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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ódio dos fariseus contra o Divino Mestre

O demônio, ente de natureza angélica, foi criado por Deus na verdade. Nesta ele se conduzia em seu estado de prova, que consistia em restituir ao Criador o ser, os dons e as qualidades d’Ele recebidos, prestando- Lhe um justo culto de latria. Foi exactamente o caminho que, a certa altura, esse anjo de luz resolveu abandonar por livre vontade, penetrando nas trevas da morte, do pecado e da mentira. Foi ele o primeiro a abrir o passo na ruptura com a ordem do universo e, sobretudo, com o próprio Deus, liderando a oposição contra o Supremo Legislador. Revoltou-se e rejeitou o convite a ser luz em Deus, para ser mentira em si mesmo; por pura presunção, quis ser deus por si próprio, deixando de sê-lo por participação; preferiu a adoração de sua natureza tirada do nada, para assim obter o eterno desprezo de Deus.
Esse é o diabo! E os fariseus são seus filhos, segundo a voz infalível do Divino Mestre.
Antagonismo entre Jesus e os fariseus
Os Evangelhos se encontram embebidos de ponta a ponta de uma radical oposição entre Jesus e os fariseus. Esse antagonismo tem seu início já com o Precursor, tão procurado pelos judeus por sua fama de santidade e de profetismo. Assim tratou João Batista os fariseus (como também os saduceus), antes mesmo do aparecimento do Messias: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir à ira que vos ameaça? Não vos justifiqueis interiormente, dizendo: Temos Abraão por pai!” (Mt 3, 7.9).
De sua parte, o próprio Jesus — ao declarar os parâmetros, doutrinas e metas apostólicas da ação a ser por Ele desenvolvida — tornou patente a impossibilidade de uma aproximação ou harmonia com os fariseus. O sermão das bem-aventuranças coloca em equilíbrio claro e definido os princípios ético-morais adotados por Jesus, em sua maioria em contraposição aos dos fariseus. Seria ingenuidade imaginarmos ter sido a inveja a causa do ódio deicida dos fariseus contra nosso Redentor. Bem poderá ter concorrido, como um dos componentes da sanha demolidora, esse vício capital, mas a dissensão teve como base duas concepções diferentes, e até excludentes, de caráter religioso-político.
Ególatras e aproveitadores, os fariseus rejeitam a Deus
Os fariseus haviam reduzido a religião a uma escrupulosa observância de micro-preceitos, em detrimento da prática da verdadeira Lei: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e desprezais os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade! (...) Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo!” (Mt 23, 23-24). E isso se dava, entre outras razões, devido à grande presunção na qual estavam submersos, como é fácil de notar na parábola do fariseu e do publicano, elaborada pelo Divino Mestre a respeito de “uns que confiavam em si mesmos por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (cf. Lc 18, 9-14). A eles não era alheia tampouco a avareza. Para fazermos uma ideia aproximada desse fundo de maldade, basta relembrarmos a parábola do administrador infiel, ao fim da qual relata-nos o Evangelista: “Ora, os fariseus, que eram amigos do dinheiro, ouviam todas estas coisas e troçavam d’Ele. Jesus disse-lhes: ‘Vós sois aqueles que pretendeis passar por justos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; o que é excelente segundo os homens é abominação diante de Deus’” (Lc 16, 14-15). Por terem se constituído como centro de suas próprias preocupações, por serem ególatras e, portanto, por terem dado as costas a Deus, abusavam dos poderes espirituais, deles se aproveitando para entesourar bens materiais.
Essa rejeição a Deus, que é tão recriminada por Jesus, constitui um dos grandes pecados dos fariseus: “Sei que não tendes em vós o amor de Deus. Vim em nome de meu Pai, e vós não Me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis” (Jo 5, 42-43). E por não praticarem o amor a Deus, também não o praticam em relação ao próximo: “Se vós soubésseis o que quer dizer: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’, jamais condenaríeis inocentes” (Mt 12, 7). Mais ainda transparece essa carência de bondade dos fariseus na parábola do bom samaritano, na qual o levita e o sacerdote são condenados pela falta de misericórdia com seu irmão, enquanto o samaritano foi apontado como modelo a seguir: “Vai e faze o mesmo” (Lc 10, 30-37).
Invectivas de Jesus
As discussões de Jesus com os fariseus foram se tornando cada vez mais tensas e increpantes. Ao longo delas, Ele os desqualificava de forma violenta, chamando-os de filhos do diabo e imitadores de seu pai, homicidas e ladrões, víboras, e várias vezes de hipócritas. Sobre este último qualificativo, e mais especificamente a respeito das recriminações transcritas no capítulo 23 de Mateus, alguns exegetas chegam a classificá-lo como o sermão das oito maldições, em contraposição ao das oito bem-aventuranças. Segundo esses exegetas, com um sermão Mateus abre, no seu Evangelho, a narração da vida pública de Jesus, e com o outro o encerra.
A cada passo, Jesus os vai colocando em contradição com eles mesmos a propósito de suas atitudes e doutrinas. Aliás, sempre que Deus deixa de constituir o centro das preocupações, pensamentos e ações de alguém, ou de um grupo social, pouco tardará para surgirem as contradições, pois quando falha a premissa maior, comprometida está a substância do silogismo. Seria por demais extenso recordar os triunfos de Jesus sobre os fariseus, um a um. É suficiente trazer à tona o caso da cura de um hidrópico em dia de sábado, na residência de um fariseu. Nosso Senhor os invectiva: “Qual de vós, se o seu filho ou seu boi cair num poço, não o tirará imediatamente ainda que seja em dia de sábado?” (Lc 14, 5).
Essas atitudes tão categóricas e peremptórias de Jesus contra os fariseus têm inteiro fundamento, pois eram eles verdadeiros lobos revestidos de pastores. Não se cansavam de caluniar o Divino Mestre, devotando-Lhe uma forte antipatia. Acusavam-nO de estar possuído pelo demônio, de se deixar envolver por pessoas de má vida, de quebrar a lei do sábado, etc. Ademais, não poupavam esforços para deturpar os fatos e as palavras proferidas pelo Divino Mestre, como, por exemplo, no caso da expulsão do demónio que tornava surdo e mudo um pobre homem. Caluniavam-nO, afirmando que o exorcizara e o curara em virtude do poder de Belzebu.
Fúria dos fariseus
Essa oposição, sorrateira a princípio, foi paulatinamente se tornando cada vez mais patente, categórica e pública, a ponto de produzir uma cisão na opinião geral do povo judeu. Por um lado, a maioria se perguntava se de fato não era Jesus o Messias, julgando impossível alguém ser capaz de realizar mais milagres do que Ele. Por outra parte, esse crescente murmúrio levou os fariseus a apoiarem os príncipes dos sacerdotes quando estes decretaram a prisão do Salvador. Entretanto, os próprios guardas afirmavam: “Nunca homem algum falou como este homem “, e não quiseram prendê-lO (Jo 7,46).
Se o ódio dos fariseus contra Jesus se manifesta tão radical no fim do capítulo sétimo do Evangelho de São João, o término do oitavo é ainda mais carregado: “Então pegaram em pedras para Lhe atirarem; mas Jesus ocultou-Se e saiu do templo” (Jo 8, 59). No capítulo seguinte, depois da cura de um cego, os fariseus enfurecidos lançam este último fora da sinagoga, aos insultos, acusando-o de ser discípulo de Jesus. O capítulo 10 nos relata uma nova tentativa frustrada de prender o Divino Mestre. O auge dessa cólera se verifica após a ressurreição de Lázaro: “Desde aquele dia tomaram a resolução de O matar” (Jo 11, 53)
Dir-se-ia que, ao crucificarem Jesus, estariam satisfeitos. Esse não foi o resultado. Príncipes dos sacerdotes e fariseus exigiram de Pilatos uma vigilância cerrada junto ao túmulo, a fim de que fosse evitado o roubo do corpo de Jesus, e em seguida selaram a pedra do sepulcro, deixando ali dois guardas.
Em seus traços gerais, esta é a realidade do ódio dos fariseus contra o Divino Mestre.

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