1 Alguns dias depois, Jesus entrou novamente em Cafarnaum, e souberam que Ele estava em casa. 2 Reuniu-se tanta gente que não cabia mais ninguém, nem mesmo junto à porta. E Ele pregava-lhes a Palavra. 3 Nisto chegaram alguns conduzindo um paralítico que era transportado por quatro homens. 4 Como não pudessem levá-lo junto d’Ele por causa da multidão, descobriram o teto na parte debaixo da qual estava Jesus e, tendo feito uma abertura, desceram o leito em que jazia o paralítico. 5 Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: “Filho, são-te perdoados os pecados”. 6 Estavam ali sentados alguns escribas que diziam nos seus corações: 7 “Como é que Ele fala assim? Ele blasfema. Quem pode perdoar senão Deus?” 8 Jesus, conhecendo logo no seu espírito que eles pensavam desta maneira dentro de si, disse-lhes: “Por que pensais isto nos vossos corações? 9 O que é mais fácil dizer ao paralítico: ‘São-te perdoados os pecados’, ou dizer: ‘Levanta-te, toma o teu leito e anda’? 10 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder de perdoar os pecados, (disse ao paralítico) 11 Eu te ordeno: Levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa”. 12Imediatamente ele se levantou e, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, de maneira que se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: “Nunca vimos coisa semelhante” (Mc 2, 1-12).
“Assueta vilescunt”, diz-se em latim, ou seja, o uso frequente de algo quase sempre acaba em desgaste. E não importa qual seja a magnitude do objeto usado e nem mesmo sua substância. Por exemplo, nada há de mais banal para nós do que o dia-a-dia do curso solar, entretanto, Santo Agostinho o considera como um dos milagres naturais de Deus.
Mesmo os milagres sobrenaturais não escapam a essa regra. Há cerca de dois mil anos, o Sacramento da Confissão está à disposição de qualquer penitente; contudo, perdemos com facilidade a noção da misteriosa grandeza do perdão que através dele recebemos. A própria noção da gravidade do pecado facilmente se evanesce em nós, quando são insuficientes nossa vigilância e nossa vida de piedade. E pode acontecer de sermos chamados a aderir com fé íntegra a panoramas sobrenaturais inéditos, logo depois de termos elaborado sofismas para justificar nossa fixação no vício. Nesse caso, é de fato difícil reagirmos com toda a retidão.
Estes pressupostos explicam de certa maneira o comportamento dos escribas.
Formados em escolas sérias, conheciam os sinais precedentes e indicativos do surgimento do Messias, e até de seu próprio nascimento. Mas não só estava enfraquecida a fé dos doutores da Lei, como — pior ainda — eles haviam amoldado às suas conveniências egoístas todos os conceitos aprendidos. Elaboraram um sistema doutrinário e ético à margem da verdadeira ortodoxia.
Ora, como desejava a salvação de todos, inclusive dos escribas, Jesus vai lhes demonstrar ser Ele o Cristo, penetrando-lhes divinamente o pensamento, perdoando pecados enquanto Deus e enquanto homem, além de comprovar seu poder com um impressionante milagre.
Qual a reação da multidão ali presente, assim como a dos próprios escribas?
A Liturgia de hoje nos responderá. São Mateus (9, 2-8) e São Lucas (5, 18-26) também relatam o episódio em questão. Apesar de diferenças cronológicas — Lucas e Marcos situam a ocorrência na época em que as autoridades judaicas começam a invectivar Jesus —, os três mostram-se empenhados em transmitir o grande objetivo do Senhor, ou seja, a prova de seu poder de perdoar os pecados.
Dos três narradores do fato, São Marcos, como sói acontecer, tornará mais vivas as cores de sua apresentação.
Continua...
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