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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Evangelho Solenidade de Todos os Santos Mt 5, 1-12a

Continuação dos comentários ao Evangelho Mt 5, 1-12a  Bem aventuranças

O valor do sofrimento diante de Deus
4 “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”.
À natureza humana decaída repugnam a dor, o sacrifício e mesmo qualquer esforço. Entretanto, na segunda das bem-aventuranças enaltece Nosso Senhor o pranto daqueles que suportam o sofrimento físico e a dor moral por razões sobrenaturais, como em expiação pelos próprios pecados, ou — o que é mais nobre — em reparação pelas culpas alheias. Bem-aventuradas são as santas lágrimas desses aflitos, que tanta consolação lhes podem trazer ao ajudá-los a ver o vazio dos bens passageiros e a merecer os eternos.
Bem-aventurados serão eles também porque Deus nunca deixa de confortar, já nesta Terra, quem aceita a dor e, à imitação de Jesus Cristo, se ajoelha diante da cruz e a oscula antes de tomá-la aos ombros. Seu gozo não será pequeno, pois, como afirma São João Crisóstomo, “quando é Deus quem nos consola, embora caiam sobre nós as dores como os flocos de neve, superamos todas. Ele sempre nos dá uma recompensa superior aos nossos trabalhos”.9
A verdadeira mansidão
5 “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra”.
A mansidão elogiada por Cristo neste versículo consiste, sobretudo, em ser o homem constantemente senhor de si mesmo, controlando as próprias emoções e impulsos. Ela lhe impede de murmurar contra as adversidades permitidas por Deus, e o leva a não se irritar com os defeitos dos irmãos, procurando, pelo contrário, desfazer os desentendimentos e desculpar com generosidade as ofensas recebidas.
Os mansos de coração não só evitam a discórdia com o próximo, mas empregam todos os meios para que ela não se estabeleça entre os irmãos. Suportam o peso da vida, conformando-se sempre com a vontade de Deus. Santo Agostinho faz-lhes este elogio: “Quando estão bem, louvam a Deus; quando mal, não blasfemam; nas boas obras que fazem, glorificam a Deus, e nos pecados, acusam-se a si mesmos”.10 E mais uma vez o santo Jó, com sua admirável fidelidade durante a terrível provação, ser-nos-á exemplo dessa virtude.
E qual é a terra que os mansos possuirão? A terra dos vivos: o Céu. Porém, já neste mundo, mesmo em meio a dores e tristezas, desfrutam de uma constante alegria no fundo da alma, antegozo do Reino Eterno.
As leis do espírito diferem das do corpo
6 “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.
Ter fome e sede de justiça equivale a desejar a santidade. Jesus louva aqui a árdua batalha daqueles que, visando atingir a perfeição moral, lutam para progredir na vida espiritual, examinam com rigor sua consciência e combatem com energia os próprios defeitos.
Ora, as leis do espírito são distintas das do corpo. Quanto mais alimento espiritual recebe a alma, mais aumenta nela a apetência pelos bens eternos, porque Deus infundiu na natureza humana uma aspiração por uma felicidade sem limites. Como, então, poderão ser saciados os que “têm fome e sede de justiça”?
Nosso apetite pelos bens eternos só será perfeitamente satisfeito no Céu, onde o próprio Deus será nossa recompensa. Mas, já nesta terra, bem-aventurados são aqueles que se alimentam com fervor do Pão dos Anjos e bebem com delícias a água do Espírito oferecida por Jesus à samaritana (cf. Jo 4, 14).
Com a medida com que medirdes...
7 “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.
Por vezes, sentimos verdadeiro horror em perdoar, pois consideramos ser conforme à justiça tratar cada um estritamente segundo os seus atos e méritos.
Entretanto, o Bom Pastor nos convida aqui a desculpar as fraquezas de nossos irmãos e nos compadecer de suas misérias. Mais adiante, no próprio Sermão da Montanha, levará Ele essa doutrina até um extremo inimaginável: “Amai os vossos inimigos, e fazei o bem aos que vos odeiam. Falai bem dos que falam mal de vós e orai por aqueles que vos caluniam. [...] Fazei o bem e prestai ajuda sem esperar coisa alguma em troca. Então a vossa recompensa será grande. Sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bondoso também para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 27-28.35-36).
No dia do Juízo, o Redentor nos tratará da mesma forma como tivermos tratado o nosso próximo: “Com a medida com que medirdes sereis medidos” (Lc 6, 38). Quem tem misericórdia, perdoa as debilidades dos outros com facilidade, e é por sua vez perdoado, segundo o pedido feito no Pai-Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6, 12). Porque, acrescenta Jesus, “se vós perdoardes aos outros as suas faltas, vosso Pai que está nos Céus também vos perdoará. Mas, se vós não perdoardes aos outros, vosso pai também não perdoará as vossas faltas” (Mt 6, 14-15).

Final dos comentários no próximo post

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