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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Evangelho XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano B - Mc 9,38-43.45.47-48

Continuação dos comentários ao Evangelho – XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano B
Gravidade do pecado de escândalo
O escândalo, segundo São Tomás, consiste em pronunciar palavras ou realizar ações próprias a expor alguém à ruína espiritual, na medida em que elas o arrastam ao pecado.8 Significa dar más sugestões, conselhos ou exemplos que chocam aquele a quem deveríamos, pelo contrário, edificar, fazendo com que suas forças espirituais depereçam.
Trata-se de um pecado gravíssimo e cheio de malícia, que prejudica tanto quem o recebe quanto quem o comete. Ao primeiro, porque a falta cometida em decorrência do escândalo furta-lhe a vida da graça de Deus na alma. Ao segundo, por fazer o mesmo papel do demônio — perder almas —, acrescido do gosto em arruinar a inocência alheia. Nesse sentido pode-se afirmar tratar-se de um pecado satânico.
Com a agravante, ainda, de ser muito difícil reparar um escândalo: pois, uma vez cometido, não basta a Confissão, mas é necessária a reparação. É fácil tomar um copo d’água e jogá-lo ao chão; mas, será o mesmo recolher o líquido depois? E, a partir de um escândalo moral, os pecados podem se multiplicar, avolumar-se como uma bola de neve, perpetuando-se em sucessivas faltas decorrentes umas das outras. Como reparar todas elas? Portanto, ai dos escandalosos...!

O mundo hoje está pervadido, encharcado e transbordante de escândalo por todos os cantos. São escândalos nas modas, nas conversas, nos modos de ser; são escândalos na televisão, na internet, nos cinemas; são escândalos nos jornais, nas revistas, no relacionamento social. Onde não há escândalo e a inocência não vai sendo tragada pela voragem da impureza e da desonestidade? Qual será, pois, a reação de Nosso Senhor a essa avalanche de pecados de dimensões inauditas?
Prejuízo da própria consciência
43 “Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. 45 Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 47a Se teu olho te leva a pecar, arranca-o!”.
A grandes males, radicais medidas!
Se Nosso Senhor condenou o escândalo dado ao próximo, nestes versículos fustigará também o prejuízo da própria consciência quando não evitamos o pecado. Se grave é atentar contra a obra de Deus na alma de outrem, não será menos condenável fazer o mesmo com a própria alma, pois a caridade começa consigo.
As recomendações de Nosso Senhor — cortar a mão, cortar o pé, arrancar o olho — devem ser entendidas literalmente? Responde São João Crisóstomo, Doutor da Igreja: “Em tudo isto, não se refere o Senhor, nem de longe, aos membros do corpo”.9
É preciso amar acima de tudo a Deus e ter, em consequência, verdadeiro ódio ao pecado. Isso supõe romper radicalmente com tudo quanto a ele conduz. No Horto das Oliveiras, Jesus aconselhou: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt 26, 41). Não basta apenas rezar; é necessário também vigiar, ou seja, afastar-se das circunstâncias nas quais se costuma pecar.
Como podemos obter forças para vencer o vício?
Se a pessoa cedeu várias vezes em alguma tentação e debilitou-se nesse ponto, a única solução é se afastar para sempre dessa ocasião de modo categórico. Para vencer, por exemplo, o vício da embriaguez, torna-se indispensável abster-se de todo resquício de álcool, pois, por qualquer deslize, se pode recair.
Da mesma forma, devemos cortar irremissivelmente tudo quanto constitui para nós ocasião próxima de pecado, como faríamos se um membro doente comprometesse seriamente a saúde de todo o organismo. Poderá ser uma má amizade, pois “nada há de mais pernicioso que uma má companhia. Aquilo que não se consegue pela violência, obtém-se muitas vezes por meio da amizade, tanto para o bem quanto para o mal”.10 Mas poderá ser também um mau livro, um vídeo inconveniente ou, tantas vezes, o acesso à internet que leva a pecar.
Ora, ao mesmo tempo que aconselha a fuga das ocasiões próximas, tendo presente a fraqueza humana, Nosso Senhor adverte, apontando a consequência do pecado: a condenação eterna no inferno, “onde o verme deles não morre e o fogo nunca se apaga”. Essa radicalidade na virtude pressupõe termos os olhos postos na eternidade e sempre presente a máxima da Escritura: “Em todas as tuas obras, medita nos teus novíssimos e não pecarás eternamente” (Ecl 7, 40).
O local onde o “fogo não se apaga”
“É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48 onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga”.
Hoje, muitos ousam negar a existência do inferno. Seria tão cômodo para a consciência se tal fosse verdade... Porém, os Evangelhos transcrevem quinze referências de Nosso Senhor ao inferno. Ele existe sem dúvida e, a respeito de seus tormentos, o Divino Redentor nos fornece aqui uma noção fundamental: a existência de um verme roedor que não morre.
Como acontece com o fogo, numerosas são as interpretações dos autores sobre o significado deste “verme”, abrangendo tanto o sentido literal quanto o simbólico. Ora, esses diversos comentários não se excluem, pois a terrível realidade do inferno por certo supera toda imaginação!
Interessa, contudo, salientar aqui a identificação do “verme” com o remorso da consciência que jamais abandona o condenado. Pois um dos piores tormentos para ele é saber que violou os Mandamentos de Deus e o castigo é irremediável; que perdeu o prêmio eterno por tão pouco: uma ilusão fugaz, um prazer momentâneo... Em contraposição, o justo gozará da perfeita felicidade, da superior alegria proporcionada pela paz de consciência.
A fim de não cairmos nessa região de tormentos, lembremo-nos do versículo do Salmo Responsorial que suplica: “Preservai o vosso servo do orgulho: que não domine sobre mim!”. No inferno, não nos iludamos, são mais numerosos os condenados por causa do orgulho do que por outros pecados. Não há praticamente pecado algum que não tenha raiz neste defeito. O orgulho é a fonte de todo pecado!

 Continua no próximo post

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