-->

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Evangelho 2º Domingo de Páscoa ano B - Continuação

20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram- se muito ao ver o Senhor.
Tudo leva a crer que estavam dez Apóstolos no Cenáculo, e, como anteriormente comentávamos, um forte medo dominava a todos. Embora João omita a afirmação de Lucas: “Acreditavam estar vendo um espírito”, a pergunta que Jesus lhes faz mostra o estado de espírito em que se encontravam: “Por que vos perturbais? (24, 37-38). Compreende-se o temor de todos, vendo o Senhor entrar quando estavam bem fechadas as portas e janelas, pois não conheciam ainda o ensino teológico a respeito das características dos corpos gloriosos, e nem sequer lhes cruzava a mente uma consideração que seria formulada por Santo Agostinho nos seguintes termos: “As portas fechadas não podiam impedir a passagem a um corpo no qual habitava a Divindade; assim pôde penetrar as portas Aquele que, ao nascer, deixou imaculada sua Mãe” (4).
“Mostrou-lhes as mãos e o lado”
Essa é a razão pela qual Ele chama a atenção dos Apóstolos para suas chagas, ou seja, para tornar patente tratar-se de Quem foi crucificado, morreu e ressuscitou. Os autores são unânimes a propósito dessa observação, como, por exemplo, Santo Agostinho: “Os cravos haviam transpassado as mãos, a lança havia aberto o costado, e as feridas foram conservadas para curar o coração dos que duvidavam” (5).
Três questões emergem deste versículo:
1) Como foi possível aos Apóstolos contemplar a glória de Jesus ressurrecto, sendo que, no Tabor, três deles não haviam suportado vê-Lo em sua transfiguração?
A isso responde Santo Agostinho: “É de crer-se que a claridade com a qual, como o sol, resplandecerão os justos em sua ressurreição, foi velada no corpo de Cristo ressurrecto aos olhos dos discípulos, porque a debilidade do olhar humano não a teria podido suportar, e era necessário que eles O reconhecessem e ouvissem” (6).
2) Sendo as cicatrizes um defeito produzido por ferimentos, como puderam se conservar no Sagrado Corpo do Senhor?
Das mais variadas formas se expressam os autores a esse respeito, mas são concordes em observar que se trata de cicatrizes de triunfo e, portanto, gloriosas e não defectivas. No Céu, todos os mártires trarão à mostra suas cicatrizes como símbolo triunfante de seu testemunho, tal qual na terra o fazem os militares vencedores em suas batalhas.
3) Os Apóstolos apenas viram as chagas, ou também as tocaram? Tomé terá sido o único a apalpar as cicatrizes do Senhor?
O Evangelista João afirma apenas que Jesus mostrou suas chagas. Lucas vai mais longe: “Apalpai e vede, porque um espírito não tem carne nem osso” (24, 39).
Entretanto, o dito de São João em sua primeira Epístola: “O que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos, o que tocamos com as nossas mãos relativamente ao Verbo da Vida” (1, 1), e a condição posta por São Tomé para dar sua adesão de fé: “Se não vir nas suas mãos ... se não meter a minha mão” (v. 25), levam os autores à conclusão de que, de fato, não só Tomé, mas também os outros tocaram nas Santas Chagas de Jesus.
Qual não deve ter sido a consolação dos Apóstolos ao tocarem no Sagrado Corpo do Salvador? Nós hoje temos a graça, não de tocá-Lo, mas, muito mais, de recebê-Lo em comunhão.
Oh! sacrossantas chagas, manancial de toda santidade, quantos dons receberam os Apóstolos ao tocá-las!
Sem embargo, o fato de Jesus as haver mostrado nessa ocasião não significa que Ele deva sempre ostentar os sinais de sua Paixão. Apareceu como um peregrino aos discípulos de Emaús, e, para a fé robusta de Madalena, não só Se apresentou sem as chagas, como não lhe permitiu que O tocasse, para não diminuir os seus méritos. Aos Apóstolos, convida-os a apalparem-nas por razões didáticas. A forma de apresentar-Se depende de sua vontade e conveniência. A alegria que sentiram eles, nessa ocasião, era o cumprimento da promessa do próprio Salvador: “Outra vez vos verei e alegrar-se-á vosso coração” (Jo 16, 22).

Continua...

Nenhum comentário: