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domingo, 20 de setembro de 2015

Evangelho XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano B - Mc 9,38-43.45.47-48

Continuação dos comentários ao Evangelho – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano B
O poder da mediação
39 “Jesus disse: ‘Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de Mim. 40 Quem não é contra nós é a nosso favor’”.
Contrariamente à inadequada visualização dos Apóstolos, ensina Nosso Senhor estar aberta a todo aquele que o queira a possibilidade de fazer o bem, sem ser isto privilégio de ninguém: “quem não é contra nós é a nosso favor”.
A mesma atitude, aliás, tomara Moisés quando o avisaram de que dois homens no acampamento estavam profetizando e Josué pediu para lhes dar ordem de se calarem, como registra a primeira leitura deste domingo: “Tens ciúmes por mim? Quem me dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito” (Nm 11, 29), foi a inspirada resposta do profeta, antecedendo-se ao ensinamento do Divino Mestre.
De qualquer maneira, era indispensável o recurso ao nome de Jesus para o tal homem fazer exorcismos. Para deixar este princípio de intercessão bem claro, Nosso Senhor vai explicar que quem deseja agir de forma eficaz e ser bem sucedido, precisa da mediação daquele mais próximo de Deus, por meio do qual recebeu sua missão. Assim, as obras realizadas em função desse mediador, cujo nome se invoca manifestando reconhecimento, são abençoadas pela Providência com frutos abundantes.
No caso apresentado por João, nota-se que aquele homem, embora não tivesse a vocação de ser Apóstolo, fora chamado a propagar o nome de Jesus. Comenta, a este propósito, Maldonado: “Cristo quer que sua doutrina seja confirmada por milagres, não só dos Apóstolos, mas também de quaisquer outros discípulos”.2

E, assim como São Paulo se alegrará pelo fato de alguns, mesmo por inveja e rivalidade com ele, começarem também a falar de Nosso Senhor (cf. Fl 1, 17-18), neste caso concreto, o Divino Mestre sabia perfeitamente que obrava de boa-fé o homem denunciado por São João. “Bastava-lhe seguir a doutrina evangélica, mesmo sem fazer parte de seu grupo; por isso não devia ser considerado um adversário”.3 E Santo Agostinho afirma: “Cristo permitiu-lhe continuar, pois ele assim divulgava o seu nome, e isso era útil para muitos”.4 No fundo, fora o próprio Jesus quem, com sua graça, o havia estimulado a agir assim.
Ora, Nosso Senhor afirma implicitamente, em sentido contrário, que quando alguém faz uso de um poder recebido do alto sem estar unido com a fonte desse poder, suas obras serão infrutíferas. Pior ainda, elas acarretarão toda espécie de desastres e, ao invés de expulsar os demônios, os atrairão.
Querer fazer milagres sem usar o nome de Jesus equivale, portanto, a falar mal d’Ele. Era um modo de Jesus ensinar aos seus discípulos que a apropriação dos dons sobrenaturais leva à retração das graças divinas e à negação do Autor desses dons, e mostrar-lhes o quanto a Providência é ciosa das mediações por Ela estabelecidas.
Nosso Senhor recompensa quem auxilia seus discípulos
41 “Em verdade Eu vos digo: quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”.
São Mateus situa esta promessa em outro momento: ao enviar os Apóstolos a pregar pela primeira vez, Jesus promete recompensar quem os acolher bem (cf. Mt 10, 42)
De todos os modos, estas palavras do Divino Redentor podem ser entendidas também no seguinte sentido: ao vermos alguém agindo sob a ação de uma graça ou praticando um ato virtuoso, se nos encantamos e procuramos estimulá-lo, esta atitude não ficará sem prêmio. Em sentido inverso, provocamos o desagrado de Deus quando deixamos de assim proceder.
E a intervenção de São João, sim, fora extemporânea, desviando do tema tratado. Consideremos, pois, que Jesus acabara de dizer: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18, 3). Acrescentando: “Quem acolhe em meu nome uma destas crianças, a Mim acolhe. E quem Me acolhe, acolhe, não a Mim, mas Àquele que Me enviou” (Mc 9, 37).
III – O escândalo dos inocentes e da própria consciência
Na perícope selecionada para o Evangelho deste domingo, as seguintes palavras de Nosso Senhor parecem mudar de forma abrupta o tema. Porém, se relermos os versículos anteriores, constataremos que Jesus apenas retoma o assunto antes discutido, ou seja, a necessidade de se ter a humildade e a simplicidade da criança. E a intervenção de São João, sim, fora extemporânea, desviando deste tema.
Consideremos, pois, que Jesus acabara de dizer: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18, 3). Acrescentando: “Quem acolhe em meu nome uma destas crianças, a Mim acolhe. E quem Me acolhe, acolhe, não a Mim, mas Àquele que Me enviou” (Mc 9, 37).
42 “E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”.

Tendo tratado da recompensa à boa acolhida dada a um pequenino, analisa agora o oposto: o castigo para quem desedificar ou prejudicar um inocente. 
Ao falar em pequeninos, Nosso Senhor não está Se referindo apenas às crianças, mas a todos quantos não têm forças suficientes para se manterem por si mesmos na prática da virtude, precisando para isso do apoio de outros, sobretudo no tocante ao seu instinto de sociabilidade.
Especialmente merecedor desse auxílio é quem conserva a sua inocência batismal. Este tem a alma constantemente aberta ao sobrenatural, pois, como explica São João Crisóstomo: “O menino está limpo de inveja, de vanglória e da ambição de ocupar os primeiros postos. Ele possui a maior das virtudes: simplicidade, sinceridade, humildade. [...] O menino está isento de orgulho, de ambição da glória, de inveja, de obstinação e de todas as paixões semelhantes”.5
Muito Se compraz Deus com essa retidão de alma própria ao inocente. Por isso quem induz ao pecado “um destes pequeninos” causa-Lhe um tal repúdio que se torna réu desta terrível condenação: era preferível ser lançado ao mar! Nosso Senhor utiliza esta severa imagem por ser inteiramente familiar aos seus ouvintes, conforme comenta São Jerônimo: “Fala segundo o costume da região, porque esta foi entre os antigos judeus a pena para os maiores crimes: lançar na água o criminoso com uma pedra atada ao pescoço”.6
Nos lábios de um outro, esta afirmação poderia parecer exagerada, mas quem a faz é o Filho de Deus! E São João Crisóstomo assinala um detalhe: para quem escandalizar uma criança, disse Cristo, “melhor seria” ser atirado ao mar com uma pedra amarrada ao pescoço; ou seja, “dá a entender com isto que o espera um castigo mais grave do que este”.7
Pela indignação de Nosso Senhor diante do escândalo, bem se pode medir o estreito vínculo d’Ele com os inocentes!
Continua no próximo post

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