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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Evangelho 2º Domingo da Quaresma Lc 9, 28b-36 - Ano C - 2013


Continuação dos comentários ao Evangelho 2º Domingo da Quaresma Lc 9, 28b-36 - Ano C - 2013


Jesus revela no Corpo a glória de sua alma

Naquele tempo, 28b Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. 29 Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante.

Tendo em vista prepará-los para os acontecimentos que viriam, Nosso Senhor chamou os três  Apóstolos com quem tinha maior familiaridade e os levou ao Monte Tabor. Eles, depois, deveriam fortalecer os outros, narrando-lhes o que testemunhariam.

Embora a oração ocupe um lugar primordial na vida do Mestre, esta não foi seu único objetivo com a subida à montanha. Mais do que isso, pretendia mostrar quem realmente era, conforme ressalta Maldonado: “Cristo costumava subir aos montes para orar, onde a solidão é maior e mais livre é a contemplação do Céu. Não se deve concluir das palavras de Lucas, entretanto, que Cristo subiu só com o propósito de orar, mas que, conforme seu costume de rezar nos assuntos árduos, quis fazê-lo desta vez antes de manifestar a sua glória. [...] Não nos esqueçamos, também, que na maior parte das vezes a glória de Deus se manifesta nos montes, que estão mais próximos do Céu e mais afastados da Terra, e não nos vales”.’2

Esta exteriorização da glória divina é um fenômeno que revela o verdadeiro estado da Alma de Jesus, a qual, criada na visão beatífica, possuía desde o primeiro momento da Encarnação o grau supremo da graça capital. Esta é assim denominada por ser Ele a cabeça do Corpo Místico e a origem da graça da qual vive a Igreja.” Sua Alma sempre esteve na contemplação de Deus face a face’4 e, por isso, o normal seria que seu Corpo fosse visto habitualmente em estado glorioso, como um espelho da beatitude de seu espírito, tal como se manifestou no Tabor, à vista de São Pedro e dos filhos de Zebedeu.’5 Foi só por amor a nós que Nosso Senhor quis revestir-Se das características do corpo padecente para operar a Redenção.’6 Então, por certo prisma, o verbo transfigurar não define com exatidão o que se passou, pois, na verdade, Cristo fez cessar a subfigura em que vivia.

No que se refere a alguns outros momentos de sua vida pública, podemos supor que Ele assumiu apenas alguns dos atributos do corpo glorioso, como, por exemplo, quando saiu livremente entre aqueles que o queriam jogar precipício abaixo em Nazaré ou quando andou sobre as águas do Mar de Tiberíades.’7

Moisés e Elias ratificam a Paixão

30 Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. ‘ Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte que Jesus iria sofrer em Jerusalém.

Participando da glória de Cristo estavam dois expoentes do povo eleito: Moisés e Elias, os máximos representantes da Lei e dos profetas. Eles foram os escolhidos porque “nem a Lei pode existir sem o Verbo, nem profeta algum poderia ter vaticinado algo que não se referisse ao Filho de Deus”.’8 Ambos não somente ratificam que Jesus é o Messias, mas dão o peso de seu testemunho também aos anúncios da Paixão. A conversa que empreenderam com Ele diz respeito à sua morte e, todavia, os três se encontravam envoltos na glória, a qual revela o fim último: ressurreição e corpo glorioso. “A conversa de Jesus com Moisés e Elias versa exatamente sobre os tormentos que Cristo vai padecer logo em Jerusalém. A Transfiguração, portanto, é a consagração de Jesus para a Cruz e para a morte”.’9 Numa harmoniosa junção, concebível apenas pela inteligência do próprio Deus, unem-se neste episódio dor e glória, conforme recorda São Leão Magno: “Era necessário que os Apóstolos tivessem no coração uma noção clara dessa vigorosa e bem-aventurada fortaleza, e que não tremessem perante a rudeza da cruz que teriam de carregar; seria preciso que não se envergonhassem do suplício de Cristo’ nem considerassem humilhante para Ele a paciência com que deveria padecer os rigores de sua Paixão, sem perder a glória de seu poder”.10

Continua no próximo post.

      2CCE 1819.
2    3Cf. COLUNGA, OP, Alberto; GARCÍA CORDERO, OP, Maximiliano. Biblia Comentada. Pentateuco. Madrid: BAC, 1960, v.1, p.192.
3    4MOLLAT, SJ, Donatien. Velar. In: LEON-DUFOUR, op. cit., p.925.
     5SAO TOMAS DE AQUINO. Epistolam Sancti PauliApostoli ad Philippenses expositio. C.III, lect.3.
5   6) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.14, al, ad 2.
6   7) GARRIGOU-LAGRANGE, OP. Réginald. L’Etemelle vie et la profondeur de l’âme. Paris: Desclée de Brouwer, 1953, p.25.
1   8) Cf. SAO TOMAS DE AQUINO. In Symbolum Apostoloruni. Art.11.
2    9) Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, op. cit., p.332-333.
    10) SANTO AGOSTINHO. De Civitate Dei. L.XV, c.2. In: Obras. Madrid: BAC, 1958, v.XVI-XVII, p.998.




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