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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum Lc 5 1-11 - Ano C 2013

Continuação dos comentários ao Evangelho Lc 5 1-11  5º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013
A humildade, condição para corresponder ao chamado
8 Ao ver aquilo, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” E que o espanto se apoderara de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer.10a Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados.
Embora Pedro já tivesse presenciado outros milagres — inclusive a cura de sua sogra (cf. Lc 4, 38-39) —, ficou de fato impressionado diante do acontecido. E este é outro aspecto da pedagogia usada pelo Redentor: adaptar o chamado ao modo de ser e às aptidões de cada pessoa. “Era o milagre que faltava para convencer um pescador, como era Simão Pedro”,5 comenta o padre Cantalamessa. Por essa mesma razão São Lucas nomeia Tiago e João, entre os outros pescadores, para assinalar como o ocorrido lhes tocara fundo a alma, pois, apesar de haverem testemunhado em outras ocasiões diversos prodígios do Mestre, “também ficaram espantados”.
Pouco antes de retornar à Galileia, Jesus agira de forma semelhante à beira do poço de Jacó, ao oferecer à samaritana uma água que a saciaria para sempre (cf. Jo 4, 1-42). 0 assunto logo despertou a atenção da mulher: “Senhor, dá-me dessa água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la!” (Jo 4, 15) e, abrindo a alma à ação da graça, após esse encontro tornou-se propagadora de Nosso Senhor entre seus concidadãos, levando muitos samaritanos a crerem n’Ele.
No caso de Pedro, só nesse momento ele compreendeu a fundo a infinita diferença que o separava de Cristo, cuja grandeza a descomunal pesca evidenciava de modo particular a seus olhos de pescador. Veio-lhe, então, o imediato reconhecimento da própria insuficiência e, sentindo-se analisado pelo olhar de Jesus, percebeu em que medida Ele conhecia por inteiro o fundo de sua alma, bem como suas faltas. Compenetrado dessa condição de pecador, prostrou-se diante do Homem-Deus e pediu que dele se afastasse. Não cogitava ser tal manifestação de humildade o último precedente da missão que o aproximaria do Salvador de modo definitivo.
Pescador de homens
10b Jesus porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”.
Relacionando pela primeira vez o milagre com o chamado, o Mestre tranquilizou Pedro, “como se dissesse: Não te espantes, mas alegra-te e crê que estás designado por minha Providência a uma pesca superior. Outra barca e outras redes te serão dadas, porque até agora pescavas peixes com tuas redes, mas doravante, e em breve, pescarás homens através de tuas palavras, trazendo-os pela sã doutrina ao caminho da salvação”.6
Convém notar que, associando o conceito de pesca ao apostolado, Jesus também deixava entrever a Pedro e a seus companheiros como “esse penoso ofício havia sido excelente escola de preparação para serem dignos discípulos do Messias. Nele haviam aprendido a paciência e o animoso trabalhar”,7 observa Fillion. Com efeito, do mesmo modo que para obter peixes não temiam os perigos da noite e os demais contratempos da profissão, também audazes deveriam ser enquanto missionários, arriscando-se aos mais ousados lances de evangelização. Ademais, na pesca apostólica, cujas redes “impedem que pereçam os que foram colhidos, mas os conservam e os trazem do abismo até à luz”,8 nunca deveriam desanimar, mesmo após muito se empenharem sem nada obter, sabendo esperar o momento propício para o agir da graça nas almas, o qual não depende dos esforços do apóstolo, mas, sim, da vontade de Deus.
Importante é ressaltar não ter Nosso Senhor confirmado nem negado a condição de pecador de Pedro, visando mostrar-lhe que Deus jamais outorga uma vocação em função das virtudes ou defeitos dos homens, conhecidos por Ele desde toda a eternidade. Um chamado resulta de um desígnio de sua infinita misericórdia. Jesus não se atém à consideração das fraquezas de Pedro, pois assim como elas não constituíram impedimento para sua escolha como Príncipe dos Apóstolos, também não o seriam para a realização de tal missão.
Continua no próximo post.


5) CANTALAMESSA, OFMCap, Raniero. Echad ias redes. Reflexiones sobre los Evangelios. Ciclo C. Valencia: Edicep, 2003, p.196.
6) GARCÍA MATEO, SJ, Rogelio. El misterio de la vida de Cristo en los ejercicios ignacianos y en el “Vita Christi” Cartujano, de Ludoif von Sachsen. Antología de Textos. Madrid: BAC, 2002, p.103.
7) FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp, 2000, v.11, p.23. “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens” (Lc 5, 10)
8) SANTO AMBROSIO. Tratado sobre el Evangelio de San Lucas. LIV, n.72. In: Obras. Madrid: BAC, 1966, vi, p.227.

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