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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

Continuação

O surdo de Deus
Ouvir a voz de Deus é tomar a atitude de Samuel: “Falai, Senhor; vosso servo escuta!” (11), ou a de São Paulo no caminho de Damasco (12), ou a de tantos outros. Em sentido oposto, o pecador, devido à zoeira de suas paixões, acaba por tornar-se surdo aos apelos de Deus, chegando até mesmo a esquecer-se das mensagens sobrenaturais recebidas no passado. A surdez simboliza toda a insensibilidade da alma no seu relacionamento com o Criador.
Inúmeros são os meios pelos quais Deus procura entrar em contato conosco. Antes de tudo pela própria ordem da criação visível (13); em seguida, através dos fatos palpáveis e tangíveis produzidos pela providência natural e sobrenatural, sobre os quais o Livro da Sabedoria nos ensina maravilhosamente (14). Deus fala aos homens através do Magistério infalível da Santa Igreja, como também por toques sensíveis da graça, e até mesmo pela voz da consciência. A Sabedoria, segundo declara a Escritura, “antecipa-se aos que a desejam. Quem, para possuí-la, levanta-se de madrugada, não terá trabalho, porque a encontrará sentada à sua porta.” (15) Ou seja, Deus está continuamente nos chamando para participarmos de sua glória e felicidade eternas.
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, — disse Jesus —e Eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (16). Eis o sinal inconfundível para se saber quem é de Deus e quem não o é: “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus” (17), disse Nosso Senhor, depois de ter afirmado serem os fariseus, filhos do demônio (18). É mais sensível a Deus quem O ama intensamente, tal como encontramos em São João: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (19).
Infelizmente, a surdez espiritual é muito mais generalizada hoje em dia do que em outras épocas históricas. Inclusive entre os próprios batizados. Um incontável número de almas tem os ouvidos endurecidos à palavra de Deus, quer seja por falta de formação, quer pela pobreza da oração. Quantos são os ateus práticos que nunca rezam! Entretanto, para receber alguma comunicação oriunda da eternidade, basta colocar-se em estado de contemplação. Quem assim não procede, dificilmente discernirá, em meio à zoeira e às aflições do mundo moderno, a voz da graça. E é preciso não esquecermos o conselho da Escritura: “Se hoje ouvirdes a sua voz, não endureçais vossos corações” (20)
O mutismo espiritual
Ser mudo na ordem do espírito, segundo a Patrologia, consiste no silêncio de quem teria obrigação de glorificar a Deus. Terrível é este mal — e quase sempre consequência do anterior — pois, ainda que não tivéssemos sido elevados à ordem sobrenatural, pelo simples fato de sermos criaturas de Deus, teríamos o dever de reportar a Ele toda honra e glória, tal qual nos diz Davi: “Os céus publicam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (21).
Porém nós, enquanto batizados, somos filhos de Deus, e não meras criaturas, e por isso compete-nos o encargo de dar público testemunho da grandeza de nossa religião e de Cristo Jesus em especial, pois tem Ele o direito de ver seu esplendor manifestado diariamente. É este um dos meios fundamentais para atrair aqueles que ainda não O conhecem e afervorar os que já abraçaram suas vias.
Esta obrigação é tão grave que se tivéssemos de escolher entre morrer ou renegar a Cristo, seria indispensável optar pelo martírio. Por que somos nós tão valentes em defender nossos interesses pessoais e tão covardes em relação aos de Deus? “Onde está teu tesouro, aí está teu coração” (22), esta é a principal razão do mutismo de espírito, ou seja, a falta do amor a Deus. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou há de afeiçoar-se a um e desprezar o outro” (23). Se nosso amor a Jesus por meio de Maria for pleníssimo a ponto de substituir nosso egoísmo, jamais seremos mudos para glorificá-Lo.

Os comentários ao evangelho Mc 7, 31-37 continuam no próximo post.

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