Continuação dos comentários ao Evangelho – XVIII Domingo do Tempo Comum – Ano B
Mais uma vez, entretanto, o dom de Deus lhes serve para manifestar quão apoucados eram na fé, pois: “Vendo aquilo os filhos de Israel disseram entre si: ‘Que é isto?’. Porque não sabiam o que era. Moisés respondeu-lhes: ‘Isto é o pão que o Senhor vos deu como alimento’” (Ex 16, 15). Apesar disso, durante quarenta anos sem falhar nunca, eles receberam um alimento que continha todos os sabores, ou seja, o maná adquiria no paladar o sabor desejado por quem o consumia (cf. Sb 16, 20-21).
Deus os preparava para o verdadeiro Maná
Mais uma vez, entretanto, o dom de Deus lhes serve para manifestar quão apoucados eram na fé, pois: “Vendo aquilo os filhos de Israel disseram entre si: ‘Que é isto?’. Porque não sabiam o que era. Moisés respondeu-lhes: ‘Isto é o pão que o Senhor vos deu como alimento’” (Ex 16, 15). Apesar disso, durante quarenta anos sem falhar nunca, eles receberam um alimento que continha todos os sabores, ou seja, o maná adquiria no paladar o sabor desejado por quem o consumia (cf. Sb 16, 20-21).
Deus
usa esse procedimento durante toda a perambulação do povo no deserto, para acostumá-lo
a viver na dependência do Céu, para retificar sua mentalidade excessivamente
calculista e pragmática.
E
assim, por meio do maná, alimento material, Ele os preparava para o verdadeiro
Maná, alimento espiritual descido do Céu que nos proporciona a vida eterna e
que nos é anunciado pelo próprio Jesus no Evangelho de hoje. É desta maneira
que com uma didática verdadeiramente divina a liturgia vai preparando os
espíritos para tratar a respeito da Eucaristia.
“Estais Me procurando porque comestes pão”
“Naquele tempo, 24 quando a multidão viu
que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à
procura de Jesus, em Cafarnaum”.
No dia
seguinte, tomado por essas cogitações, a multidão não pensou em outra coisa
senão em seguir o Mestre, ávida de saborear mais uma vez aquele pão. Imaginava
talvez que Nosso Senhor multiplicaria sempre os pães e os peixes, na esperança
de não precisar mais trabalhar para o sustento diário, esquecendo-se da
sentença divina: “Comerás o pão com o suor do teu rosto” (Gn 3, 19).
Ora,
fora informada de que ao entardecer os discípulos haviam partido de barco rumo
a Cafarnaum e depois o Mestre saíra na mesma direção. Desconheciam, entretanto,
que Jesus caminhara sobre as águas e Se unira a eles de madrugada (cf. Jo 6,
17-21).
25 “Quando O encontraram no outro lado do
mar, perguntaram-Lhe: ‘Rabi, quando chegaste aqui?’. 26 Jesus respondeu: ‘Em
verdade, em verdade, Eu vos digo: estais Me procurando não porque vistes
sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos’”.
Quando
se depararam com Jesus, ficaram surpresos: Ele não havia subido na barca com os
discípulos, como então chegara ali?
Mas
Cristo não lhes revelou o milagre de caminhar sobre as águas, porque ainda não
estavam preparados para a perspectiva de Ele ter um domínio sobre o próprio
corpo; aos seus discípulos, sim, quis mostrar esse poder. O milagre da multiplicação
dos pães os ajudaria na compreensão do que mais adiante lhes seria revelado.
E
Jesus, com sua divina sabedoria, respondeu não à pergunta, mas à intenção de
seus autores, aproveitando ao mesmo tempo para repreendê-los por sua
preocupação meramente material: “Estais Me procurando não porque vistes
sinais...”. Em concreto, a multiplicação dos pães fora uma demonstração
retumbante e inequívoca do seu poder sobre a matéria, mas o povo parecia não
compreender o seu significado.
Ficaram nos efeitos sem remontar
à Causa
Só esse
sinal espetacular teria bastado para aquelas pessoas concluírem que estavam na
presença de Deus. Elas, porém, preocupadas mais com o sustento material do que
com a revelação do sobrenatural, não tiraram essa conclusão. Estavam ali
movidas por puro interesse pragmático. Restringiram-se ao pão, recusando
admirar Quem Se lhes manifestara de forma tão extraordinária. Em outras
palavras, ficaram nos efeitos, não remontaram à Causa. Por isso, Nosso Senhor
os censura.
Eis um
importante ensinamento a tirar deste versículo, para não cometermos o mesmo
erro em nossa vida espiritual: muitas vezes, podemos nos apegar às consolações,
como aquele povo ao pão, esquecendo-nos de olhar para o Autor delas. Quem assim
procede perde um fruto espiritual extraordinário por não estar sempre
remontando à Fonte das graças e restituindo devidamente tudo quanto recebe.
Convém frisar mais uma vez a sabedoria
do Mestre ao educar as multidões: primeiro, Ele a todos agradou,
oferecendo-lhes aquele extraordinário pão; depois, apesar de O procurarem
movidos por mero interesse, aproveita-Se disso para prepará-los a aceitar uma
revelação muito mais importante.
Alimento que permanece até a vida
eterna
27 “Esforçai-vos não pelo alimento que se
perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do
Homem vos dará. Pois este é Quem o Pai marcou com seu selo”.
Outrora
o Senhor proporcionara a seu povo cebolas, carne e pão com fartura, nas margens
fertilíssimas do rio Nilo. Depois o libertou de longa escravidão e ofereceu-lhe
no deserto o maná do céu, codornizes em abundância e água tirada das pedras.
Por fim, presente entre os homens na Divina Pessoa de Jesus, multiplica os
pães. Assim agindo, Ele educava aqueles homens para a dependência contínua da
Divina Providência, mas todos esses alimentos, afinal, são perecíveis e dizem
respeito à vida terrena.
Agora,
esse mesmo Deus deseja dar um passo a mais na manifestação do seu amor pela
humanidade: desvendar o mistério da Eucaristia, o verdadeiro Pão dos Anjos, que
é o próprio Corpo, Sangue, Alma e Divindade d’Ele, Jesus Cristo. Procurava chamar
a atenção do povo para essa iminente revelação. Ouvindo falar de um alimento
que “permanece até a vida eterna”, as pessoas logo O julgaram capaz de operar
esse milagre, pois, entre tantos outros prodígios, havia já feito um pão
inigualável.
Assim,
partindo da figura material para chegar à realidade espiritual, Ele relaciona o
milagre da multiplicação dos pães com um outro pão que iria dar.
E numa
crescente manifestação de sua divindade, Ele afirma ser o varão “marcado com o
selo do Pai”. Entretanto, mesmo assim, também não será aceito: aquelas pessoas
tinham já presenciado numerosos milagres — como cegos recuperarem as vistas,
coxos andarem e até defuntos voltarem da região dos mortos —, mas percebem que
lhes será exigido algo difícil. E procuram tergiversar.
Do que necessitavam ainda para
crer?
28 “Então perguntaram: ‘Que devemos fazer
para realizar as obras de Deus?’. 29 Jesus respondeu: ‘A obra de Deus é que
acrediteis n’Aquele que Ele enviou’”.
Para
quem naquele momento estava diante da revelação da divindade de Nosso Senhor,
não era apropriada tal indagação, pois ela desviava do cerne do misterioso tema
tratado. A um Homem que se diz Deus, trata-se de segui-Lo. Pelo contrário, a
pergunta revelava um desejo de praticar obras divorciadas do Messias, como se
seus autores julgassem poder viver bem sem Ele.
Em sua
resposta, Nosso Senhor retoma o assunto do qual estava tratando, e dá uma
orientação ao mesmo tempo tão fácil e tão difícil: era preciso acreditarem na
sua palavra. Nisso consistia a realização da obra divina.
30 “Eles perguntaram: ‘Que sinal realizas,
para que possamos ver e crer em Ti? Que obra fazes? 31 Nossos pais comeram o
maná no deserto, como está na Escritura: Pão do céu deu-lhes a comer’”.
Procurando
pretexto para não aceitar a revelação que acabava de lhes ser feita, eles
desejam um sinal para crer em Jesus, como outrora seus antepassados exigiam dos
profetas a realização de algum prodígio para comprovar a veracidade do oráculo.
Pedido despropositado em vista dos inúmeros milagres operados por Nosso Senhor
nas diversas regiões onde pregara. Do que necessitavam ainda para crer?
Segundo
a concepção vigente, o Messias deveria ter o poder de restaurar o domínio
político de Israel. Compreende-se bem, pois, a referência ao maná, considerado
não uma dádiva de Deus, mas sim a solução de um problema temporal, proveniente
de um grande caudilho como Moisés. De acordo com essa ideia, era o profeta, e
não o próprio Deus, quem dava ao povo o maná. Da mesma forma, consideravam a
multiplicação dos pães e peixes a saída para uma dificuldade material, vendo em
Jesus um líder meramente humano, qual outro Moisés.
Continua
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