fome de Deus, do sobrenatural, da vida divina e, em consequência, menos será aguilhoado pelo desejo de pecar.
Em termos sublimes, exprime Santo Agostinho a felicidade de libertar-se da fome e sede de pecado e arder de sede e fome de Deus: “Tarde demais Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais Vos amei! Estáveis dentro de mim, enquanto eu estava fora e do lado de fora Vos procurava. E disforme como era, lançava-me em busca da beleza das vossas criaturas. Comigo estáveis, e eu não estava convosco. Retinham-me longe de Vós aquelas coisas que nada seriam se não existissem em Vós. Chamastes-me, e vosso grito rompeu minha surdez. Brilhastes e resplandecestes, e vosso fulgor expulsou minha cegueira. Exalastes vosso perfume, eu o respirei e suspiro por Vós. Provei vosso sabor, e de Vós sinto fome e sede. Tocastes-me e abrasei-me no desejo de vossa paz”.2
O mundo do homem velho nos oferece toda espécie de bens materiais, de satisfação da egolatria e dos apetites sensuais, mas não proporciona aquilo que dá paz à alma, a Eucaristia, na qual está realmente presente Nosso Senhor Jesus Cristo.
Diante desse inestimável dom, qual deve ser a nossa gratidão?
III – Não olhemos para trás
A liturgia deste domingo se refere à felicidade do homem, quando este se lança inteiramente nas vias do Divino Redentor. É o ensinamento de São Paulo aos Efésios, contido na Segunda Leitura deste domingo: “Irmãos: Eis, pois, o que eu digo e atesto no Senhor: não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada” (Ef 4, 17). Recorrendo ao nome de Deus, ele nos alerta a não sermos como os pagãos, os quais põem sua inteligência nas coisas materiais e acabam adorando ídolos de madeira, metal, ou pedra, o que no fundo constitui uma forma de adoração de si mesmo.
“Quanto a vós, não é assim que aprendestes de Cristo, se ao menos foi bem Ele que ouvistes falar, e se é Ele que vos foi ensinado, em conformidade com a verdade que está em Jesus. Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4, 20-24).
É preciso renunciar aos erros da vida passada, aos maus ambientes, às amizades inconvenientes, a tudo quanto leva ao pecado. O homem velho rege-se por uma série de princípios errados e é dominado por suas paixões. Ora, o ser humano deve escolher o rumo de sua vida mediante uma deliberação da sua vontade, vencendo, portanto, a solicitação de suas más inclinações. Se nossa meta é a glória de Deus, precisamos afastar-nos de tudo quanto nos liga ao homem velho, sem sequer olhar para trás para contemplar o passado, como fez a mulher de Lot (cf. Gn 19, 26). Diz a Escritura: “O cão volta a seu vômito” (II Pd 2, 22). Não queiramos imitá-lo!
A revelação da Eucaristia, alimento que abre a alma para uma imortalidade bem-aventurada, constitui assim a coroação de uma didática desdobrada durante séculos, desde a peregrinação do povo eleito pelo deserto até o grandioso episódio narrado no Evangelho deste domingo.
Sejamos gratíssimos a Deus, pois neste Sacramento recebemos benefícios muito superiores àqueles concedidos ao povo judeu no deserto, ou às multidões que foram à procura do Divino Redentor movidas pelo mero desejo do pão material. Estes O viram e ouviram, mas não tiveram o privilégio, tão ao nosso alcance, de recebê-Lo diariamente no banquete eucarístico!
1 SCHUSTER, Ignacio; HOLZAMMER, Juan B. Historia Bíblica. 2.ed. Barcelona: Litúrgica Española, 1946, t.I, p.247-248.

2 SANTO AGOSTINHO. Confissões. L.X, c.27: ML 32, 795.

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