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domingo, 27 de janeiro de 2013

Evangelho 4º Domingo do Tempo Comum - Ano C 2013 (Lc 4, 21-30)


Continuação dos comentários ao Evangelho 4º Domingo do Tempo Comum - Ano C  2013  (Lc 4, 21-30) 

Visita de Jesus à sua cidade

Essa visita, por assim dizer, oficial e mais ou menos demorada de Jesus a Nazaré é narrada por Mateus (13, 54-58) e Marcos (6, 1-6) quase ao término do segundo ano da vida pública do Salvador, ao contrário de Lucas, que a antecipa. De acordo com bons comentaristas, Lucas preferiu proceder desse modo por razões literárias.
Entretanto, reconhece que a fama de Jesus havia se difundido por toda a Galiléia e Ele ensinava nas sinagogas (Lc 4, 14-15). É digna de nota a hipótese levantada por alguns autores de peso sobre viagens anteriores realizadas por Jesus a essa localidade. Esta à qual nos referimos, porém, além de sua oficialidade, estava sendo feita em circunstâncias especiais. Quanto menor o lugarejo, mais forte o regionalismo.
As notícias sobre o grande sucesso das pregações e milagres operados pelo novo profeta, surgido da pequena Nazaré, conduziam o povinho à euforia de ver um dos seus conterrâneos como figura de destaque em Israel. Afinal, um nazareno demonstrava o grande valor da cidadezinha, não só na Galiléia, mas em toda a nação.
Atitude contraditória dos concidadãos
Por outro lado, esses sentimentos de ufania vinham pervadidos de ressentimentos (assim são as contradições produzidas pelo amor-próprio): por que tantos prodígios manifestados em Cafarnaum, e não em Nazaré? A impressão de discriminação lhes brotava de uma auto-estima desequilibrada. Não conseguiam entender as razões pelas quais Jesus, tendo Se beneficiado da localidade para formar-Se, crescer e viver, a abandonasse para lançar a outras o melhor de seus frutos.
Quando o amor não é puro, paciente, prestativo, mas busca apenas seus interesses pessoais, guarda rancor e se irrita (ver a segunda leitura de hoje: 1 Cor 13, 1-13). Ademais, produz um tipo de cegueira incurável, enquanto o egoísmo não for extirpado. “Não havia lugar onde Jesus mais quisesse derramar seus divinos favores do que ali” (1), mas era indispensável a fundamental virtude da humildade para serem os habitantes de Nazaré objeto dos múltiplos dons do profeta taumaturgo.


O "batismo" da rejeição

Se, porém, Jesus sabia desde toda a eternidade que “nenhum profeta é bem recebido na sua terra” (v. 24), por que desejou então retornar à aldeia de sua juventude? É que, além do batismo penitencial de João, buscava outro, o da rejeição... Esse é o terrível drama do verdadeiro apóstolo: ir aos seus, e os seus não o receberem (cf. Jo 1, 11).
Trata-se de um dos mais dolorosos estigmas, companheiro inseparável de tantos santos ao longo dos séculos, quer os do passado, quer também os do futuro até a vinda de Enoc e Elias, no fim dos tempos. A Santa Igreja, fundada por Cristo, se enriquece com os méritos daqueles que são desprezados por amor à justiça: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!” (Mt 5, 10). Em Nazaré, com Jesus, encontram eles o consolo e a sustentação no exemplo divino.
Devemos ter bem presentes essas considerações, antes de acompanharmos o Salvador em seus passos pela aldeia de Nazaré, sobretudo naquele sábado em que Ele se encontrava na sinagoga. Ser-nos-á fácil compreender como não deve ter sido apoteótico esse seu retorno, apesar de haver certa expectativa entre o povo.
Continua no próximo post.

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