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domingo, 4 de dezembro de 2011

O apostolado de São João Batista

35 No dia seguinte, João lá estava novamente com dois dos seus discípulos. 36 Vendo Jesus que passava, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”.
São João Batista — valoroso exemplo de apóstolo desapegado — jamais permitiu a entrada, em sua grande alma, do menor resquício de ciúmes de seus seguidores, sobretudo em relação a Jesus. E embora fosse parente próximo do Salvador, afirmava: “Eu não sou digno de desatar-Lhe as correias das sandálias” (Jo 1, 27). Expressão forte para aqueles tempos, pois competia aos servos lavar os pés dos visitantes de grande categoria, tirando-lhes antes o calçado. Abraçava, dessa forma, a condição de escravo em face d’Aquele seu sucessor. Essa era uma das razões de sua capacidade de comover as almas e de incentivá-las à penitência rumo à “metanóia”(mudança de mentalidade). Sua humildade arquetípica, e tão transparente na autenticidade de sua pregação, conferia um caráter de confiabilidade insuperável à pessoa do Precursor. Aqui se encontra outra qualidade essencial do verdadeiro apóstolo: a despretensão.
Pouco adiante, afirmou ele: “Este é Aquele de Quem eu disse...” (Jo 1, 30). Esta afirmação é claramente indicativa do quanto Jesus deveria ser a substância de sua pregação. Talvez fosse essa uma das principais razões para ter escolhido um terreno menos arriscado para desenvolver seu apostolado. Estando longe de Jerusalém e, portanto, do raio de ação dos escribas e fariseus, podia livremente referir-se Àquele que se constituiria como verdadeira “pedra de escândalo”. O cerne de sua fala era “o Cordeiro de Deus” em Quem depositava a plenitude de sua fé.
Evangelizador desapegado e atraente
O Evangelista descreve o Batista com ricas e belas cores, atestando quanto seu primeiro mestre lhe marcara a alma agradável e indelevelmente. Ademais, com arte e poucas palavras, retrata a enorme perplexidade levantada por seus discursos. Que escola ou quais mestres o haviam formado para ensinar com tanta segurança? Sacerdotes e levitas de Jerusalém, enviados pelos judeus curiosos, indagavam: quem é esse que batiza dizendo não ser o Cristo, nem Elias e nem sequer o profeta? Todos — quer os instruídos e formados, quer as simples pessoas do povo — percebiam em João um homem inspirado por Deus. Sua aura de profecia, mistério e santidade crescia a cada dia, encantando as multidões e incutindo temor e inveja nos grandes.
De dentro de seu total desprendimento, sua única preocupação era a de preparar os caminhos do Senhor, arrebanhando em torno de si alguns discípulos, com vistas a entregá-los ao Cordeiro de Deus. Exemplo para nós também, especialmente debaixo desse prisma, pois assim devemos proceder em nosso apostolado, conduzindo as vocações para o seio da Igreja, para a vida eclesial.
Emerge desses episódios mais uma das qualidades do Batista, e esta pouco ressaltada: a de um apóstolo arquetípico. Sua atratividade era irresistível, tornando difícil a despedida. Daí se entende por que os dois discípulos permaneciam enlevados pelo fervor das palavras e pela figura do mestre, apesar de já declinar o dia! Por outro lado, eles não faziam ideia da extraordinária graça que os aguardava. A Providência Divina jamais deixa sem prêmio os verdadeiros devotos. Mais dia, ou menos dia, Ela lhes paga em superabundância. A constância, amor e entusiasmo desses dois discípulos lhes fariam merecer a graça de serem os primeiros a serem chamados para o discipulado de Jesus Cristo.

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