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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Evangelho 20º Domingo do tempo Comum

51Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que Eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.
Até o presente versículo, Jesus, em seus sermões e revelações, apresentava os efeitos produzidos por esse “pão” em todos os que dignamente d’Ele viessem a se alimentar. Aqui, entretanto, define a sua substância: não é só o “Pão da Vida” (4), mas o “Pão Vivo” (5), ou seja, contém a vida em si próprio. E realmente trata-se do “Pão” que “desceu do céu”, é o Verbo de Deus que “se fez carne e habitou entre nós” (6) para comunicar-nos “a vida que estava n’Ele” (7) “desde o principio” (8), ou seja, desde toda a eternidade. Há, portanto, uma vida eterna nesse “Pão Vivo”, conferindo, àquele que dele se alimenta, o dom de viver para sempre.
Mas, como ter parte nessa tão preciosa vida?
Nos tempos do Antigo Testamento, o modo de participar de um sacrifício consistia em comer da vítima oferecida (9). Esta realidade transparece claramente na primeira epístola de São Paulo aos coríntios, na qual, com seu incansável zelo apostólico, não só os adverte a fugirem da idolatria, mas procura incentivá-los a dela se afastarem: “Considerai Israel segundo a carne: os que comem das vítimas, porventura não têm parte no altar? Mas que digo? Digo que o que foi sacrificado aos ídolos é alguma coisa? Ou que o ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios e não a Deus. Ora, não quero que tenhais parte com os demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios” (10).
Em sua infinita sabedoria, aceitou Deus, desde os primórdios da antiguidade, o cerimonial do oferecimento de vítimas e o modo de participar do sacrifício, com o intuito de preparar os homens para receber os benefícios da imolação do Cordeiro de Deus, d’Aquele que tira os pecados do mundo.
E Jesus, com um ano de antecedência, anuncia que dará a Santa Eucaristia, sob as espécies de pão e de vinho, e afirma ser esse pão sua “carne para salvação do mundo”.
Para entender bem o conteúdo deste versículo, devemos nos lembrar que, segundo o conceito judaico daqueles tempos, carne e sangue designavam o homem completo; ora, de qual carne se trata aqui? Da carne de Cristo, carne crucificada e imolada para “salvação do mundo”. Eis o caráter sacrifical da Eucaristia subentendido nessa afirmação de Jesus.
Vimos pouco acima como naquela atmosfera semítica — e até mesmo greco-romana — comia-se a vítima oferecida em sacrifício e dessa forma se participava do mesmo. Pois este é o objetivo essencial de São João no presente versículo, ou seja, o de acentuar o efeito redentor e universal da morte de Jesus, em benefício do mundo.
52A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?
Este anúncio de Jesus é de um radicalismo mais categórico do que as revelações feitas por Ele anteriormente, pois podia ser interpretado como possuindo um certo caráter de antropofagia, daí o ter produzido não mais mera murmuração (11), mas verdadeira celeuma. A reação dos escribas e fariseus continha uma enérgica censura à promessa de Jesus, recusando-se a comer a carne d’Ele, por considerá-la uma proposta descabida e atentatória à lei e aos costumes.
Não deixa de ser curioso notar o quanto a atitude daqueles incrédulos prenunciava o racionalismo de nossa era!
Continua no próximo post

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