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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Comentários ao Evangelho XXXII Domingo do Tempo Comum Mc 12, 38-44

38 Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: ‘Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; 39 gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. 40 Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas oraçðes. Por isso eles receberão a pior condenação’.
41Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias.
42Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada.
43Jesus chamou os discípulos e disse: ‘Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. 44Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver’.

A ALEGRIA DE DAR
Ao analisarmos a natureza, encontramos um fenômeno difundido por toda a criação, desde o reino mineral até o mundo dos seres angélicos.
O Sol está sempre espalhando sua luz e seu calor sobre a Terra, beneficiando todos os seres que precisam dessa irradiação. As águas, no seu constante movimento, se evaporam e constituem nuvens que, depois de carregadas, despejam sobre o solo elementos indispensáveis para a vida. Constatamos a extraordinária variedade e a superabundância de peixes que povoam os mares e os rios para alimentar o homem, ou a riqueza de frutos que a terra lhe oferece ao longo de todo o ano.
Vemos por aí como a natureza, por assim dizer, procura dar de si. Se seus elementos fossem passíveis de felicidade, a árvore frutífera, por exemplo, teria um júbilo enorme pelo fato de produzir frutas e ofertá-las ao homem; o mar se sentiria feliz em entregar-lhe os peixes; e a alegria do Sol consistiria em estar constantemente iluminando e aquecendo a Terra e os que nela habitam. Pois bem, essa generosidade que se verifica no universo inteiro é o princípio sobre o qual se funda a Liturgia de hoje: dar, dar de si, dar-se por inteiro!
CONTRASTE ENTRE EGOÍSMO E GENEROSIDADE
Para entendermos bem o trecho evangélico recolhido pela Igreja para este domingo, de vemos levar em consideração que os Sagrados Evangelhos não foram escritos apenas como um livro comum, uma história para fazer bem às almas piedosas dos primeiros tempos do Cristianismo. Antes de tudo, eram eles uma convocação à culminância espiritual, a uma perfeição como a do Pai do Céu. Mas não só isso: eram também elemento de polêmica, uma vez que os primeiros divulgadores da Boa-nova, na sua ação apostólica, encontravam diante de si obstáculos a vencer. Quando São Marcos elaborou seu Evangelho, um desses entraves provinha de homens versados na Lei de Moisés e nas Escrituras do Antigo Testamento.
Tenhamos em vista também o seguinte: o Evangelista viveu em Roma durante muito tempo, como auxiliar de São Paulo e de São Pedro, e escrevia visando alcançar o público romano, como é opinião comum dos exegetas. Ora, nesse tempo muitos judeus residiam na capital do Império, e bom número deles estava ingressando nas fileiras cristãs. Ora, tanto os que permaneciam na sinagoga quanto os neoconvertidos (antes de terem uma conversão plena, o que não era fácil) queriam a todo o custo fazer prevalecer seus costumes e a Lei de Moisés entre os cristãos, inclusive no meio daqueles provenientes da gentiidade. Podemos comprová-lo pela leitura da Epístola de São Paulo aos Romanos, na qual ele exproba longamente os judeus da Cidade Eterna por tal postura.
Enquanto São Lucas e São Mateus não se mostram tão contundentes perante essa situação, São Marcos polemiza incansavelmente, de modo particular contra os doutores da Lei, pois estes atrapalhavam sua ação apostólica, como fica patente pelas frequentes menções feitas a eles no seu Evangelho.1
Não lhes poupando merecidas críticas, São Marcos dá destaque às discussões que tiveram com Nosso Senhor, e delas tira riquíssimas lições morais para os cristãos de todos os tempos. É o que contemplaremos no primeiro versículo deste Evangelho no próximo post.

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